quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Desfaçatez política está a serviço do INSS, Romulo Saraiva- FSP

 Há um quarto de século, as últimas reformas previdenciárias realizadas no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) tiveram como justificativa a necessidade de regras mais rígidas em prol do bem-estar financeiro do sistema.

Os argumentos eram cíclicos. Necessidade de sustentabilidade financeira, preocupação com a transição demográfica e desequilíbrio fiscal. Todas convergentes na ideia: reformar hoje para garantir o amanhã.

Desde 1998, senadores e deputados federais se revezam nesse enredo, quase um mantra, para convencer o eleitorado a ter reformas previdenciárias extremamente duras. Mas em 2025 estes mesmos parlamentares esqueceram por um momento seus históricos argumentos.

A imagem mostra a fachada de um prédio do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) com uma porta de entrada em destaque. O nome 'INSS' está visível na porta, que possui um design arquitetônico clássico. Ao fundo, há outros prédios, incluindo um de cor verde e outros de tons neutros, sob um céu claro.
Superintendência Regional do Instituto Nacional do Seguro Social Sudeste I (INSS), localizada no Viaduto Santa Ifigênia, no centro histórico de São Paulo - Rafaela Araújo/Folhapress

O INSS, sempre tratado como desequilibrado financeiramente, apenas neste ano passou a ser visto como superavitário, visto que os parlamentares votaram no Congresso Nacional para que os recebíveis sejam adiados durante 25 anos.

Nesta semana, está sendo promulgada a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 66, de 2023, do senador Jader Barbalho Filho (MDB-PA), que autoriza municípios a parcelarem, a perder de vista, as dívidas com o INSS.

Ficará autorizado o parcelamento dos débitos decorrentes de contribuições previdenciárias dos municípios com o INSS, incluídas suas autarquias e fundações, mesmo em processos de execução fiscal ajuizados e aqueles parcelados anteriormente. O prazo inicial será de 20 anos em prestações mensais, podendo ser prorrogado por mais cinco anos.

Assim, de repente nossos parlamentares entenderam que o INSS pode esperar para receber valores que ajudam a pagar benefícios a milhares de brasileiros. A medida vai de encontro a tudo que se alardeava.

Em 1998, ano da criação da emenda constitucional 20, o então ministro da Previdência Social, Reinhold Stephanes, demonstrou preocupação com o saldo operacional negativo do INSS. Na exposição de motivos para a reforma, argumentou que seria necessário mudar as regras para "viabilizar financeiramente a Previdência Social, tornando-a ao mesmo tempo mais justa" e "garantir o pagamento dos benefícios previdenciários às próximas gerações, legando aos nossos filhos e netos um patrimônio construído com o esforço solidário de todos os brasileiros".

Em 2003, quando foi realizada outra reforma previdenciária, o ministro da Previdência da época, Ricardo Berzoini, fundamentou na exposição de motivos a necessidade da "persecução do equilíbrio financeiro e atuarial" pois "só assim será possível um sistema previdenciário verdadeiramente justo, viável e sustentável no longo prazo".

Em 2019, o então ministro Paulo Guedes defendeu uma reforma austera para melhorar a "sustentabilidade da nova Previdência, contribuindo para a redução do elevado comprometimento dos recursos públicos" e evitar o "crescimento explosivo da dívida pública".

A depender dos interesses políticos, há uma flexibilidade em promover a defesa das contas do INSS ou não.

O INSS padece de diferentes problemas em sua arrecadação. Mas o governo tem contribuído para esse agravamento, a exemplo de reiterados Refis, desoneração da folha de pagamento, desvinculação das receitas e falta de rigor em conceder certidão de beneficência para grandes conglomerados de hospitais e universidades, isentando-os de pagar contribuição previdenciária. Agora, foi a vez de dificultar que o INSS receba mais recursos devidos pelos municípios.

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