Nesta segunda-feira (30), ao sair do debate promovido pela Folha e UOL, o candidato Pablo Marçal, que concorre à Prefeitura de São Paulo, chamou sua adversária Tabata Amaral de "talarica", termo que se refere a uma mulher que rouba o marido ou namorado de outra e que eu jamais imaginaria ouvir dentro do contexto de uma campanha eleitoral.
"Você destruiu o sonho de uma mulher que tinha sete anos de namoro" disse o coach, se referindo ao fim do relacionamento de João Campos, atual prefeito do Recife, com sua ex-noiva. "Eu só tenho a dizer que você é uma talarica, Tabata. Você tinha que respeitar as mulheres."
A aparente defesa de Marçal ao público feminino deve ser encarada como nada mais que uma defesa de si mesmo. Segundo as últimas pesquisas, Pablo desponta como o mais rejeitado dos candidatos, especialmente entre as mulheres, grupo em que a taxa de rejeição do candidato chega a 57%. A quem anda acompanhando o reality show de quinta categoria em que Marçal transformou a corrida pela prefeitura da maior cidade da América Latina, o número não há de provocar qualquer surpresa.
Ao longo de sua campanha, Pablo tem se esforçado para ser o mais viril dos candidatos. A tentativa regada a testosterona fica evidente na agressividade frente a seus oponentes homens e no tom condescendente com que se dirige às concorrentes mulheres.
Mas observar os ataques que Pablo direciona aos outros candidatos versus a estratégia que utiliza para enfraquecer o pleito de Tabata, especificamente, revelam mais do que sua própria misoginia, mas a maneira como a barra que estabelecemos para a moral das mulheres é bem diferente daquela com que medimos a moral masculina.
No próprio debate que antecedeu a menção à talaricagem, Marçal atacou seus adversários homens com acusações que incluíam envolvimento com o crime organizado, uso de drogas, violência física contra a mulher, depredação de patrimônio, superfaturamento e desvio de dinheiro público.
À Tabata, no entanto, o candidato inicialmente teceu elogios: disse que era a mais inteligente, aquela com as melhores propostas e com o melhor plano de governo. Em dado momento, sugeriu que poderia trazê-la para ser secretária da educação em seu governo. Se as falas refletem de forma legítima o que pensa o candidato é difícil afirmar. Pessoalmente, me parece mais uma tentativa de trazer o público feminino para o seu lado.
Porém, diante das negativas da oponente de cair em sua lábia, Pablo partiu para o ataque. Na ausência de grandes escândalos políticos para atribuir à adversária, Marçal resolveu desferir um golpe no lugar onde de fato as mulheres são julgadas: na dicotomia entre ser sagrada ou profana.
Na análise de Pablo, Tabata tenta "vender ao público uma imagem de pureza", talvez por ele mesmo acreditar que essa seja a maior virtude que uma mulher pode oferecer em qualquer arena que adentre.
Ao chamar Tabata de "talarica", o coach lhe implica o contrário, apelando para a moral tradicional feminina e à ideia de que não há roubo mais vil que uma mulher possa cometer do que aquele em que ela se utiliza de seu poder de sedução para roubar um pobre homem indefeso dos braços de outra.
Não entrarei no mérito da veracidade da referida talaricagem, mas posso afirmar com muita certeza que o atual namorado de Tabata não está sofrendo com o mesmo tipo de acusação em sua campanha para um segundo mandato como prefeito do Recife.
Ao final de sua fala, olhando para a câmera, Pablo recomenda que Tabata respeite as mulheres. Pois eu me sinto na obrigação de dizer o mesmo a ele: Nos respeite, candidato Marçal. Respeite nossas escolhas e não insulte nossa inteligência.
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