terça-feira, 29 de abril de 2025

TBG lança projeto para incentivar biometano em rede de transporte, FSP

 

Maria Clara Machado
Rio de Janeiro | MegaWhat

A TBG (Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil) anunciou um projeto para incentivar a injeção de biometano na rede de transporte. A iniciativa vem em meio à chamada pública de biometano da Petrobras e um modelo de contrato de conexão para biometano já foi apresentado para aprovação da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

Pelo projeto, a construção das infraestruturas poderá ocorrer de forma modulada, acompanhando a demanda do mercado. O biometano poderá chegar por meio de duto dedicado ou por modal rodoviário na forma de gás natural comprimido (GNC) ou gás natural liquefeito (GNL).

"O tamanho do projeto irá depender da demanda de mercado, de análises internas da TBG e da interlocução com o órgão regulador", diz a transportadora.

Imagem mostra três grandes redomas, de diferentes tamanhos, em área cercada por plantações
Usina de biogás e biometano da Bioköhler em Toledo, no Paraná

TBG e a injeção de biometano

De acordo com o diretor comercial da TBG, Jorge Hijjar, a ideia é que a transportadora seja um agregador de biometano a partir da criação de hubs que ajudem a viabilizar a conexão de produtores que, isoladamente, não teriam escala suficiente para se conectarem ao transporte. A transportadora também destaca que seu gasoduto está localizado em região de forte produção agrícola, que origina os insumos para produção do biometano.

Segundo a TBG, após o anúncio da chamada pública de biometano da Petrobras, diversos produtores procuraram a transportadora interessados na conexão à rede. O potencial mapeado é de 3 milhões de m³ por dia, produzidos por usinas localizadas nos cinco estados do traçado do Gasbol (Gasoduto Brasil-Bolívia), com destaque para São Paulo e Mato Grosso do Sul. "A confirmação deste volume servirá de insumo na idealização dos hubs", diz a TBG.

Oportunidades e ampliação de negócios

A conexão com o sistema de transporte de gás natural poderá permitir que os produtores de biometano tenham acesso a consumidores ao longo de toda a malha de gasodutos.

"Assim, há uma ampliação no leque de oportunidades de negócio, sobretudo no contexto da Lei do Combustível do Futuro, que define o incremento de 1% de biometano nas operações de gás natural por produtores e importadores a partir de 2026, com gradual aumento, até chegar aos 10%", afirma a TBG.

O passado revolucionário do Meio-Oeste americano, hoje pró-Trump, FSP

 

Como o leitorado deste blog sabe, sou profundamente favorável à releitura anual de certos livros espetaculares, e um deles certamente é "Gilead", da premiada romancista americana Marilynne Robinson. (Não, não tem nada a ver com "O Conto da Aia"; a Gilead do título de Robinson é uma cidade normalíssima dos EUA dos anos 1950, sem nenhum tipo de poligamia fascista cristã, graças a Deus). Vale a pena procurar o livro, que tem uma edição brasileira relativamente recente, de 2022, pela Edições Vida Nova.

Existe uma pletora de motivos pelos quais a releitura do romance é uma experiência riquíssima, mas talvez uma das razões mais intrigantes é que o livro recupera um dado histórico facílimo de esquecer com a chegada da Era Trump: o Meio-Oeste, "miolão" geográfico dos EUA, já foi um berço da política revolucionária, o coração do radicalismo que levou à destruição do sistema escravista no país. Pois é: os supostos caipiras já foram a vanguarda "woke", para usar um anacronismo. E a motivação para isso era essencialmente religiosa: o cristianismo radical.

A imagem mostra um interior de um edifício público, com paredes em tom verde e detalhes em mármore. No centro, há um grupo de pessoas, incluindo um homem sorridente vestido com uma camisa branca e calças escuras, e uma mulher com cabelo longo e cinza. Outros indivíduos estão visíveis ao fundo, alguns em trajes formais. Uma porta de madeira está parcialmente aberta, revelando o interior do espaço. O ambiente é bem iluminado e decorado.
A escritora Marilynne Robinson junto com o ex-presidente americano Barack Obama - Carlos Barria/Reuters

Ora, mas se isso é verdade, como as coisas mudaram tão radicalmente? É possível ter um vislumbre desse processo por meio da história familiar do protagonista de "Gilead", o já idoso reverendo John Ames, pastor de uma igrejinha congregacionalista na localidade de Gilead, estado de Iowa (está explicado o nome do livro).

Acontece que a família de Ames, oriunda da Costa Leste dos EUA, foi parar na região justamente por causa das disputas entre abolicionistas e escravistas em meados do século 19. Conforme novos estados iam sendo incorporados aos EUA em expansão, os dois grupos entraram em conflito para ver quem conseguia estabelecer zonas abertas ao trabalho escravo ou livres dele.

O avô do reverendo, também pastor (assim como o pai de John Ames), chegou a se envolver inclusive na luta armada para libertar escravos, ajudando o célebre "terrorista" (ou libertador, dependendo da sua perspectiva, é claro) John Brown, executado pelo governo em 1859. O avô do reverendo se alistou na Guerra Civil americana para lutar contra os estados escravistas do sul e chegou a aparecer sujo de sangue na própria igreja, convocando os jovens da cidade de Gilead para se juntar a essa cruzada. Era obrigação dos cristãos lutar pela liberdade dos cativos, dizia ele.

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Passada a guerra, com um custo gigantesco em vidas, o pai de John Ames passa a defender uma postura pacifista, enquanto o avô do reverendo, amargurado, diz que a vitória contra o escravismo não foi suficiente para acabar com o preconceito contra a população negra.

Assim, boa parte da amargura na história familiar dos Ames tem a ver com essa mudança de atitude, da política revolucionária para o pacifismo e/ou o conservadorismo. Trata-se justamente da trajetória seguida por essas regiões colonizadas por abolicionistas do século 19 para o 20.

É claro que há muito mais do que isso no romance. Vale lê-lo e relê-lo com calma.

Reinaldo José Lopes
Reinaldo José Lopes

Autor do blog Darwin e Deus, sobre ciência e religião, e especialista em história do catolicismo

Trump perde eleição no '51º estado', Hélio Schwartsman - FSP

 Donald Trump queria transformar o Canadá no 51° estado americano, mas o que conseguiu foi dar sobrevida ao Partido Liberal (PLC) daquele país, que, até a chegada do agente laranja ao poder, parecia fadado a uma derrota eleitoral histórica.

Nas pesquisas de janeiro deste ano, os conservadores abriam mais de 20 pontos percentuais de vantagem sobre os liberais. É verdade que muito da impopularidade se devia ao desgaste pessoal do então premiê Justin Trudeau, que sofria da fadiga de material de quase dez anos no poder.

A imagem mostra um local de votação no Canadá, onde três pessoas estão presentes. Um homem no centro, com um sorriso e fazendo um sinal de positivo, está ao lado de uma urna de votação marcada com 'Elections Canada'. À esquerda, uma mulher com um vestido colorido está segurando papéis, e à direita, um homem com uma pasta amarela parece estar se preparando para votar. O ambiente é bem iluminado e há bandeiras ao fundo.
O primeiro-ministro e líder do Partido Liberal, Mark Carney, vota em Ottawa - Sean Kilpatrick - 28.abr.25/Pool via Reuters

Trudeau foi substituído por Mark Carney, mas isso não parecia suficiente para tirar o PLC da rota de desastre. Trump se encarregou de mudar o quadro. As ações e declarações do presidente americano mexeram de tal forma com as cabeças dos canadenses que o PLC conseguiu reverter sua desvantagem e triunfar nas eleições parlamentares desta segunda (29). Tudo o que Carney teve de fazer foi posar de anti-Trump e deixar que os votos chegassem.

No momento em que escrevo ainda não estava claro se os liberais conseguiram maioria para governar sozinhos ou se precisariam formar uma coalizão com partidos menores, como é o mais frequente por lá.
Como tempero extra, o líder conservador, Pierre Poilievre, que em alguns momentos foi descrito como o "Trump canadense", não conseguiu se reeleger para o Parlamento, perdendo a cadeira que ocupava havia 20 anos.

Um pouco mais ao sul, nos EUA, a rejeição a Trump não é tão avassaladora, mas está crescendo. As pesquisas que marcam os cem dias no poder mostram uma nítida erosão da popularidade do presidente —e isso antes de a inflação das tarifas impactar com força sobre os preços ao consumidor.

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Só que os EUA, diferentemente do Canadá, são uma República presidencialista. E uma na qual o impeachment é quase uma impossibilidade política. Sem o botão de pânico propiciado pelo parlamentarismo, os americanos terão de arcar por quatro anos com as consequências de sua escolha eleitoral. Ruim para o mundo, mas ainda pior para os EUA.