Washington Olivetto jamais chovia no molhado e detestaria saber que um texto a seu respeito começou com tal chavão.
Era a originalidade em pessoa. OK, você dirá, muito além disso, era a criatividade em pessoa.
Capaz de pegar uma frase jogada no ar e transformá-la em marca mundialmente conhecida. "Democracia Corinthiana", por exemplo. Ou dizer que "o primeiro sutiã a gente nunca esquece", ou que "é possível contar um monte de mentiras, dizendo só a verdade".
Pois aqui só se dirá a verdade na primeira vez em que ele será tratado no passado, algo que adoraria poder esquecer, por não estar previsto, por ser tão cedo, logo depois de ele ter completado apenas 73 anos, no último dia 29.
Poucas pessoas gostaram de viver e aproveitaram a vida como Olivetto —Oliveira para os íntimos.
Tinha na ponta da língua os melhores restaurantes e os recomendava com entusiasmo, fosse em João Pessoa, Paris, San Francisco, Tóquio ou, é claro, Rio de Janeiro.
Pela capital da Paraíba apaixonara-se recentemente, ao ir palestrar por lá. O Rio o paulistano sempre amou, a ponto de apontar um único defeito na cidade, o de não ter Corinthians. Aliás, Londres, onde passou a maior parte do tempo nos últimos anos, padeceria do mesmo problema.
Ser amigo dele, contam seus amigos, sempre foi uma dádiva. Porque cada um virava o melhor em sua atividade, sem concessões.
Louco por música brasileira, a W/Brasil, agência fundada por ele, virou sucesso de Jorge Benjor.
Jovem, usava gravata extravagantes, para chocar, e era estimulado pelos amigos, os melhores do planeta, repita-se, que o presenteavam com as mais estranhas a cada viagem pelo mundo afora.
Um dia, no centro do "Roda Viva", perguntaram, com ironia, porque ele se vestia tão discretamente. A resposta veio na lata, sem pestanejar, acompanhada de sorriso cúmplice: "Porque sua mãe prefere".
Olivetto andava triste com a profissão de publicitário e temia que voltasse a ser escondida pelos profissionais da área, como nos tempos do começo de sua carreira. Então, lembrava, nem a ficha do hotel era preenchida com a profissão, situação mudada por ele e por uma brava geração de publicitários.
Andava preocupado também com o time de coração e, não menos, com a onda obscurantista que varre o mundo, particularmente, o Brasil. Até romper rompeu com velhos amigos que aderiram ao negacionismo e às ideias fascistóides. Mas, como, se política não era exatamente de seus temas preferidos?
Simplesmente porque sempre teve bom gosto. Olivetto se orgulhava de não fazer campanhas eleitorais, no máximo era capaz de dar uma ideia aqui, outra ali, para amigos candidatos.
Sequestrado por 53 dias em dezembro de 2001, chamava o sequestro de "mico" e preferia deixar o assunto de lado porque, afinal, havia tantas coisas mais agradáveis para conversar.
Tinha a exata percepção de seu tamanho e não escondia de ninguém a satisfação de ser quem era. Ao ir embora antes da hora deixará dezenas de garçons, que chamava pelos nomes, órfãos, e incontáveis amigos inconformados por não mais receberem suas ligações pelas madrugadas da vida.
Chamá-lo de o Pelé da publicidade brasileira será apenas quase outro chavão, mas soaria mais agradável aos seus ouvidos, embora ídolo esportivo dele, além do Doutor Sócrates, fosse Wlamir Marques, o Diabo Loiro, gênio do bola ao cesto brasileiro, bicampeão mundial e nome do ginásio do Corinthians, em Parque São Jorge.
Porque, se não bastassem todos os seus talentos, Washington Olivetto se gabava de ter jogado basquete com maestria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário