quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Deirdre Nansen McCloskey - Notícias sem curadoria, FSP

 Eu só consigo encarar museus de arte por duas horas. Minha mãe, por outro lado, uma vez visitou Madri e passou o dia inteiro no Prado, da abertura ao fechamento, durante cinco dias. Eu não sou muito informada, digamos.

Mas, como dizem, para minhas empreitadas de duas horas eu sei do que gosto. Gosto de museus de arte com curadoria profissional, como o Prado ou o MASP, ou meu amado Art Institute em minha terra de longa data, Chicago.

O contraste é com as coleções de amadores ricos. O Gardner em Boston, por exemplo, tem uma coleção variada, informada pelo gosto de Isabella Stewart Gardner, não por um estudo profundo e profissional da história da arte. A Phillips Collection em minha nova cidade, Washington, é menor, mas igualmente idiossincrática e amadora. O pior que visitei foi o Barnes na Filadélfia, agora em seu próprio prédio, construído para esse fim no centro da cidade, a algumas quadras do grande e profissionalmente curado Museu de Arte da Filadélfia.

O Barnes tem 140 Renoirs. Cento e quarenta! Renoir é adorável. Mas uma profissional teria vendido a maioria deles para comprar, digamos, alguns Manets ou Tarsilas, ou mesmo a coleção de móveis americanos Shaker no terceiro andar do Filadélfia, que me levou literalmente às lágrimas. E ela teria se livrado das centenas de dobradiças e fechaduras antigas que o testamento de Albert C. Barnes insistiu que fossem exibidas junto com os Renoirs.

Qual é o ponto? Este: nossas notícias já tiveram curadoria, como os museus de arte profissionais. A Folha, fundada em 1921, é composta por jornalistas profissionais comprometidos com os fatos –e de vez em quando um jornalista amador como eu. As estações de TV eram poucas, e com equipes profissionais.

Banca de jornal em São Paulo - Karime Xavier/Folhapress

Agora a internet trouxe os amadores para o negócio de notícias. Hoje somos informados, ou grosseiramente desinformados, por amadores como Gardner, Phillips ou Barnes. Durante o século 19 e estendendo-se até a era de ouro das notícias curadas, antes da internet, a invenção da prensa a vapor trouxe os jornais de grande circulação para seu próprio campo, tornando-os independentes de partidos políticos, se quisessem, por suas grandes receitas de publicidade. No século 18, no qual foi inventado o jornal, ele só podia ser impresso em pequenas tiragens. Os jornais proliferavam, mas não tinham independência de receita. Durante a década de 1790, por exemplo, metade dos numerosos, mas pequenos jornais da Grã-Bretanha, eram secretamente propriedade do governo. Isso na terra das nossas primeiras liberdades.

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As "notícias" sem curadoria arruinaram nossa política. As pessoas, especialmente os homens, obtêm suas "notícias" de lunáticos divertidos que povoam a internet. O rádio já esteve nesse negócio de circular maluquices, e ainda está com os comentaristas fascistas. Mas a internet permite que as pessoas façam o que consideram longas "pesquisas", atraindo-as, para usar a metáfora de "Alice no País das Maravilhas", para várias tocas de coelho. As teorias conspiratórias proliferam, como a afirmação de Trump de que ele venceu a eleição de 2020.

Talvez isso se ajeite, produzindo notícias responsáveis e curadas como as da Folha ou do New York Times. Mas não vejo como.


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