sábado, 26 de outubro de 2024

Como o eleitor racional deve agir?, Hélio Schwartsman, FSP

 25.out.2024 às 14h00

SÃO PAULO

Como o eleitor racional deve agir neste domingo (27)? Se o Brasil adotasse o voto facultativo, a resposta seria simples: não votar. Mas, como por aqui o comparecimento é em tese obrigatório, é necessário fazer uma conta antes de chegar a uma conclusão.

Se os seus custos com transporte mais o preço que você atribui a seu tempo excederem R$ 3,51 (valor da multa por turno perdido), fique em casa ou vá passear e depois regularize sua situação com a Justiça Eleitoral. Dá para fazer tudo pela internet, em tempo inferior ao que você levaria para votar.

Urnas eletrõnicas armazenadas em São Paulo; elas estarão disponíveis para o eleitor votar neste domingo (27) - Rubens Cavallari - 23.ago.22/Folhapress

Como imagino que existam leitores revoltados com este "conselho", eu me explico. Não estou sugerindo que a política não seja importante nem que todos os candidatos se equivalham. Ela é importantíssima e perfil ideológico e características individuais dos eleitos fazem diferença. O que não faz é o seu voto.

A menos que você more numa cidade muito pequena onde a disputa seja acirradíssima, é desprezível a probabilidade de o seu voto individual alterar o resultado. Quem quiser maximizar sua utilidade, uma definição comum de racionalidade, deve empregar seus recursos em outras atividades.

A questão é que, para o bem e para o mal, não vivemos num mundo hiper-racional. Se vivêssemos, não haveria tanto desperdício, o que permitiria resolver o problema da fome. Também não cairíamos em armadilhas do tipo "tragédia dos comuns", o que facilitaria o enfrentamento da mudança climática. O próprio populismo não teria espaço para prosperar, já que as pessoas fariam contas antes de acreditar em promessas vazias.

Por outro lado, num mundo 100% racional, ninguém daria gorjeta num restaurante a que não pretende voltar e esposas abandonariam seus maridos doentes para ficar com um parceiro saudável. Sob o primado da utilidade máxima, sempre vale a pena roubar a carteira do melhor amigo, se tivermos garantia de não ser apanhados.

Mas divago. Meu ponto é mais simples. Como é zero a chance de ninguém aparecer para votar, não há necessidade de instituições autoritárias como o voto obrigatório.

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