quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Deirdre Nansen McCloskey - Por uma engenharia de verdade, FSP

 Através do milagre da internet, tenho assistido a várias palestras de Stephen Ressler, professor de engenharia aposentado da Academia Militar dos Estados Unidos. Você pode vê-las em "The Great Courses", da Teaching Company.

As palestras de Ressler são ótimas. A série sobre arquitetura grega e romana, por exemplo, narra com sabedoria, humor e exposição totalmente lúcida, em 24 palestras, o quanto os antigos foram incríveis, e subestimados, na construção. Ressler relaciona as estradas, edifícios, pontes, aquedutos e o resto à ciência básica utilizada. Ele dá aulas semelhantes de ciência aplicada na série sobre erros de engenharia e as lições que eles ensinam, como os do avião 737 MAX, da Boeing.

Um de seus temas é que a ciência por si só pode enganar os engenheiros, especialmente quando eles experimentam novidades. Muitas vezes, o que é necessário não é mais matemática, mas testes em pequena escala e ter um conhecimento profundo do que funcionou na prática.

Economistas e políticos têm nos dito com confiança crescente, nos últimos dois séculos, que podem ter êxito em "engenharia social" e ciência aplicada, "como fazem os físicos". Mas eles não sabem nada sobre o que realmente é utilizado na física ou na engenharia. Sua prática raramente atinge o padrão de cuidado que os engenheiros e físicos empregam. Quero dizer, "nunca".

O economista George DeMartino escreve sobre o "nunca" em dois livros brilhantes, "The Economist’s Oath: On the Need for and Content of Professional Economic Ethics" (2011) e "The Tragic Science: How Economists Cause Harm - even as they aspire to do good" (2022). Os engenheiros, aponta DeMartino, têm um elaborado código de ética sobre todos os detalhes da construção —projeto, escolha de materiais, construção, testes e retestes. Os economistas não.

A ponte de Millau, no sul da França, em 2004, ano em que foi concluída; é uma das mais altas do mundo - Éric Cabanis - 27.mai.04/AFP

É verdade que economistas que assessoram governos ou empresas privadas são mais concretos e práticos do que os economistas acadêmicos. Um artigo de um professor de teoria dos jogos ou de economia internacional, por exemplo, exibe um lindo modelo matemático, extrai resultados hipotéticos e então afirma a "relevância política" da matemática. É como fazem os engenheiros desde o início do século 19, como explica Ressler, que em muitos casos de erro deixaram seus modelos matemáticos superarem sua experiência histórica e até mesmo seu senso comum.

Eu disse que os economistas que trabalham com políticas do mundo real se saem melhor. Mas mesmo no meu amado Cato Institute, onde levamos muito a sério nossas recomendações ao governo, e não apenas especulamos, deveríamos fazer mais cálculos quantitativos e mais investigação histórica, como fazem os engenheiros. Quando uma engenheira pensa sobre as tensões do peso ou a influência do clima sobre uma viga de uma ponte, ela pergunta insistentemente qual é a magnitude das forças de compressão, tensão e torção e se elas causariam uma falha nessa ponte.

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A menos que consigam se equiparar aos padrões da engenharia, os economistas deveriam vender sabedoria, não engenharia social.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves


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