segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Hélio Schwartsman - O que é vencer as eleições?, FSP

 Para lideranças político-partidárias como Lula, Jair Bolsonaro e Gilberto Kassab, o que significa vencer as eleições municipais? Basta empilhar corridas em que teve êxito ou é necessário emplacar candidatos que de fato as representem?

Eu diria que as duas coisas importam, apresentam diferentes graus de dificuldade e atendem a objetivos diversos.

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O ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab (PSD), cujo partido foi o maior vitorioso nas eleições municipais - Ronny Santos/Folhapress

Pelo critério do acúmulo de vitórias, o PSD de Kassab é o campeão. O partido fez 891 prefeituras. O PL de Bolsonaro ficou com 517 (5º lugar), e o PT, 252 (9º lugar).

Não dá para brigar com os números, mas tampouco dá para deixar de reparar que as lideranças jogaram jogos diferentes. Kassab não tem pretensões ideológicas. Atraiu para sua sigla, via transferências, tantos prefeitos quantos pôde. Fez uma razia sobre os despojos do PSDB.

Em novembro de 2023, o PSD contava com 968 prefeituras, como mostrou reportagem do Poder360. Ou seja, o partido "venceu" mesmo tendo perdido prefeituras em relação ao que tinha antes do pleito.
Isso serve aos objetivos de Kassab. Partidos que vão bem em municipais tendem a ir bem no pleito para a Câmara federal dois anos depois. E ir bem na Câmara significa ter acesso a mais verbas dos fundos partidário e eleitoral e a mais poder, num contexto em que o Legislativo abocanha nacos maiores do Orçamento.

Lula e Bolsonaro se preocuparam menos com a Câmara e mais com a próxima disputa presidencial. Tentaram vencer em praças simbolicamente relevantes e com candidatos ideologicamente próximos. Não se saíram bem nessa tarefa. Lula ainda teve a prudência de sumir das campanhas para não se envolver tão diretamente nas derrotas. Já Bolsonaro atravessou várias ruas para escorregar na proverbial casca de banana do outro lado.

Em Curitiba, ele abandonou o candidato que se sagraria vitorioso no segundo turno para abraçar a perdedora. Em Goiânia, brigou com um governador aliado (Ronaldo Caiado) apenas para assistir in loco à derrota de seu pupilo. Em São Paulo, suas hesitações mostraram impotência (brochabilidade, em bom bolsonarês) diante do fenômeno Pablo Marçal.


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