segunda-feira, 11 de julho de 2022

A dolorosa morte do jornalista Raul Varassin, Construindo Resistência, por Por Simão Zygband

 Muito duro e doído ter que noticiar a morte de meu grande amigo Raul Varassin, um jornalista das antigas muito querido pelos colegas. É aquele tipo de notícia que nós, profissionais de comunicação, jamais gostaríamos de dar. Mas também faz parte da profissão, mesmo sendo de pessoa tão próxima.

A morte de um grande amigo só não é pior da de uma mãe, de um pai, de um filho ou de um parente próximo. Mas dói profundamente quando esta pessoa foi praticamente seu mentor, um professor na difícil arte arte de fazer jornalismo. Ele faleceu às 11 horas deste domingo, em um hospital de Curitiba, vítima de insuficiência renal. Também apresentava quadro de Covid. Teve que ser entubado e sedado. Resistiu o quanto pode com quadro tão adverso. Seu velório e sepultamento, ocorrerá em Curitiba.(Velório: 11/07 das 7h-15h
Memorial Luto Curitiba Sala Ipê
Av Presidente Kennedy 1013 – Rebouças e sepultamento às 16h30 Cemitério do Parque Iguaçu – rua Nicolau José Gravina, 292 – Cascatinha)

Varassin, o Vareta como os mais próximos o tratavam carinhosamente, foi um dos criadores do Jornal Nacional, dirigiu o departamento de Jornalismo da TV Globo em quatro estados brasileiros (Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e Paraná) e teve a honra de ser contratado por Vladimir Herzog na TV Cultura de São Paulo. Foi ainda chefe de reportagem no SBT, TV Manchete e TV Record. Trabalhou no Palácio Iguaçu nos tempos do governador Álvaro Dias e foi um dos chefes da campanha vitoriosa de Roberto Requião no Paraná, em 1990.

Não gostaria de me alongar muito pois estou bastante impactado com a morte dele. Já sabia que ela ocorreria há qualquer momento, mas sempre há uma esperança. Enfim, conforme me relatou a sua filha, Alexandra, a sua morte foi serena, ele que muito dificilmente esteve sereno, pois era um jornalista pulsante, combativo, contestador, com um humor cáustico inigualável.

Conheci-o como meu chefe de reportagem no extinto Diário Popular e logo travamos intensa amizade.  O jornal era dirigido por um militar, o general Mouziul, ainda no período da ditadura, que já começava a cair. Por um motivo que não me recordo bem, Mouziul decidiu dar uma advertência ao Varassin. Ao sair da sala do diretor, ele simplesmente pegou sua pasta e foi embora dizendo indignado: “Eu não sou moleque para tomar advertência, ainda mais de um general. Passem bem”.

Quero aqui prestar minha solidariedade aos filhos do Varassin (Alexandra, Raul Jr., Isabela e Cláudia) e aos seus vários netos e desejar-lhes que tenham muita força nesta hora. Saiba que o Varassin é, foi e será um  patrimônio da nossa profissão, orgulho de quem teve o prazer de conviver com ele.

Aproveito para reproduzir um texto que o Varassin escreveu para o Construir Resistência, com certeza um dos últimos dele:

“Não é porque sou do “Sem Dinheiro Luminoso” que não pago as promessas que faço. Uma delas era escrever mais um texto para o Construir Resistência. Vou começar pela mais curta. O caso do delegado Sergio Paranhos Fleury, diretor geral do DOPS/SP – Delegacia de Ordem Politica e Social de São Paulo.

Até hoje não ficou esclarecido se foi acidente ou queima de arquivo a morte de Fleury em Ilhabela. Isso porque ele era conhecedor de segredos, não só da esquerda como da direita.
Delegado truculento, torturador, suspeito de assassinatos. odiado em muitas áreas até por policiais, e amado nos círculos mais violentos do regime militar, Sergio Paranhos Fleury costumava passar os fins de semana, quando fazia bom tempo, na agradável Ilhabela a bordo do seu iate de 27 pés, regado a boas bebidas e boas meninas.
Acontece que no dia 1 de maio de l979, já no final da tarde, quando se preparava para voltar a São Sebastião, o delegado caiu no mar e morreu afogado. Muito embora fosse bom nadador e houvesse pessoas no barco que pudessem socorrê-lo.
Em seguida, a imprensa silenciou sobre o acidente e até hoje não houve conclusão das investigações sobre o caso.
Interferência na TV Cultura
A Fundação Padre Anchieta, que abriga a rádio e a televisão Cultura do Estado de São Paulo foi criada em l968 pelo governador Roberto de Abreu Sodré. Passou pelo seu governo e pelo governo de Franco Montoro, sem interferência.
No governo de Orestes Quércia  começaram as investidas, muito embora o Conselho Curador da Fundação denunciasse e o jornal O Estado de São Paulo cobrisse.
Mas foi no governo Paulo Maluf que a Rádio e Tv Cultura passaram a ser  objetivamente assessorias de imprensa e propaganda do governador. Inclusive, cobrindo suas viagens ao exterior e os mínimos atos administrativos no interior do Estado. Coisas que outras emissoras não faziam.
Perdeu sua característica principal e passou a ser órgão de propaganda do governador. Já ele então com ambições politicas mais altas.
Seus funcionários eram monitorados pelos homens do governador no Palácio dos Bandeirantes, inclusive com punições, suspensões de quem não seguisse a linha do governador.
A coisa foi-se agravando de tal forma que no final do governo, a emissora, que já tivera uma imagem boa, comparada à BBC de Londres, passou a ficar desacreditada.
E só veio a recuperar um pouco sua credibilidade nas gestões do promotor Rui Nogueira Martins e do professor Antonio Soares Amora.
É isso! quer mais?”
Raul Varassin, Presente. Hoje e Sempre!

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