A sociedade brasileira tem pouco interesse em discutir a descriminalização da maconha, diz o historiador Jean Marcel Carvalho França, e isso explica mais a falta de avanços nesse tema que o conservadorismo da população do país.
Professor da Unesp de Franca, ele é autor de "História da Maconha no Brasil", que ganha agora uma nova edição pela Jandaíra. O livro aponta o enraizamento do consumo da cânabis no cotidiano dos brasileiros, principalmente negros e pobres, desde o século 18.
No episódio desta semana, o pesquisador discutiu como os movimentos proibicionistas, que ganharam impulso no começo do século 20, difundiram discursos alarmistas e construíram uma imagem negativa dos usuários da maconha, que, em alguma medida, perdura até hoje.
França também defendeu que o debate sobre os usos da maconha deve ser mais pragmático, balanceando os potenciais terapêuticos e os possíveis custos sociais relacionados ao seu consumo, e criticou a ampliação do acesso à cânabis por meio de decisões judiciais, não de um debate público mais amplo.
Desde o século 19, sabia-se que o brasileiro usava a cânabis como uma erva para múltiplas doenças e que os velhinhos tinham em casa plantada para eventualmente tomar um chá calmante. A partir de 1830, começou a preocupação se isso não tinha um efeito sobre a mão de obra escrava, do ponto de vista do rendimento do trabalho. Isso é muito diferente do que vai acontecer a partir do início do século 20, quando se associa a maconha à criminalidade e se esvazia seu potencial médico
PARA SE APROFUNDAR
Jean Marcel Carvalho França indica
"Nordeste", de Gilberto Freyre, sobre os usos cotidianos da maconha
- "Os Intelectuais e a Sociedade", de Thomas Sowell
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