Ivan Lessa (1935-2012), jornalista, escritor, fã de Billy Eckstine e informal pensador social, foi autor nos anos 1970 de frases que nos fazem dolorosamente entender o que somos e por quê. Uma: "De 15 em 15 anos, o Brasil esquece o que aconteceu nos 15 anos anteriores." Outra: "O brasileiro é um povo com os pés no chão. E as mãos também." E, quando os militares bradaram "Brasil, ame-o ou deixe-o", Ivan completou: "O último a sair apague a luz do aeroporto."
Ninguém mais crítico da nossa realidade do que Ivan. "O Brasil tem 8.511.965 quilômetros quadrados por sete palmos de profundidade." "Três em cada cinco índios são cada vez mais um só. Os outros dois também." "Amar é... ser a primeira a reconhecer o corpo dele no Instituto Médico Legal." "Cada vez que um nordestino não consegue dar de comer aos filhos, alguém o acusa de alimentar debates estéreis." "Todo cidadão tem o direito de ser presumido culpado até que sua execução seja efetuada."
"Se Deus é brasileiro, então tudo é permitido aos estrangeiros." "Em São Paulo, área de lazer é como eles chamam o resto do país." "Nunca conte com o ovo no cu de uma galinha brasileira." "Num país em que o futuro a Deus pertence, os agnósticos perguntam: ‘E o passado? Quem vai se responsabilizar por ele?’". "Baiano não dá bandeira. Hasteia." E o famoso "Baiano não nasce. Estreia."
Quem mais sofisticado para descobrir novos sentidos nas frases feitas? "Na Idade da Pedra, todas as frases eram lapidares." "A morte é um estado de espírito." "Marat e Charlotte Corday inventaram o banho de sangue." "Freud, ao morrer, descobriu o que havia além do princípio do prazer." "O sol nasce para todos. Já o crepúsculo é meio classe média." "A relatividade é a forma mais elevada de absolutismo." "A terra de ninguém é sempre disputada por duas ou mais facções."
E, já antevendo o futuro próximo, "Num estado de direito, nem sempre a esquerda é sinistra."
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