segunda-feira, 8 de setembro de 2025

silêncio dos evangélicos sobre o julgamento é ruim para o PT, Juliano Spyer, FSP

 Por que os evangélicos estão em silêncio durante o julgamento de Jair Bolsonaro no STF? O que teria feito a política se tornar um não assunto dentro de igrejas e entre cristãos que foram apoiadores fiéis e constantes do ex-presidente?

Hoje, nas igrejas, há um silêncio notável e cheio de significados —tanto nos encontros presenciais como nas conversas online. Falamos aqui dos cerca de 70% de evangélicos que, no segundo turno das eleições de 2018 e 2022, votaram em Bolsonaro ou optaram pelo voto útil contra o PT.

Esse silêncio tem duas motivações principais, que se aplicam a grupos distintos dentro das comunidades de fé: os bolsonaristas "raiz" e os que apoiaram Bolsonaro de forma envergonhada, por vê-lo como o "menos pior". A seguir, examino o que constrange e cala cada um desses grupos.

O silêncio dos bolsonaristas raiz pode ser descrito com uma metáfora futebolística, adequada nestes tempos de Fla-Flu ideológico. Eles estão calados como torcedores de um time prestes a ser rebaixado à segunda divisão.

Bolsonaro em culto evangélico no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados - Pedro Ladeira - 3.ago.22/Folhapress

Esse sentimento tem camadas. A mais evidente é a sensação de derrota, que leva esse "torcedor" a se isolar e silenciar para evitar a zoação da torcida adversária. Mas há também a percepção de terem sido "roubados pela arbitragem" —um sentimento agravado pelo medo de que, se falarem, se tornarão alvo de novas retaliações.

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"Esse é um jogo de cartas marcadas", resumiu um pastor, pedindo anonimato. Para ele, a mobilização cedeu lugar ao desânimo porque a condenação já estaria definida. O julgamento seria uma farsa, fruto não de equilíbrio, mas de ódio.

O segundo grupo é formado por evangélicos que votaram em Bolsonaro de maneira discreta, sem engajamento público. Rejeitaram Lula e o PT influenciados pela Operação Lava Jato, mas hoje se sentem decepcionados. Embora também vejam viés nas decisões do STF, reprovam a tentativa de Bolsonaro de permanecer no poder após a derrota em 2022.

Esse sentimento também tem camadas. Muitos percebem agora que pagam um preço alto por terem colocado a disputa ideológica acima dos relacionamentos. "Eles abraçaram cegamente essa disputa. Misturaram torcida de futebol e fanatismo religioso e viram o quanto perderam", contou outro pastor, também de forma anônima.

Seu silêncio também revela uma decepção com a postura de políticos evangélicos. Sentem que, por causa dessa disputa, sua bancada se revelou movida pela busca de poder, não pela conquista de almas.

Essa situação poderia parecer favorável à esquerda às vésperas de um ano eleitoral, mas talvez não seja.
Os mais radicalizados guardam um ressentimento adormecido que deve impulsionar a militância a repensar os erros e corrigir o curso. Se vencerem, promoverão uma caça às bruxas contra quem não os apoiou.

Os decepcionados provavelmente terão, no segundo turno, que escolher entre Lula e um nome novo. E devem se inclinar a votar pela novidade —movidos pelo desejo de virar a página e superar a polarização, que, em sua visão, desviou energia demais do país em um momento de tantos desafios, internos e externos.

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