O roteiro da audiência é o puro suco da desinformação e do golpismo. O primeiro tema da pauta será a atuação da USAID, agência de cooperação internacional dos EUA, acusada de “ameaçar a soberania nacional” nas eleições de 2022.
Para sustentar essa narrativa, foi convidado Mike Benz, ex-funcionário do governo Trump e atual referência da ultradireita global contra a “censura online”. Não é a primeira vez que ele será recebido no Congresso. Há cerca de três semanas, ele usou o Parlamento para disseminar as mais rasteiras teorias da conspiração sobre o Brasil.
Não se engane. Benz não é um especialista neutro: antes de se apresentar como defensor da liberdade de expressão, atuava sob o pseudônimo Frame Game, promovendo teorias conspiratórias supremacistas e conteúdos racistas e antissemitas.
Outra peça do espetáculo no Senado será o relatório “Arquivos do 8 de Janeiro”, do jornalista Michael Shellenberger, que acusa Alexandre de Moraes e seus auxiliares de comandarem uma “força-tarefa judicial secreta” para prender golpistas.
Complementando o palco, Eduardo Tagliaferro, ex-chefe da assessoria de Moraes no TSE, também estará na sessão. Indiciado por violação de sigilo funcional e denunciado pela PGR por tentativa de subversão da ordem democrática, Tagliaferro vai usar a audiência para dar visibilidade à “Vaza Toga 3”, publicada recentemente pela Revista Oeste e que ele promete levar ao Parlamento Europeu.
O material é um conjunto de mensagens trocadas entre funcionários do gabinete de Alexandre de Moraes com quase nenhum valor de notícia – mas que, nas mãos do extremismo bolsonarista, se tornou uma suposta prova cabal de ilegalidades cometidas pelo STF e pelo TSE.
O requerimento da audiência que trará essa salada de frutas do golpismo, assinado por Eduardo Girão e Magno Malta, deixa claro o objetivo: deslegitimar o STF e reforçar a narrativa de que o golpe teria sido uma invenção da Justiça.
A participação de Benz e Tagliaferro expõe a disposição da extrema direita de usar a estrutura do Estado e plataformas internacionais para pressionar o STF. Além disso, evidencia que os crimes julgados pelo Supremo seguem sendo cometidos dentro das instituições.
Não queria dizer isso, mas a tentativa de golpe de 2023 não foi um episódio isolado: ela continua em curso, renovada em diferentes formas de sabotagem. A prisão de Bolsonaro é necessária, mas não suficiente — a engrenagem criminosa precisa ser interrompida por completo.
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