Como em outros projetos de "revitalização", a perspectiva mercadológica domina o Reviver Centro, cujo objetivo é —ou era— incentivar o uso habitacional na região central do Rio com a reconversão de edifícios, ampliando a oferta para populações de diferentes faixas de renda.
Lançado em 2021, o projeto beneficia investidores e o mercado imobiliário, sem remediar o estado de emergência do Centro, afetado pelos efeitos da pandemia e, antes, pela incúria dos governantes. Um local histórico abandonado por décadas.
O lançamento de um residencial na rua do Acre, na semana passada, teve de ser cancelado porque todos os 153 estúdios, com preços a partir de R$ 289 mil, haviam sido vendidos na véspera, em 24 horas. Mesmo que atendesse às necessidades —o que não era o caso, devido ao tamanho estilo ovo das unidades, com paredes tendo a consistência de cascas—, uma família de quatro pessoas, morando na zona norte ou oeste, não teria tempo nem de pensar em fazer o negócio.
Gigante adormecido, o prédio de 31 andares da Caixa Econômica na avenida Rio Branco será repaginado. Para atrair os compradores, a promessa é que alguns poucos apartamentos serão maiores, com três quartos, prevendo-se a instalação de um supermercado no térreo, alguma coisa que lembre um bairro e não o enclave de uma cidade-evento, com quitinetes para aluguel por temporada.
Ali perto, a prefeitura resolveu inovar. Não há edifício a ser adaptado e sim uma praça condenada a desaparecer, dando lugar a um monstrengo com 24 andares e 720 mínimos apartamentos. É a maior investida até agora do Reviver Centro. Ou Enterrar Centro, como preferirem.
Embora feio e mal aproveitado, o Buraco do Lume é um dos poucos lugares de respiro na região. Sua história liga-se ao conceito de urbanicídio que move o Rio. Nasceu da derrubada de parte do casario no lado ímpar da rua São José, em 1972, para que se erguesse a sede da Lume Empresarial, que faliu, deixando o buraco. Desenha-se agora um bloco de concreto sem lume, cobrindo o céu.
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