Fiquei impressionado com alguns dos advogados dos réus da trama golpista. Eles colocaram a arte de bajular num patamar para mim inaudito. Destaco dois deles.
O infatigável Demóstenes Torres, que representa o almirante Almir Garnier, é um maratonista. Dedicou 21 de seus 60 minutos a distribuir elogios entre os cinco ministros que compõem a 1ª Turma do STF.
Já Cezar Bitencourt, um dos advogados do tenente-coronel Mauro Cid, é um velocista, investindo em força e intensidade. As palavras que ele reservou para o ministro Luiz Fux não dão margem a dúvida: "sempre saudoso, sempre presente, sempre amoroso e sempre atraente, como são os cariocas".
Enciumado, Flávio Dino disse que não aceitaria menos do que isso e foi agraciado com uma declaração na qual figurava como detentor de elegância e sabedoria.
Os magistrados obviamente não são ingênuos a ponto de achar que os elogios são de todo honestos. Por que então experientes operadores do direito (não é qualquer um que advoga no STF) insistem nessa estratégia? Porque funciona.
Estudos neurocientíficos recentes, como o de Shotaru Fujiwara e colaboradores, sugerem que o elogio sincero tende a ser mais efetivo que a bajulação, mas que ambos são capazes de ativar centros de recompensa do cérebro de quem ouve as loas, num processo análogo àquele pelo qual sentimos prazer. E isso, é claro, pode predispor o recebedor dos elogios em favor de quem os faz.
Não é algo que fará o juiz absolver o réu de cuja culpa ele já esteja convencido, mas pode torná-lo um pouco mais benevolente, com efeitos ainda que marginais sobre a dosimetria das penas.
É que o cérebro não é uno. Mesmo que as áreas dedicadas ao raciocínio lógico nos informem de que o encômio não passa de conversa fiada, outras estruturas se deixam impressionar pelas palavras enaltecedoras e desencadeiam reações eletroquímicas que podem modular nossos sentimentos.
É uma estratégia que pode render frutos, especialmente quando as estratégias alternativas não parecem nada promissoras.
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