Estou escrevendo um livro extenso sobre o movimento de "cercamentos" dos anos 1700 na Inglaterra.
Muitas pessoas instruídas, especialmente as que leram Marx, ouviram falar sobre cercamentos. A maior parte do que sabem não é verdade.
O cercamento inglês foi uma espécie de reforma agrária, mas afastando a terra dos pequenos proprietários, não a aproximando deles. Isso tem um papel importante nas convicções políticas da esquerda em todo o mundo. O grande historiador de esquerda E. P. Thompson (1924-1993) declarou que o cercamento foi "um caso bastante claro de roubo de classe". Segundo ele, era um Robin Hood ao avesso: roubar dos pobres para dar aos ricos.
Tais coisas acontecem, claro. Os ricos são bons nisso. Mas a história que a maioria das pessoas instruídas acredita conhecer sobre cercamentos está errada.
A história é que os cercamentos arrancaram os trabalhadores das aldeias e os empurraram para as fábricas, onde foram horrivelmente explorados. A Revolução Industrial, dizem, foi criada pelo movimento de cercamentos, fornecendo sua força de trabalho.
Nada nessa história é verdadeiro. Na verdade, o cercamento elevou o número de trabalhadores nas aldeias. É lógico que o aumento da produtividade agrícola manteria ou atrairia trabalhadores para implementá-la. E os cercamentos não economizavam mais mão de obra do que terras.
Sir Thomas More, escrevendo no início dos anos 1500, falou famosamente de "ovelhas comendo homens".
A criação de ovelhas, com poucos pastores, substituiu o cultivo de trigo, que empregava muitos trabalhadores. Mas isso não é verdade na Inglaterra dos anos 1700.
O cultivo ineficiente de trigo foi substituído pelo cultivo eficiente, não por alguns pastores. E, de todo modo, a geografia está errada. As fábricas ficavam no norte da Inglaterra, não no sul, onde os cercamentos ocorreram. Ninguém se mudou do sul para o norte. Os trabalhadores das fábricas vinham da Irlanda ou do norte, áreas sem cercamentos.
A reação do século 19 ao "capitalismo" alimenta a suspeita moderna de que deve haver algo errado com os ricos e seus lucros. Essa suspeita é antiga, na verdade. Um carcereiro no século 13 desprezou os apelos de um rico por misericórdia: "Ora, mestre Arnaud Teisseire, você se deleitou em tanta opulência! Como pode não ter pecado?". As pessoas sentem satisfação ao falar sobre cercamentos, ricos pecadores ou outras histórias da esquerda, exibindo um cinismo inteligente.
Economistas liberais primários explicam que as fortunas grotescamente grandes de Eduardo Saverin ou Elon Musk são um sinal e incentivo temporário, mas necessário, à inovação. A receita, se não for bloqueada por corrupção política, distribui os benefícios para nós, consumidores. Máquinas a vapor. Aço barato. Celulares. Facebook. E cercamentos.
O Nobel de Economia William Nordhaus estima que só 2% do ganho com inovação nos EUA desde a Segunda Guerra ficaram nas mãos de inovadores como Saverin ou Musk —98% vieram para nós.
Pela primeira vez na história da humanidade, muitos de nós aceitamos, desde os anos 1700, em grande escala, o Acordo Burguês —"Deixe-me em paz e eu o tornarei rico".
Então aconteceu.
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