segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Ruy Castro - O criador anônimo, FSP

 

O logotipo de James Bond, 007, todos conhecem. O 7 é a coronha da pistola, a que se acoplou o gatilho e o cano de uma Walther PPK. Para alguém com licença para matar, nada melhor como cartão de visita. O pôster de "Amor, Sublime Amor" (1961) —"West Side Story", claro—, também já dizia tudo: a silhueta de um casal dançando nas escadas de incêndio de um edifício depauperado. E o de "Cabaret" (1971)? Um totem luminoso de teatro com Liza Minnelli encarapitada nele. E o de "Manhattan" (1979), de Woody Allen? As silhuetas de edifícios-símbolo de Nova York, como o Empire State, o Chrysler, as Torres Gêmeas e o Citicorp Center, soletrando a palavra "Manhattan" para formar o famoso skyline.

Logotipo de 'James Bond 007' na entrada do Burlington Arcade, em Londres - Tolga Akmen - 4.out.21/AFP

Tenho fascínio por artes gráficas e sempre quis saber de quem eram essas marcas. Em vão —os créditos dos filmes não as atribuíam a pessoas, mas a empresas que não me diziam nada. Agora sei. São todas de autoria de Joe Caroff, um designer gráfico morto há dias em Nova York, aos 103 anos.

Caroff não era famoso nem entre os colegas. Ao contrário deles, não assinava os desenhos, não fazia exposições, não publicava portfólios. Só trabalhava. E, como fazia isso muito bem, era requisitado por editoras de livros, companhias de teatro e produtores de cinema. Chegou a produzir uma capa de livro por dia. Para ele, estava bom —"Sou só um prestador de serviços", dizia.

Caroff recebeu US$ 300 pelo logotipo de 007, criado para um filme de produção modesta, "O Satânico Dr. No", em 1962. Nada mal, porque a marca só lhe tomou alguns minutos para bolar e uma hora para executar. Como ele poderia adivinhar que aquele seria o primeiro de uma bombástica série de filmes, hoje no 25º? Todos explorando o famoso logotipo, pelo qual nunca mais recebeu um centavo —e nunca se queixou.

Ele foi também o autor dos belíssimos cartazes de "Os Reis do Iê-Iê-Iê" (1964), dos Beatles, "Último Tango em Paris" (1972), com Marlon Brado, e "Zelig" (1983), também de Woody Allen. Sempre anônimo, como parecia gostar.

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