A região do túnel da Mantiqueira, com quase um quilômetro de extensão e que divide São Paulo de Minas Gerais, foi um dos mais relevantes locais de conflitos na Revolução Constitucionalista de 1932, que completa 90 anos neste sábado (9) e é alvo de um projeto em andamento que tem como objetivo recriar a ferrovia que ligava os dois estados.
Pesquisadores apontam o registro de centenas de mortes de combatentes na região, inclusive a do tenente-coronel Fulgêncio de Souza Santos, então comandante do 7º Batalhão da Força Pública de Minas Gerais.
O 9 de julho marca o início da Revolução Constitucionalista, uma revolta que São Paulo organizou contra o governo de Getúlio Vargas (1930-1945). Os paulistas queriam uma nova Constituição para o país, o que Vargas não admitia em hipótese alguma.
A data é considerada feriado estadual desde 1997, quando Mário Covas (1930-2001), então governador, assinou o projeto de lei 9.497.
O túnel de 998 metros, essencial na revolução, é o principal ponto de um roteiro ferroviário que está em andamento a partir de Cruzeiro (a 219 km de São Paulo), cidade do lado paulista do túnel.
Nela, a ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) precisou até desenterrar trilhos para recriar a rota que prevê a ligação com Passa Quatro, vizinho município já em Minas Gerais.
Foram desenterrados cerca de 300 metros de trilhos da linha principal na área urbana, num trabalho essencialmente manual, para evitar mais danos à linha férrea.
Até aqui, já foram recriados cerca de quatro quilômetros de trilhos, em operações prejudicadas por conta da pandemia da Covid-19 e também pela temporada de chuvas no último verão.
A meta da associação é, até o final do ano, chegar à estação Rufino de Almeida, o que significa mais dois quilômetros de avanço rumo ao túnel da Mantiqueira, num trajeto total de 25 quilômetros e que ligaria São Paulo à rota turística já existente na cidade mineira.
O trecho até Rufino de Almeida é apontado como o mais bonito e ao mesmo tempo complexo da antiga Estrada de Ferro Minas e Rio. O trecho é plano, mas como corta toda a cidade tem locais às margens dos trilhos que foram invadidos.
"Concluindo essa meta para 2022, a ideia é ano que vem começar o trecho de subida da Serra da Mantiqueira rumo ao túnel", disse o presidente da ABPF, Bruno Crivelari Sanches.
O túnel Grande, de 998 m de extensão, conta muito da história da Revolução de 1932. Do lado mineiro, a região da linha férrea foi cenário de uma batalha sangrenta entre as forças paulistas e as tropas federais.
Os registros indicam que o tenente-coronel Fulgêncio morreu perto do túnel quando tropas paulistas tentaram invadir Passa Quatro.
O túnel entre os dois estados era estratégico por ser o meio de transporte de tropas para regiões de conflitos e por ter sido bloqueado por uma locomotiva no lado paulista com o objetivo de impedir o avanço de tropas inimigas.
Coronel Fulgêncio batizou a estação, que até então se chamava Túnel e que ficou abandonada entre os anos 1970 e 2004, quando a ABPF a assumiu e a restaurou.
No período de obras, em meio ao mato alto que dominava o local, foram encontradas cápsulas e objetos que supostamente foram utilizados no período da revolução.
Fulgêncio empresta o nome a uma estação ferroviária na cidade mineira e também, desde 1985, a uma medalha do mérito entregue pela Polícia Militar de Minas Gerais para homenagear integrantes da PM, instituições e personalidades por serviços relevantes.
Quando a ferrovia alcançar o túnel, vai conectar com o trecho de 10 quilômetros que já opera em Passa Quatro, totalizando uma rota de 35 quilômetros.
O projeto é feito com parcerias, como uma com a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que doou 3.000 dormentes que estão sendo utilizados atualmente e são suficientes para o ressurgimento de mais dois quilômetros de trilhos.
"Esperamos que, nos próximos anos, possamos comemorar [o 9 de Julho] com trem no túnel", disse Sanches.
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