Sofia Horbatow Gregorio tinha personalidade forte e carregava o modo imperativo na fala, mas seu grande coração abrigava a família, os amigos e todos aqueles que necessitassem de amparo.
"Passei por um término de relacionamento e tive que morar sozinho. Foi ela quem me esticou a mão para ajudar. As pessoas pouco chegavam nela para pedir ajuda, ela era proativa e se prontificava. Ela soube ser aquela pessoa que acalenta as dores", conta o relações-públicas Tiago Horbatow, 32, um dos netos.
Marcaram sua vida as boas palavras, o talento para a escrita e a culinária, a doçura e a generosidade.
Sofia era a terceira de cinco filhos de dois imigrantes que fugiram da guerra —a mãe deixou a Polônia, e o pai, a Ucrânia.
Natural de Curitiba, no Paraná, passou a maior parte da vida na Vila Maria, zona norte de São Paulo. Para trabalhar antes de atingir a maioridade, seu pai a registrou como se tivesse nascido dois anos antes, em 1933.
Sofia se casou com menos de 20 anos e teve três filhos. Antes passou por diversas gestações que não vingaram. Ela perdeu oito bebês.
Aos 30, perdeu o marido, que teve um aneurisma cerebral.
A primeira profissão oficial foi com cartonagem. Sofia atuou no universo das tecelagens e se aposentou como tecelã.
O talento no campo da escrita podia ser observado diariamente nas folhas das agendas anuais que ela redigia ouvindo Gil Gomes ou os contos bíblicos narrados por Cid Moreira.
A corrida de São Silvestre, no último dia do ano, era um evento à parte dentro do apartamento onde morava na avenida São João, no centro paulistano. Ela recebia a família para todos acompanharem a corrida e fazia chuva de papel picado para celebrar os maratonistas.
Excelente cozinheira, Sofia fazia uma massa frita semelhante ao bolinho de chuva. A guloseima é famosa na família até os dias atuais.
A galinhada era o prato dos domingos. A canja com arroz esquentava as noites frias. A combinação miojo com leite tornou-se uma paixão.
Ao temperar a vida, Sofia experimentava pitadas de irreverência.
Dolly, do refrigerante, deu nome à gata que foi sua companheira por quase 20 anos.
Sofia morreu dia 24 de junho, aos 87 anos, após sofrer uma parada cardiorrespiratória. Deixa três filhos e três netos.
"Mãe, irmã e amiga generosa, ela foi sustentação, base e furacão na vida dos seus. Avó amada e presente, acompanhou não só a infância, mas a adolescência e a fase adulta de seus três netos muito de perto. Foi avó-mãe-melhor amiga de todos nós", ressalta Tiago.
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