quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Trem Intercidades só é viável até Campinas, afirma Rumo, O Liberal , RF

A implantação de uma linha de trem de passageiros na malha ferroviária já existente só é viável entre Campinas e Jundiaí. A informação é da Rumo Logística, empresa que detém a concessão dos trilhos. O plano do governo estadual, anunciado em 2012, é levar o Trem Intercidades de São Paulo a Americana, num trajeto de 135 km que seria o primeiro trecho do projeto, por meio de parceria com a iniciativa privada.
“A Rumo estudou onde seria viável ter um trem intercidades, e a conclusão é de que é viável entre Campinas-Jundiaí”, informou a empresa, em nota. O LIBERAL apurou que ao menos 20 trens passam diariamente por Americana. Especialista considera o trecho saturado. A Rumo ignorou a pergunta sobre o assunto. O governo do Estado diz que ainda não é possível afirmar que os trilhos de Americana estejam saturados e afirmou que isso está em estudo.
As informações do Estado e da Rumo são divergentes. O Estado informou, em nota, que o governo e a Rumo estudam a implantação do primeiro trecho do Trem Intercidades entre São Paulo e Americana. Já a Rumo diz que o que está em análise é só o trecho Campinas-Jundiaí.
A nota do Estado afirma ainda que o governo e a Rumo analisam a possibilidade de prolongamento da linha 7-Rubi, que hoje transporta passageiros até Jundiaí, a Campinas, usando os trilhos já existentes, “para atender mais rapidamente a população”.
Em fevereiro, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou o lançamento de um estudo para checar se é possível que o Trem Intercidades use os trilhos já existentes, que hoje só transportam cargas, o que baratearia o projeto. Em setembro, o atual governador Márcio França (PSB) fez uma viagem experimental e anunciou a extensão da linha 7-Rubi até Campinas, por meio dos trilhos atuais.
No último domingo, o jornal Folha de S. Paulo publicou reportagem na qual cita que Americana não iria suportar tráfego adicional de trens, e atribui a informação à Rumo. A reportagem então questionou à Rumo se Americana comporta ou não mais trens. A empresa ignorou a pergunta sobre a saturação do tráfego na cidade, assim como o governo do Estado fez em sua nota.
Questionada então por telefone, a assessoria de imprensa da Secretaria de Governo informou que ainda não é possível dizer que os trilhos no trecho de Americana não suportam mais tráfego de trens e que o assunto ainda está em avaliação.
Mestre em transportes, Creso Peixoto, professor de Engenharia Civil da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), afirma que realmente há uma saturação na região de Americana, porque de Campinas para o interior, a linha de trem é simples, ou seja, há só um trilho. “De Campinas pra frente é linha dupla.”
O transporte regional sobre trilhos é uma bandeira dos deputados tucanos de Americana Cauê e Vanderlei Macris, reeleitos domingo para a Assembleia Legislativa e para o Congresso, respectivamente. Procurados por meio da assessoria de imprensa, Cauê e Vanderlei Macris não se manifestaram até o fechamento desta reportagem.


CPTM mantém licitação para extensão da Linha 9-Esmeralda, RF


11/10/2018 - Revista Ferroviária
A licitação das obras civis do Lote 1 - um dos dez contratos da extensão da Linha 9-Esmeralda da CPTM - está mantida conforme publicado no Diário Oficial de quarta-feira (10). A CPTM negou recurso administrativo apresentado pela empresa Consbem, permanecendo, portanto, inalterado o resultado da licitação publicado no dia 20 de setembro. Em primeiro lugar na disputa ficou o Consórcio Concrejato-Alberoni e Arruda, composto pelas empresas Concrejato Serviços Técnicos de Engenharia S/A e Alberoni e Arruda Serviços de Engenharia Ltda.
As obras de extensão preveem a ampliação de 4,5 km entre Grajaú e Varginha e estão divididas em dois lotes: o primeiro, que vai de Pátio Grajaú até a Estrada dos Mendes, e o lote seguinte, que vai deste ponto até Varginha.
Ao todo, o projeto possui dez contratos: o contrato mencionado acima, das obras civis, o contrato de obras civis do lote 2 (que está para ter o seu edital publicado), e outros oito projetos em execução, englobando mais de R$ 186 milhões. O Ministério das Cidades liberou R$ 170 milhões, desde o segundo semestre do ano passado, e o restante (R$ 16 milhões) foi repassado pelo governo do Estado.
Os contratos em execução englobam sistema de sinalização, reforço de rede área, adequação do Centro de Controle Operacional, suprimento de energia, além de supervisão de energia, sinalização e telecomunicações, além da construção de quatro viadutos ferroviários, cujos contratos foram assinados em abril deste ano e que estão com canteiros de obra em “fase final de implementação”, segundo a CPTM.
Estão sendo instalados os seguintes sistemas de sinalização: SCT (Sistema de Controle de Trafego) e o SCC (Sistema de Controle Centralizado) com tecnologia ATC - Automatic Train Control. O sistema de telecomunicação será o STO (Sistema de Transmissão Óptica), responsável pela comunicação do sistema de sinalização e outros sistemas implantados na linha com o CCO (Centro de Controle Operacional). Os contratos de supervisão de energia atendem o trecho da obra, de Grajaú a Varginha.
Entre as adequações do CCO estão reconfiguração dos painéis, posto de comando e IHM, entre outros serviços para fazer a conexão do novo trecho com o restante da Linha 9-Esmeralda.
A Linha 9-Esmeralda (Osasco-Grajaú) transporta atualmente cerca de 620 mil usuários por dia útil. Com a ampliação entre Grajaú e Varginha, a projeção é que sejam acrescentados à linha 110 mil usuários atendidos pelo futuro trecho onde serão construídas duas novas estações (Mendes-Vila Natal e Varginha).
As obras de extensão começaram em 2013 com previsão de entrega em 2015, porém ela foi paralisada por falta de recursos e os canteiros de obras estavam abandonados desde então.

Desalentados e o cartel das empreiteiras da Lava Jato, Paulo Feldman, FSP




Infraestrutura precisa da concorrência estrangeira






O professor Paulo Feldmann, em seminário promovido pela Folha em 2014 - Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Os dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que o número de pessoas que desistiram de procurar emprego —os desalentados— chegou a 4,8 milhões, a grande maioria com menos de 30 anos de idade.

Somando-se com os que ainda estão procurando emprego mas não o encontram, chegamos a 18 milhões de brasileiros que hoje não conseguem trabalhar. Isso representa 17% da PEA (População Economicamente Ativa). Apenas cinco países estão numa situação pior no mundo, mas entre esses figuram a Síria e a Venezuela.

A palavra desalento passou a ser usada pelo próprio IBGE porque, ao contrário de outras épocas, em que o jovem desistia de procurar emprego para se dedicar aos estudos ou a universidade, agora o que se verifica é uma apatia e um desânimo enormes justamente junto a essa faixa etária.

Talvez o pior aspecto desse fenômeno nem sejam as estatísticas, mas sim o fato de que parece estar havendo uma acomodação geral ao problema: assim como os jovens se tornaram desalentados, o governo federal desistiu de encontrar uma solução, empurrando o problema para o seu sucessor e torcendo para que a situação não piore muito.

Acontece que o desempregado e o desalentado são fortes candidatos a caírem no mundo do crime e das drogas.

Quem acha que o problema não é grave não conhece as estatísticas sobre a violência no Brasil, onde 62 mil pessoas foram assassinadas em 2017. Somos apenas 3 % da população do globo, mas 12 % dos assassinatos ocorridos no mundo aconteceram em nosso território.

Por outro lado não se pode esperar que de uma hora para outra as empresas consigam gerar os quase 20 milhões de empregos que se fazem necessários, mesmo porque o crescimento do PIB neste 2018 será, quando muito, de apenas 1,5 %.

O que fazer então? Claro que a solução é muito difícil, mas não somos o primeiro país no mundo que passa pela dificuldade. É preciso conhecer o que os outros fizeram.

A solução mais comumente adotada é a de investir em obras de infraestrutura como estradas, ferrovias, metrôs etc., pois dessa forma os empregos gerados são de baixa qualificação e atenuam o problema da grande maioria.
A questão é que para investir é necessário que haja recursos financeiros e de capitais, os quais inexistem no Brasil de hoje, principalmente devido ao enorme déficit público do próprio governo federal.

No entanto, há muito capital para isso em países como China, Alemanha, Estados Unidos e querendo vir para o Brasil; e o melhor, para ajudar a construir a nossa infraestrutura. O que precisa ser feito é uma política emergencial que atraia capitais e empresas de fora especializadas nessa área.

A maior resistência a esse tipo de política se origina no cartel das empreiteiras brasileiras, as mesmas que estão hoje às voltas com a Operação Lava Jato. Para elas, a vinda das estrangeiras representa a morte, porque significa que finalmente vai haver competição e concorrência no segmento da infraestrutura.

Obrigar a existência de competição nas obras de infraestrutura não é, pois, apenas uma questão moral e eticamente importante. Ela é fundamental para que as obras aconteçam e para que se gerem empregos de forma rápida como hoje o país precisa.
Paulo Feldmann
Professor de economia da USP, ex-presidente da Eletropaulo (1995-96, governo Covas) e sócio da EY (antiga Ernst & Young)