Está certo. O mais importante é que as calçadas das cidades sejam planas, acessíveis e sem buracos, o que acontece pouco em São Paulo. Mas elas também podem ser uma marca de identidade, como se vê no Rio de Janeiro e nos seus pisos com ondas em Copacabana. Em vez de serem apenas locais de passagem, elas se tornam algo belo, uma característica estética do lugar.
O centro de São Paulo, a partir do final dos anos 1960, passou a ter suas calçadas feitas de pedras portuguesas com um mapa estilizado do estado. O prefeito José Vicente Faria Lima, que governou a cidade entre 1965 e 1969, talvez observando o que acontecia no estado vizinho, quis ter uma calçamento para chamar de seu e abriu um concurso público para desenhá-lo. Quem acabou ganhando foi a artista plástica Mirthes Bernardes, falecida em 202o.
O uso da pedra portuguesa vem do período colonial, quando se decide trazer para o Brasil o mesmo padrão de piso usado em Lisboa. A primeira cidade do país que ganha um calçamento desse tipo é Manaus e depois vem o Rio de Janeiro. A calçada de onda também é uma importação e pode ser vista, por exemplo, na praça do Rossio, na capital portuguesa.
A calçada paulistana de mapa começou a ser instalada na rua da Consolação e tomou todo o centro durante décadas. Hoje, o que se vê são fragmentos desse belo piso em lugares como a avenida São Luís, o viaduto Nove de Julho, a rua Maria Paula e a Assembleia Legislativa.
Embora no presente o padrão seja mais funcional, ele é feio. As calçadas estão sendo feitas de concreto com uma faixa de acessibilidade para deficientes visuais. A própria Consolação ganhou esse novo estilo de quatro anos para cá e todo o centro velho está sendo pavimentado com o mesmo material, assim como foi feito na avenida Paulista, que tinha um piso de pedra portuguesa desenhado pela artista Rosa Kliass.
De um modo geral, o proprietário do imóvel é responsável pela calçada que há em frente à sua casa, explica Wans Spiess, que lidera um projeto de ativismo urbano chamado "Calçada SP", cujo objetivo é chamar a atenção para a história e o valor cultural desses pisos.
"Mas em vias de muito movimento, como as do centro da cidade, em praças ou diante de hospitais e prédios públicos, a Prefeitura acaba assumindo essa responsabilidade pela instalação e conservação das calçadas", completa.
Nos anos 1990, segundo Spiess, começou uma grande reforma no Centro e as calçadas com mapa rarearam. "Houve uma razão prática para isso: a falta mão de obra para cuidar delas", diz. O piso de pedra portuguesa, se não for bem feito, fica irregular a escorregadio, dificultando a vida de pessoas com deficiência." Alguns materiais substituem a pedra portuguesa, como o granito e o ladrilho hidráulico.
Há algumas calçadas interessantes na cidade. Na Casa das Rosas, na Paulista, existe um vestígio em pedra portuguesa do antigo projeto de Kliass. Outra calçada legal é a do Conjunto Nacional que se integra com o interior da galeria.
Vale conhecer também o piso que cerca a Biblioteca Mário de Andrade, concebido pela artista plástica Regina Silveira. Nele está escrita a palavra biblioteca em 12 idiomas. Um exemplo de uma bonita calçada concebida pela iniciativa privada é a da rua Avanhandava, onde fica o restaurante Famiglia Mancini.
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