sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

A luta livre que todos perdem, por Paula Schmitt, Poder 360

 

28.jan.2021 (quinta-feira) - 6h00

Hoje vou falar do maior desperdício já engendrado pelo ser humano: a renúncia ao poder de fazer a diferença. Estamos todos, em menor ou maior grau, aceitando uma transmutação que nos leva de seres pensantes a torcedores de luta livre, abrindo mão das convicções para virar animador de torcida que vibra com um e joga ovos no outro sem ganhar nada com isso, oferecendo reação pre-determinada sem que ninguém precise mandar.

Enquanto participamos alegremente da farsa da nossa suposta relevância, emitindo uma voz indistinguível em meio ao coro ensaiado, estamos jogando fora o poder mais extraordinário que a internet já nos proporcionou, e ao qual nunca antes tivemos acesso. Pensem comigo: Nunca antes tanta gente teve voz. Em nenhum outro momento da história a opinião do vendedor da esquina conseguiu estar diariamente na mesma página de um grande editorialista. Até recentemente, um pobre sem amigos influentes não podia nem imaginar que sua ideia seria lida por um deputado. Pela primeira vez temos a possibilidade –impensável há apenas duas décadas– de atingir e influenciar diretamente os políticos que nos governam, e influenciar também a sociedade que pressiona esses políticos. E pela primeira vez não precisamos esperar quatro anos para ter nossas vozes ouvidas, e nosso repúdio levado em consideração.

Mas essa força sem precedentes, essa pressão em tempo real, está sendo jogada no lixo. Em meio a tanto barulho, paixão e bile, estamos lentamente decretando o fim da crítica pertinente, a morte do feedback honesto, e a irrelevância da opinião individual e do seu peso coletivo. E o grande culpado por tudo isso, ou um dos principais culpados, é o que as mentes mais simplórias confundem com lealdade. Deixa eu já cantar a bola aqui antes de continuar: quem tem lealdade por político, ou foi comprado, ou ganhou emprego, ou é um otário. Se você está sendo governado por alguém, sujeito às leis e obrigações de um lugar onde toda dor é ou deveria ser sua também, o mínimo que lhe cabe, como direito e dever, é apoiar o correto, e condenar o errado.

Qualquer coisa além e aquém disso é indigna de ser praticada por um ser humano. Lealdade a gente tem pela família, e praticamente apenas por imposição biológica. Qualquer outra instância em que a convicção pessoal é suplantada por um sentimento de débito moral deve ser examinada a fundo, psicológica e filosoficamente, e com toda a honestidade intelectual do mundo. Só existe uma dívida intelectual digna de ser contraída e paga –a dívida com nossa própria consciência.

Faço esse preâmbulo enorme porque ontem aconteceu algo muito ilustrativo, e infelizmente nada raro. Eu enviei uma mensagem a um grupo cuja maioria votou em Bolsonaro. Era uma notícia falando que o governo liberou um incentivo fiscal de 10 milhões de reais para os pilotos Pietro Fittipaldi e Tony Kanaan. Tento evitar provocação e brigas (ainda que discussões políticas jamais devessem levar a isso), mas nesse caso fiz questão de saber a opinião dos membros do grupo porque ali tem gente que passou anos criticando a Lei Rouanet, e a maneira como ela vem permitindo que impostos sejam transferidos dos mais necessitados para os que menos precisam. Eu concordava e ainda concordo com as críticas a essa lei. Governar é eleger prioridades, e show de cantor famoso não é uma delas.

Fiquei genuinamente curiosa em saber qual seria o sentimento sincero de quem passou anos lutando contra aquela iniquidade e agora a via cometida pelo político em quem confiou. Mas confrontado com a notícia de que em meio a uma crise avassaladora o governo permitiu aquela transferência de imposto para alguém que não está morrendo de fome, meu amigo reagiu da forma mais decepcionante –e esperada– do mundo. Ele se recusou a explicar o que sentia, nem contou como justificaria ou condenaria aquilo. Ele simplesmente jogou uma pergunta de volta pra mim: “E o STF, e o Congresso?”

Eu não estou acima de tal falácia argumentativa. Cansei de receber o velho gif “E o Lula? E o PT?” nas vezes em que eu usava o governo do PT como contraponto a alguma crítica a outros governos. (Nesse gif, brilhante em sua síntese, um Homem Aranha ataca outro Homem Aranha, e estão portanto os dois igualmente certos e errados.) Às vezes usamos esse relativismo para realçar a hipocrisia de quem agora critica o que antes apoiou. Mas meu amigo do zap sabe que eu sempre fui contra esse tipo de transferência de recursos. Sou bloqueada pelo Lobão porque um dia tuitei pra ele uma foto de um poster que eu vi num ônibus, anunciando um show dele patrocinado pelos Correios bem na época em que Lobão descia o cacete na Lei Rouanet. Não conheço muito o trabalho dele, mas admiro o fato de ele ter tido a honestidade intelectual de recomendar artigo meu tempos depois (brigada, Lobão), e só por isso (mais a personalidade e a língua solta) eu convidaria o cara pra uma cerveja. Digressão.

O que interessa aqui é o seguinte: meu amigo, eleitor do Bolsonaro e membro ativo do grupo de apoio informal ao presidente, abriu mão da chance de ser realmente relevante, de se apoderar da sua condição de apoiador sincero e fazer o presidente mudar de ideia e rever uma decisão equivocada. Em vez disso, meu amigo optou por ser um cheerleader, sacudindo pompom com os braços e mantendo um sorriso mesmo quando discorda. Isso não é lealdade. Isso é um tipo de traição a si mesmo. O meu amigo não sabe, mas ele não é o único que perde com essa subserviência –perde também o Bolsonaro, porque se tem uma coisa que destrói qualquer um no poder é a falta de crítica honesta vinda de pessoa bem-intencionada.

Bolsonaro e Lula sempre receberam críticas –mas só daqueles que já os criticavam mesmo quando eles faziam algo correto. Tanto Lula quanto Bolsonaro foram ou estão sendo destruídos pela ausência do feedback honesto e descomprometido. Uma reprimenda de Jean Wyllys a Bolsonaro não vai ter nenhum efeito negativo, ao contrário –deve ter até efeito positivo, convencendo os de mente menos brilhante de que estão no rumo certo. O mesmo acontecia com o Lula –a crítica dos anti-PT não vale muito, porque elas independem da ação em si. Mas o país nunca vai melhorar enquanto não tivermos a honestidade intelectual de criticar o errado, e acima de tudo, apoiar o certo. Vejam que quem mais “mente” em suas reações, sempre em conformidade com o grupo monobloco do qual faz parte, é exatamente quem não depende das leis para comer, colocar os filhos na escola e pegar transporte público.

O povo mesmo –aquele que se beneficia e se ferra a cada vez que o governo acerta e erra– esse muda de opinião a cada decisão, porque ele sofre as consequências de cada uma delas. O que estamos fazendo –não só contra o país, mas contra as pessoas que precisam da política para viver e comer– é corromper a lei mais verdadeira e eficiente já criada pela natureza: a Terceira Lei de Newton, também conhecida como a lei da ação e reação. Ao inventar uma reação falsa, estamos estimulando futuras ações incorretas. Em outras palavras, diante do silêncio dos seus apoiadores sobre o incentivo fiscal ao Fittipaldi, Bolsonaro está recebendo uma única mensagem: você está no caminho certo.

Por tudo isso que falei, a qualidade mais essencial que conheço é a honestidade intelectual, muito mais do que o próprio intelecto, ou do que a mera coragem. Nada supera a bravura de alguém que defende uma ideia que lhe desagrada, ou que refuta uma teoria que o favorece. Nada supera a independência intelectual de quem se nega e corrige, e se admite errado. Por isso vou terminar esse artigo falando de Janaína Paschoal, uma pessoa com cujas ideias nem sempre compartilho, mas cuja honestidade intelectual admiro há tempo . No dia 17 de dezembro minha coluna fazia críticas a uma ideia absurda de Janaína, que sugeriu que transferíssemos o poder de decisão da Anvisa para a FDA americana sobre a aprovação das vacinas (critiquei também o senador Randolfe Rodrigues, que pulou naquele trem descarrilhado).

Fui rude e imprópria nas minhas referências à Janaína, e usei palavras que jamais teria usado num debate público em que ela estivesse presente –aí já por acaso um sinal da minha falta de bravura, e covardia intelectual. Mas Janaína provou que tem uma coragem que supera eventuais erros, porque coragem é exatamente a qualidade que permite a alguém corrigir esses mesmos erros e voltar atrás. Em sua página no Facebook, a deputada tomou a iniciativa de postar meu artigo, e recomendou que ele fosse lido para que o debate fosse aprimorado (escrevo sem aspas porque não tenho Facebook e vi isso há um tempo).

Fico aqui então com um pedido público de desculpas à Janaína Paschoal pela minha grosseria, que não foi apenas deselegante mas acima de tudo foi extremamente burra, porque o que quero é que encontremos um consenso em torno das coisas corretas e do que for melhor pra esse nosso país – tão lindo, tão rico, e tão injusto e sofrido. Ofensa pessoal não ajuda na confluência de ideias, ao contrário – ela assusta e afasta antes de ter a chance de convencer. Ainda bem que Janaína Paschoal tem coragem, porque naquele dia, pra minha vergonha (e admiração) ela aceitou o erro, ou ao menos aceitou ser contradita pelos seus seguidores, e deu a eles a chance de duvidar dela. São essas pessoas que eu quero valorizar – não as que nunca erram, mas as que nunca se acovardam em face ao erro. Obrigada e parabéns, Janaína, por qualidade tão crucial, e cada vez mais rara.

28.01.21 | Mapeamento identifica 190 startups do setor de energia, Energia Hoje

Fonte: Energia Hoje - 27.01.2021
São Paulo – A Liga Ventures, plataforma de inovação aberta, disponibilizou um mapa das startups brasileiras com soluções para o setor de energia. O resultado faz parte da Startup Scanner, ferramenta lançada no final do ano passado com o apoio da consultoria PwC Brasil, que tem como objetivo rastrear, acompanhar e mapear constantemente startups de diversos segmentos para fomentar o ecossistema de inovação.

Ao todo, foram agrupadas 190 startups, subdivididas em 11 categorias. Entre elas, as principais são eficiência energética (com 39 startups), geração compartilhada (32) e gestão de consumo (30). São Paulo (26.84%), Minas Gerais (20.53%), Santa Catarina (14.74%) e Rio de Janeiro (10%) são os estados que mais contemplam empresas que desenvolvem algum tipo de tecnologia para o setor de energia.

Startup Scanner permite acompanhar e explorar mais sobre as startups de interesse, criando listas de favoritas, avaliando e até solicitando ajuda para entrar em contato com elas. A ferramenta pode ser acessada gratuitamente.

Para compor o mapeamento, a Liga Ventures utilizou, além do seu próprio banco de dados com mais de 16 mil startups, diversas fontes de informação, como inscrições para os programas de aceleração, recebimento de outros estudos e recomendações de parceiros externos.

A Liga Ventures afirma ser a principal articuladora de inovação aberta entre empresas e startups do Brasil e, com pouco mais de cinco anos de mercado, já conta com mais de 450 projetos e transações geradas diretamente entre 300 startups aceleradas em parceria com mais de 40 grandes companhias, como Porto Seguro, Vedacit e Mercedes-Benz.

 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Dívida pública federal passa de R$ 5 tri e pode encostar em R$ 6 tri em 2021, diz Tesouro, FSP

 Fábio Pupo

BRASÍLIA

Após a dívida pública federal passar de R$ 5 trilhões no encerramento de 2020, o Tesouro Nacional prevê que o valor varie entre R$ 5,6 trilhões e R$ 5,9 trilhões em 2021. Além disso, as projeções apontam para um prazo médio mais curto para o pagamento.

Os valores projetados para o estoque neste ano representam um aumento nominal de 11,8% a 17,8% da dívida em relação ao registrado em 2020. Em 2020, o Tesouro já encerrou o ano com uma dívida 17% maior (em termos nominais) que um ano antes.

"O nível aumentou, o que mostra a necessidade de controlar e reduzir esse estoque. Temos que fazer nosso dever de casa em termos de reformas para ter redução do endividamento", afirmou Bruno Funchal, secretário do Tesouro.

Gabriel Cabral/Folhapress

O estoque da dívida mostra crescimento em toda a série histórica, mas houve aceleração entre os anos mais recentes devido ao desequilíbrio nas contas públicas e em 2020 pelo impacto da Covid-19.

A dívida pública passou por um cenário considerado desafiador pelo Tesouro em 2020. Houve menor arrecadação federal (pela queda na atividade econômica e isenções tributárias) e, de forma mais intensa, maiores despesas (principalmente pelo auxílio emergencial, com custo estimado de R$ 322 bilhões).

As previsões para 2021 foram divulgadas nesta quarta-feira (27) por meio do Plano Anual e Financiamento (o PAF). O documento do Tesouro aponta ao mercado diretrizes, estratégias e metas para a gestão da dívida pública no ano.

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As previsões feitas pelo Tesouro para 2021 consideram principalmente as despesas contidas na proposta de Orçamento para este ano (ainda não aprovada pelo Congresso) e até comportam de forma marginal a possibilidade de novas medidas, mas não iniciativa maiores como a eventual recriação do auxílio emergencial.

"O espaço para novas medidas é extremamente reduzido, o cenário é totalmente diferente do ano passado", ressaltou Funchal.

O prazo médio de pagamento da dívida deve se encurtar ainda mais em 2021, refletindo a estratégia do Tesouro de preferir emitir títulos mais curtos para aproveitar os juros mais baixos no curto prazo.

Em vencimentos mais longos, o governo tem pagado preços mais caros devido a fatores como a percepção de risco por parte dos investidores e a expectativa por juros mais altos no futuro.

Em 2021, o prazo médio para pagamento da dívida deve variar entre 3,2 anos e 3,6 anos.

O indicador terminou 2020 em 3,57 anos, o prazo mais curto desde dezembro de 2010 (quando foi de 3,51).

Já o percentual da dívida pública a vencer em 12 meses vai ficar em pouco menos de um terço do total ao ficar entre 24% e 29% neste ano (em 2020, o indicador ficou em 27,6%).

Apesar de já contar com maior pressão sobre o custo em 2021 devido ao esperado aumento da Selic, o Tesouro viu taxas historicamente baixas ao fim do ano influenciadas pelo patamar de 2% da taxa básica. O custo médio acumulado em 12 meses ficou em 8,37% ao ano em dezembro, o menor da série histórica.

O recuo foi consequência dos efeitos da crise, que gerou uma queda da taxa de juros e desvalorização do real. “Isso foi muito favorável à gestão da dívida pública, porque a parcela indexada à taxa de juros era alta e a parcela indexada à taxa de câmbio era baixa”, disse o subsecretário da Dívida Pública, José Franco de Morais.

O Tesouro afirma que, por causa da pandemia da Covid-19, o ambiente de incertezas permanece em 2021, pois isso busca que a gestão da dívida pública tenha flexibilidade para se ajustar a mudanças.

“Diante desse contexto, a estratégia do PAF 2021 prioriza medidas que busquem manter níveis prudentes de recursos para cobertura das despesas, mitigar o risco de refinanciamento da dívida pública e assegurar a funcionalidade do mercado de títulos públicos”, destaca documento do Tesouro.

Uma das diretrizes para o ano é a substituição gradual dos títulos ligados a taxas de juros por títulos com rentabilidade prefixada ou atrelada a índices de preços. O PAF prevê que a parcela da dívida pública nesse perfil ganhará peso ao fim do ano --no caso dos prefixados, a fatia poderá sair dos atuais 34,8% e chegar a 42% da dívida.

O Tesouro reforçou ainda que, por causa da crise do coronavírus, a agenda de reformas fiscais foi adiada e o combate à pandemia ampliou consideravelmente os gastos públicos. “Em decorrência desse desafio fiscal, é esperado que em 2021 ainda persista o aumento da participação de títulos prefixados de curto prazo”, detalhou.

Para ajudar na administração da dívida, o governo planeja a devolução de recursos de bancos públicos. Do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), eram esperados no começo do ano R$ 100 bilhões em 2021 --agora, após o TCU (Tribunal de Contas da União) exigir em 60 dias um calendário de devoluções, o Tesouro espera um montante ainda maior.

O Tesouro ampliou a divulgação dos dados e agora vai passar a anunciar mensalmente o chamado colchão de liquidez, informação antes restrita. Ao fim de dezembro, o caixa tinha R$ 881 bilhões para enfrentar vencimentos de títulos em 2021 (de R$ 1,4 trilhão, ao todo).

Isso significa que, em um cenário extremo em que ninguém mais queira investir em papeis do país, ainda haveria R$ 881 bilhões para pagar credores. O Tesouro busca ampliar essa reserva principalmente para usá-la em cenários adversos e de incerteza, em que investidores demandam taxas mais altas para emprestar ao governo (como ocorreu ao longo do ano passado).​

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