domingo, 20 de outubro de 2024

Para o Nobel, a Inteligência Artificial é a nova dinamite, Ronaldo Lemos - FSP

 O prêmio Nobel sempre esteve ligado a transformações tecnológicas. Afinal, foi criado pelo químico e engenheiro sueco Alfred Nobel, o inventor da dinamite. A tecnologia desenvolvida em por ele em 1867 levou a avanços na construção civil e na mineração. Foi também usada em guerras e conflitos armados.

Em 1888 seu irmão Ludvig faleceu. O jornal francês Le Figaro se confundiu e publicou um obituário de Alfred Nobel, chamando-o de "o mercador da morte". O obituário fake causou um impacto profundo em Alfred, que decidiu dedicar parte da fortuna para criar o prêmio Nobel. Destacando assim conquistas positivas e avanços em várias áreas.

A imagem é uma composição de dois elementos. Na parte superior, há o logotipo da OpenAI, que consiste em um símbolo geométrico preto semelhante a uma flor estilizada, seguido pelo nome "OpenAI" em letras pretas. Abaixo do logotipo, ocupa a maior parte da imagem uma placa de circuito de computador em tons de azul, mostrando trilhas, componentes e conexões típicas de hardware eletrônico.
Logo da OpenAI sobreposto a uma placa eletrônica - Dado Ruvic/REUTERS

Corte para 2024. O prêmio Nobel acaba de ser anunciado. Uma outra tecnologia explosiva aparece em várias categorias da premiação: a inteligência artificial (IA). Tal como a dinamite, a IA tem o potencial de gerar avanços em diversas áreas. Mas também traz riscos como concentração, desemprego ou armas autônomas e biológicas.

Na física, o prêmio foi para John Hopfield e Geoffrey Hinton. Ambos tiveram um papel importante no desenvolvimento do aprendizado de máquina e das redes neurais, que são a base da IA atual. Hinton tem sido nos últimos anos um dos maiores críticos da IA, alertando sobre os riscos e pedindo a desaceleração da tecnologia.

Na química os vencedores são os criadores do AlphaFold, a IA capaz de prever a estrutura de proteínas com alta precisão. A tecnologia, criada pelo Google, permite o desenho computacional de novas proteínas com aplicações em áreas como medicina, nanotecnologia e ciências ambientais.

PUBLICIDADE

Na economia venceu o brilhante economista Daron Acemoglu e seus associados. Acemoglu é outro crítico da inteligência artificial. Ele desfaz, por exemplo, a ideia de que a IA leva ao aumento da produtividade. Em maio ele publicou um estudo mostrando que o ganho de produtividade trazido pela IA será de menos de 0,53% nos próximos 10 anos, além do risco de aumentar a desigualdade de renda entre capital e trabalho.

Na superfície, esses foram os três prêmios relacionados à inteligência artificial. Mas há um outro que está conectado indiretamente ao tema. O Nobel da paz deste ano foi dado à organização Nihon Hidankyo, fundada por sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima.

A organização luta contra a existência de armas nucleares e seus integrantes têm sido críticos também à expansão do uso da energia nuclear, especialmente após o desastre de Fukushima.

Três dias após a divulgação do Nobel de 2024, empresas atuando em inteligência artificial anunciaram que vão apostar no uso da energia nuclear para alimentar seus datacenters. A ideia é construir novos reatores e reativar plantas nucleares que haviam sido desativadas (uma delas por conta de um acidente em 1979).

Minha visão: espero que no futuro a energia renovável seja preferida à energia nuclear para alimentar a IA. Essa escolha está mais em sintonia com os princípios do Prêmio Nobel.

Já era – usar combustível fóssil para alimentar datacenters

Já é – buscar energia renovável (solar, eólica etc.) para alimentar datacenters

Já vem – perceber que energia nuclear não é energia verde

Nenhum comentário: