Deirdre Nansen McCloskey
Nos Estados Unidos, circulam notícias sobre a participação de Jair Bolsonaro, sua família e aliados na imitação brasileira, em 8 de janeiro de 2023, da rebelião traiçoeira contra o Congresso norte-americano no ano anterior. Ana Lankes, chefe do escritório brasileiro da revista "The Economist", escreveu um longo artigo na edição atual da revista "Atlantic", de ampla circulação, intitulado "A história não contada da estranha e selvagem tentativa de golpe de Bolsonaro: como o ex-presidente do Brasil e seus comparsas tentaram derrubar a democracia". Lankes pesquisou durante muitos meses, fez diversas entrevistas com os principais nomes, como o juiz Alexandre de Moraes, e muitos de seus inimigos. O americano médio, mesmo bem informado, não sabia nada sobre o assunto. Agora, muitos sabem.
Embora ela nunca diga isso, acho que Lankes fez o trabalho e escreveu o artigo, e seus editores o publicaram devido aos paralelos com o papel de Donald Trump em 6 de janeiro. Mas o que eu quero que você pense hoje não são as possíveis traições de Bolsonaro e Trump, que para algumas mentes ainda precisam ser comprovadas. Quero que você me diga por que as pessoas fazem o que esses dois são acusados e, em particular, por que seus subordinados os seguem com tanto empenho. Um exemplo é o emaranhado de supostas conspirações que Lankes relata. Foi preciso que muitas pessoas violassem seus juramentos de posse e a lei brasileira para apenas começarem a fazer o que são acusadas de fazer. Você faria isso?
Precisamos de caras durões, poucos. Polícia. Exército —aliás, o Brasil realmente precisa de um? Mas por que eles violam a lei com tanta frequência, como os "kids pretos"? Eu me pergunto sobre isso há muito tempo. De onde vem o policial de Hong Kong que espanca manifestantes e depois vai para casa, vizinha à dos pais do estudante que espancou? Por que policiais comuns de Hamburgo, reunidos no Batalhão 101, assassinaram judeus aos milhares durante o Holocausto?
Parte da resposta parece ser o que eles chamam no jargão militar de "coesão da unidade". Um exército precisa ter "bandos de irmãos" que se amem e se respeitem. Aquiles voltou à batalha na Guerra de Troia quando Heitor matou seu amante, Pátroclo. Uma grande parte do treinamento militar consiste em criar coesão de unidade, desde o pequeno "esquadrão" nos Estados Unidos, que arma uma dúzia de pessoas, até grupos maiores. No futebol, isso se chama espírito de equipe. Em direito ou medicina, chama-se orgulho profissional.
A primeira polícia secreta soviética, com caras muito durões, era chamada de Cheka. O nome muda constantemente, mas é o mesmo grupo. Até hoje eles se autodenominam "chekistas", como Vladimir Putin, treinados na antiga KGB, e têm essa coesão de unidade. Esses grupos, em todas as sociedades, costumam ser altamente éticos em seus próprios termos, incapazes, por exemplo, de aceitar suborno.
Aconteceu no Brasil. A Cheka de Bolsonaro fazia qualquer coisa para vencer e se admirava de seus atos, por mais insanos que fossem. A coragem dominava todas as outras virtudes, como acontece em um bando de irmãos. "Um coronel aposentado", relata Lankes, "mandou um recado desesperado para Cid: ‘O povo está onde [Bolsonaro] pediu que estivesse... Eu sei que vocês tentaram levar isso até o fim sem um colapso institucional, mas o outro lado jogou fora da lei. Chega, irmão!’"
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