Após submeter várias cidades-estado da Grécia, Filipe da Macedônia teria indagado aos líderes de Esparta se eles o receberiam como amigo ou inimigo. Nenhum dos dois, responderam. Irritado, enviou uma nova mensagem: “Se eu invadir a Lacônia, irei destruí-los”. Os espartanos responderam com uma palavra: Se.
O efeito literário da brevidade apreende-se em passagens como essa, encontrada em Plutarco. Seu efeito salutar para a vida é percebido com igual facilidade. Por exemplo, nas ocasiões - raras, mas atestadas - em que uma reunião acaba antes do previsto, todos os itens de pauta satisfatoriamente encaminhados. A memória involuntária nos faz reviver o prazer juvenil de descobrir que as aulas foram suspensas e teremos a tarde livre para olhar os lírios dos campos, seguir um batalhão de fuzileiros ou chutar tampinhas.
Admiradores de Montaigne, Proust e Nava sabem que digressões podem ser ocasiões de sublimes descobertas, como ao deixar a rodovia principal para visitar uma capela setecentista perdida em algum pasto mineiro. Menos interessante é a sensação de que o ônibus fará um longo desvio por estradas ruins em razão da queda de uma barreira, e nos atrasaremos para o compromisso importante ou o retorno ao lar. É o pesadelo da falta de objetividade, o mesmo que nos provocam os discursadores de reuniões e os escritores frios e empolados.
Ler passagens inúteis ou frases sobrecarregadas de filler words é uma experiência à qual rotineiramente nos submetemos como avaliadores de trabalhos acadêmicos, nem sempre conscientes de que incorremos no mesmo erro em nossa escrita. Em nosso métier, a objetividade é uma virtude a ser conquistada palmo a palmo. Ela é obtida por um processo - a edição do texto - hoje facilitado pela tecnologia; mas tal processo será sempre laborioso. “O que se escreve com facilidade lê-se com dificuldade, e vice-versa” seria a primeira máxima a memorizar (a segunda: "quem não souber cortar nunca saberá escrever"). Editar o próprio texto é uma tarefa incansável, a ser delegada, a partir de certo ponto, ao amigo atento ou a um profissional. O bom amigo será impiedoso, quando convocado a colaborar na faina de simplificar nossa escrita. O bom profissional deve ser igualmente incisivo. Pensando nesses casos, formulei as considerações abaixo.
Um texto se beneficia de uma linguagem correta, clara e concisa. Podemos pensar em quatro etapas para uma revisão eficiente, cada uma com um propósito específico.
1. Em um nível mais básico, trata-se de observar detalhes de digitação e parâmetros consensuais de formatação, como margens, tipologia, maiúsculas, itálicos, etc.
2. A vernaculidade implica a adequação às normas ortográficas, verificação de concordância e regência, uso correto da crase, pontuação etc. A norma padrão deve ser pensada com vistas à clareza do texto: sem obsessões puristas, mas com atenção ao que pode produzir ruídos na leitura.
3. Sendo a clareza o parâmetro principal, o revisor deve tentar neutralizar tudo aquilo que possa prejudicar a compreensão, a começar pelos desvios normativos aludidos. Cabe evitar construções ambíguas ou pouco fluentes, comuns em períodos muito longos, e um vocabulário impreciso ou demasiadamente especializado. Colabora de modo especial para um discurso inteligível a escolha consciente de termos correntes e pertinentes (usitatis uerbis et propriis). Correntes seriam os termos presentes na linguagem cotidiana; pertinentes, os que pertencem de modo especial ao assunto de que tratamos. Deve-se tentar encontrar um termo preciso porém acessível ao leitor. Por exemplo, dizer que um professor “participou” de uma pesquisa com medicamentos não é tão adequado quanto dizer que ele “colaborou” com ela (distinguindo-o dos voluntários que testaram o medicamento). Áreas científicas dependem de um léxico muito específico, que torna possível descrever seus aspectos técnicos; o leitor assimila mais facilmente essa dimensão específica quando o autor efetua a mediação entre o vocabulário técnico e uma terminologia mais usual, por meio de apostos, notas, etc.
4. Observe-se que um vocabulário pertinente pode conferir força ao texto. Assim, dizemos que o navio zarpou (e não partiu) após içadas as velas (não terem sido levantadas) etc. O vocabulário adequado também pode promover economia. No lugar de dizer que fulano “conversou com alguém para convencê-lo a não fazer algo”, pode-se dizer que ele “o dissuadiu” ou “o demoveu”. Outros exemplos: “os soldados marcharam” (andaram em formação), “fulano foi conivente com o ato” (não participou dele, mas tampouco o impediu), “alguém desplugou o cabo” (tirou-o da tomada) etc.
Pode-se obter brevidade eliminando frases. Se digo que voltei de um lugar, se entenderá que partira para lá. No lugar de narrar um evento com frases separadas, repetindo elementos, pode-se agrupá-las em um mesmo período.
- “À tarde, Simão veio de Atenas a Megara; quando chegou a Megara, preparou uma cilada para a donzela; depois que preparou a cilada, tomou-a à força ali mesmo” (28 palavras).
- “Tendo vindo à tarde de Atenas para Megara, Simão preparou uma cilada à donzela e ali mesmo a tomou à força” (21 palavras).
O exemplo acima veio da Retórica a Herênio V (I. a.C). A diferença no número de palavras (7) pode parecer pequena, mas corresponde a 25% do trecho. Vejamos aquele proposto por W. Strunk e E. B. White (Elements of Style, 1935):
- “Macbeth era muito ambicioso. Isso o fez desejar ser rei da Escócia. As bruxas contaram a ele que esse desejo se realizaria. O rei da Escócia à época era Duncan. Encorajado por sua esposa, Macbeth assassinou Duncan. Isso tornou possível a ele, então, suceder a Duncan como rei.” (48 palavras)
- “Encorajado por sua esposa, Macbeth realizou sua ambição e a predição das bruxas, assassinando Duncan e tornando-se rei da Escócia em seu lugar.” (23)
O discurso ganha se contido pelas balizas do necessário e do suficiente: a falta o deixa incompleto, o excesso obscurece o assunto. Um defeito compromete a integridade do texto, o outro, sua clareza. "E é preferível deixar de lado não só o que atrapalha, mas também aquilo que, mesmo não atrapalhando, em nada ajuda” (Retórica a Herênio). Strunk e White fornecem o mantra do escritor que aspira à eficácia: OMIT NEEDLESS WORDS. Citemos o trecho mais amplamente:
“Omita palavras desnecessárias – Uma escrita vigorosa é concisa. Uma sentença não deve conter palavras desnecessárias, um parágrafo não deve conter sentenças desnecessárias, pela mesma razão que um desenho não deve conter linhas desnecessárias e uma máquina, peças desnecessárias. Isso não nos obriga a usar apenas sentenças curtas, ou evitar detalhes, abordando os temas apenas em linhas gerais, mas a ter consciência de que cada palavra conta. Muitas expressões de uso comum violam esse princípio.
não há qualquer dúvida de que | sem dúvida que |
usado com o objetivo de | usado para |
de uma maneira apressada | apressadamente |
esse é um tema que | esse tema |
sua situação era uma situação estranha | sua situação era estranha |
a razão disso é que | porque |
A expressão “o fato que” é especialmente enfraquecedora.
devido ao fato que | uma vez que |
a despeito do fato de que | apesar de |
chamar a atenção dele para o fato que | lembrá-lo que |
estava ciente do fato de | sabia que |
o fato de que ele não tenha sido bem-sucedido | seu fracasso |
o fato de que eu tivesse chegado | minha chegada |
“É importante destacar que…” e similares são expressões ordinariamente desnecessárias. A própria informação em si, quando notável, já produzirá destaque suficiente.
“É importante destacar que, além desse estudo recentemente publicado, a pesquisadora participa de outros quatro estudos de terapia gênica …”
“Além do estudo publicado, a pesquisadora colabora com outros quatro estudos de terapia gênica …”
***
Brevity is the soul of wit. Shakespeare, Hamlet.
Muitos escritores fizeram o elogio da brevidade. Cito alguns:
“Lo bueno, si breve, dos veces bueno. Y aún lo malo, si poco, no tan malo”. Gracián, Oráculo Manual.
“A verdadeira eloquência consiste em dizer tudo aquilo que é necessário, e apenas o que é necessário.” La Rochefoucauld, Máximas.
“Contra os que censuram a brevidade. Algo dito brevemente pode ser produto e colheita do que foi longamente pensado”. Nietzsche, Humano, demasiado humano, af. 127.
“Ao fazer a revisão, corte, onde possível, os atributos dos substantivos e verbos. Você coloca tantos atributos que fica difícil para a atenção do leitor não se perder, e ele se cansa. É compreensível quando escrevo: ‘o homem sentou-se na grama’; é compreensível por ser claro e não reter a atenção. Ao contrário, é pouco inteligível e pesado para o cérebro se escrevo: ‘um homem alto, de peito cavado, porte discreto e barbicha ruiva sentou-se na grama verde, já pisoteada pelos transeuntes; sentou-se sem fazer ruído, olhando tímida e temerosamente à sua volta.’ Isso demora a entrar no cérebro, e a literatura deve entrar imediatamente, num átimo”. Tchékhov, “Carta a Maksim Górki”.
“Haverá maior sinal de respeito ao leitor que o laconismo? Assumir um ar grave, explicar-se, demonstrar, meras marcas de vulgaridade. Quem aspira à elegância não deve temer a esterilidade, antes empenhar-se nesse sentido, sabotar as palavras em nome da Palavra, causar o mínimo prejuízo ao silêncio, não se afastar dele senão para nele melhor reimergir”. Cioran, Antologia do Retrato.
Nossas mentes estão saturadas; nosso tempo é curto e as distrações, muitas. A brevidade, diz Joseph MacCormack (The Brief Lab), é a corda que se lança a alguém que naufraga em um mar de estímulos comunicativos. Em um texto, ela deve estar acima de todas as considerações de segunda ordem, implicadas, por exemplo, em formas como “os alunos e as alunas”. Por que usá-las, se todos os gêneros, como sabemos, estão contemplados no plural costumeiramente empregado em português? Essa duplicação inútil produz ainda um outro ruído, o do egocentrismo do autor - seu desejo de registrar uma postura ideológica. Se você quer fazer campanha pela igualdade, use o espaço adequado - o panfleto -, e lembre-se que, como no texto acadêmico ou jornalístico, o leitor será sensível ao grau máximo de clareza e brevidade. Se você quer ser contundente, seja breve, pois as palavras são como os raios do Sol: quanto mais condensadas, mais intensamente ardem (Robert Southey).
***
*Alexandre Soares Carneiro é professor assistente doutor do Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL).
** Nascido em Campinas, Thomaz Perina reelabora sua arte em sentido mais abstrato após a 1ª Bienal de Arte de São Paulo (1951), inspirado em artistas como Picasso e Max Bill. "Eu quero o mínimo para falar", dizia ele, sintetizando sua técnica. No final de sua carreira, passou a adotar a reta e o círculo como os elementos essenciais de sua obra. Com isso, consegue ser simples, sintético, sem excessos.Após submeter várias cidades-estado da Grécia, Filipe da Macedônia teria indagado aos líderes de Esparta se eles o receberiam como amigo ou inimigo. Nenhum dos dois, responderam. Irritado, enviou uma nova mensagem: “Se eu invadir a Lacônia, irei destruí-los”. Os espartanos responderam com uma palavra: Se.
O efeito literário da brevidade apreende-se em passagens como essa, encontrada em Plutarco. Seu efeito salutar para a vida é percebido com igual facilidade. Por exemplo, nas ocasiões - raras, mas atestadas - em que uma reunião acaba antes do previsto, todos os itens de pauta satisfatoriamente encaminhados. A memória involuntária nos faz reviver o prazer juvenil de descobrir que as aulas foram suspensas e teremos a tarde livre para olhar os lírios dos campos, seguir um batalhão de fuzileiros ou chutar tampinhas.
Admiradores de Montaigne, Proust e Nava sabem que digressões podem ser ocasiões de sublimes descobertas, como ao deixar a rodovia principal para visitar uma capela setecentista perdida em algum pasto mineiro. Menos interessante é a sensação de que o ônibus fará um longo desvio por estradas ruins em razão da queda de uma barreira, e nos atrasaremos para o compromisso importante ou o retorno ao lar. É o pesadelo da falta de objetividade, o mesmo que nos provocam os discursadores de reuniões e os escritores frios e empolados.
Ler passagens inúteis ou frases sobrecarregadas de filler words é uma experiência à qual rotineiramente nos submetemos como avaliadores de trabalhos acadêmicos, nem sempre conscientes de que incorremos no mesmo erro em nossa escrita. Em nosso métier, a objetividade é uma virtude a ser conquistada palmo a palmo. Ela é obtida por um processo - a edição do texto - hoje facilitado pela tecnologia; mas tal processo será sempre laborioso. “O que se escreve com facilidade lê-se com dificuldade, e vice-versa” seria a primeira máxima a memorizar (a segunda: "quem não souber cortar nunca saberá escrever"). Editar o próprio texto é uma tarefa incansável, a ser delegada, a partir de certo ponto, ao amigo atento ou a um profissional. O bom amigo será impiedoso, quando convocado a colaborar na faina de simplificar nossa escrita. O bom profissional deve ser igualmente incisivo. Pensando nesses casos, formulei as considerações abaixo.
Um texto se beneficia de uma linguagem correta, clara e concisa. Podemos pensar em quatro etapas para uma revisão eficiente, cada uma com um propósito específico.
1. Em um nível mais básico, trata-se de observar detalhes de digitação e parâmetros consensuais de formatação, como margens, tipologia, maiúsculas, itálicos, etc.
2. A vernaculidade implica a adequação às normas ortográficas, verificação de concordância e regência, uso correto da crase, pontuação etc. A norma padrão deve ser pensada com vistas à clareza do texto: sem obsessões puristas, mas com atenção ao que pode produzir ruídos na leitura.
3. Sendo a clareza o parâmetro principal, o revisor deve tentar neutralizar tudo aquilo que possa prejudicar a compreensão, a começar pelos desvios normativos aludidos. Cabe evitar construções ambíguas ou pouco fluentes, comuns em períodos muito longos, e um vocabulário impreciso ou demasiadamente especializado. Colabora de modo especial para um discurso inteligível a escolha consciente de termos correntes e pertinentes (usitatis uerbis et propriis). Correntes seriam os termos presentes na linguagem cotidiana; pertinentes, os que pertencem de modo especial ao assunto de que tratamos. Deve-se tentar encontrar um termo preciso porém acessível ao leitor. Por exemplo, dizer que um professor “participou” de uma pesquisa com medicamentos não é tão adequado quanto dizer que ele “colaborou” com ela (distinguindo-o dos voluntários que testaram o medicamento). Áreas científicas dependem de um léxico muito específico, que torna possível descrever seus aspectos técnicos; o leitor assimila mais facilmente essa dimensão específica quando o autor efetua a mediação entre o vocabulário técnico e uma terminologia mais usual, por meio de apostos, notas, etc.
4. Observe-se que um vocabulário pertinente pode conferir força ao texto. Assim, dizemos que o navio zarpou (e não partiu) após içadas as velas (não terem sido levantadas) etc. O vocabulário adequado também pode promover economia. No lugar de dizer que fulano “conversou com alguém para convencê-lo a não fazer algo”, pode-se dizer que ele “o dissuadiu” ou “o demoveu”. Outros exemplos: “os soldados marcharam” (andaram em formação), “fulano foi conivente com o ato” (não participou dele, mas tampouco o impediu), “alguém desplugou o cabo” (tirou-o da tomada) etc.
Pode-se obter brevidade eliminando frases. Se digo que voltei de um lugar, se entenderá que partira para lá. No lugar de narrar um evento com frases separadas, repetindo elementos, pode-se agrupá-las em um mesmo período.
- “À tarde, Simão veio de Atenas a Megara; quando chegou a Megara, preparou uma cilada para a donzela; depois que preparou a cilada, tomou-a à força ali mesmo” (28 palavras).
- “Tendo vindo à tarde de Atenas para Megara, Simão preparou uma cilada à donzela e ali mesmo a tomou à força” (21 palavras).
O exemplo acima veio da Retórica a Herênio V (I. a.C). A diferença no número de palavras (7) pode parecer pequena, mas corresponde a 25% do trecho. Vejamos aquele proposto por W. Strunk e E. B. White (Elements of Style, 1935):
- “Macbeth era muito ambicioso. Isso o fez desejar ser rei da Escócia. As bruxas contaram a ele que esse desejo se realizaria. O rei da Escócia à época era Duncan. Encorajado por sua esposa, Macbeth assassinou Duncan. Isso tornou possível a ele, então, suceder a Duncan como rei.” (48 palavras)
- “Encorajado por sua esposa, Macbeth realizou sua ambição e a predição das bruxas, assassinando Duncan e tornando-se rei da Escócia em seu lugar.” (23)
O discurso ganha se contido pelas balizas do necessário e do suficiente: a falta o deixa incompleto, o excesso obscurece o assunto. Um defeito compromete a integridade do texto, o outro, sua clareza. "E é preferível deixar de lado não só o que atrapalha, mas também aquilo que, mesmo não atrapalhando, em nada ajuda” (Retórica a Herênio). Strunk e White fornecem o mantra do escritor que aspira à eficácia: OMIT NEEDLESS WORDS. Citemos o trecho mais amplamente:
“Omita palavras desnecessárias – Uma escrita vigorosa é concisa. Uma sentença não deve conter palavras desnecessárias, um parágrafo não deve conter sentenças desnecessárias, pela mesma razão que um desenho não deve conter linhas desnecessárias e uma máquina, peças desnecessárias. Isso não nos obriga a usar apenas sentenças curtas, ou evitar detalhes, abordando os temas apenas em linhas gerais, mas a ter consciência de que cada palavra conta. Muitas expressões de uso comum violam esse princípio.
não há qualquer dúvida de que | sem dúvida que |
usado com o objetivo de | usado para |
de uma maneira apressada | apressadamente |
esse é um tema que | esse tema |
sua situação era uma situação estranha | sua situação era estranha |
a razão disso é que | porque |
A expressão “o fato que” é especialmente enfraquecedora.
devido ao fato que | uma vez que |
a despeito do fato de que | apesar de |
chamar a atenção dele para o fato que | lembrá-lo que |
estava ciente do fato de | sabia que |
o fato de que ele não tenha sido bem-sucedido | seu fracasso |
o fato de que eu tivesse chegado | minha chegada |
“É importante destacar que…” e similares são expressões ordinariamente desnecessárias. A própria informação em si, quando notável, já produzirá destaque suficiente.
“É importante destacar que, além desse estudo recentemente publicado, a pesquisadora participa de outros quatro estudos de terapia gênica …”
“Além do estudo publicado, a pesquisadora colabora com outros quatro estudos de terapia gênica …”
***
Brevity is the soul of wit. Shakespeare, Hamlet.
Muitos escritores fizeram o elogio da brevidade. Cito alguns:
“Lo bueno, si breve, dos veces bueno. Y aún lo malo, si poco, no tan malo”. Gracián, Oráculo Manual.
“A verdadeira eloquência consiste em dizer tudo aquilo que é necessário, e apenas o que é necessário.” La Rochefoucauld, Máximas.
“Contra os que censuram a brevidade. Algo dito brevemente pode ser produto e colheita do que foi longamente pensado”. Nietzsche, Humano, demasiado humano, af. 127.
“Ao fazer a revisão, corte, onde possível, os atributos dos substantivos e verbos. Você coloca tantos atributos que fica difícil para a atenção do leitor não se perder, e ele se cansa. É compreensível quando escrevo: ‘o homem sentou-se na grama’; é compreensível por ser claro e não reter a atenção. Ao contrário, é pouco inteligível e pesado para o cérebro se escrevo: ‘um homem alto, de peito cavado, porte discreto e barbicha ruiva sentou-se na grama verde, já pisoteada pelos transeuntes; sentou-se sem fazer ruído, olhando tímida e temerosamente à sua volta.’ Isso demora a entrar no cérebro, e a literatura deve entrar imediatamente, num átimo”. Tchékhov, “Carta a Maksim Górki”.
“Haverá maior sinal de respeito ao leitor que o laconismo? Assumir um ar grave, explicar-se, demonstrar, meras marcas de vulgaridade. Quem aspira à elegância não deve temer a esterilidade, antes empenhar-se nesse sentido, sabotar as palavras em nome da Palavra, causar o mínimo prejuízo ao silêncio, não se afastar dele senão para nele melhor reimergir”. Cioran, Antologia do Retrato.
Nossas mentes estão saturadas; nosso tempo é curto e as distrações, muitas. A brevidade, diz Joseph MacCormack (The Brief Lab), é a corda que se lança a alguém que naufraga em um mar de estímulos comunicativos. Em um texto, ela deve estar acima de todas as considerações de segunda ordem, implicadas, por exemplo, em formas como “os alunos e as alunas”. Por que usá-las, se todos os gêneros, como sabemos, estão contemplados no plural costumeiramente empregado em português? Essa duplicação inútil produz ainda um outro ruído, o do egocentrismo do autor - seu desejo de registrar uma postura ideológica. Se você quer fazer campanha pela igualdade, use o espaço adequado - o panfleto -, e lembre-se que, como no texto acadêmico ou jornalístico, o leitor será sensível ao grau máximo de clareza e brevidade. Se você quer ser contundente, seja breve, pois as palavras são como os raios do Sol: quanto mais condensadas, mais intensamente ardem (Robert Southey).
***
*Alexandre Soares Carneiro é professor assistente doutor do Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL).
** Nascido em Campinas, Thomaz Perina reelabora sua arte em sentido mais abstrato após a 1ª Bienal de Arte de São Paulo (1951), inspirado em artistas como Picasso e Max Bill. "Eu quero o mínimo para falar", dizia ele, sintetizando sua técnica. No final de sua carreira, passou a adotar a reta e o círculo como os elementos essenciais de sua obra. Com isso, consegue ser simples, sintético, sem excessos.
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