Segundo projeções do IBGE, em 2070, no Brasil, os mais jovens serão apenas 12% da
população e os mais idosos, 37,8%. Essa afirmação revela uma realidade demográfica
iminente: o envelhecimento acelerado da população global. Não é uma novidade que a
expectativa de vida tenha aumentado significativamente nas últimas décadas, fruto do
progresso na medicina, melhorias no saneamento e ampliação do acesso à saúde.
Contudo, essas conquistas trazem consigo desafios complexos para a sociedade, a
economia e a cultura, que precisarão se adaptar a uma estrutura populacional cada vez
mais envelhecida.
A mudança na pirâmide etária, com uma base mais estreita de jovens e um topo mais
largo de idosos, sinaliza uma transformação estrutural que impacta todos os aspectos da
vida moderna. À medida que a população de idosos cresce, o papel do Estado, das
famílias e do mercado de trabalho passa a ser questionado. O crescimento da população
idosa, que em 2070 poderá representar mais de um terço da população em alguns
países, como é o caso do Brasil, aponta para a necessidade urgente de repensar políticas
públicas, especialmente nas áreas de previdência, saúde e assistência social.
Um dos impactos mais evidentes desse envelhecimento populacional é o crescente peso
da previdência sobre as finanças públicas. No sistema atual de muitos países, a
previdência é financiada por um esquema de repartição, no qual os trabalhadores ativos
sustentam as aposentadorias dos inativos. Com uma base cada vez menor de jovens e
trabalhadores, e uma proporção crescente de aposentados, o sistema previdenciário
tradicional se tornará insustentável. Em muitos países, como o Brasil, essa pressão já se
faz sentir, e reformas previdenciárias estão sendo debatidas e algumas já foram
implementadas, visando a aumentar a idade de aposentadoria e ajustar as contribuições
e benefícios.
Entretanto, a questão vai além da simples matemática da arrecadação e do pagamento
de benefícios. A longevidade pode ser considerada uma conquista social, mas é
necessário que seja acompanhada de qualidade de vida. Uma população idosa saudável
pode continuar a contribuir para a economia, reduzindo a pressão sobre os sistemas de
saúde e previdência. Porém, a realidade muitas vezes revela o contrário: o aumento da
idade traz consigo problemas crônicos de saúde, maior dependência de cuidados
médicos e, em muitos casos, dificuldades financeiras para manter uma vida digna. Assim,
o debate sobre a previdência precisa incorporar uma visão holística, que considere tanto
a sustentabilidade fiscal quanto as condições de vida dessa população crescente.
Além da previdência, o sistema de saúde será fortemente impactado por essa nova
realidade demográfica. O envelhecimento da população tende a aumentar
significativamente a demanda por serviços de saúde, tanto no que se refere à atenção
básica quanto aos cuidados mais especializados e de longo prazo. Doenças crônicas,
como diabetes, hipertensão e demência, que têm maior incidência entre os idosos,
exigem um sistema de saúde mais robusto e preparado para lidar com uma demanda
crescente e contínua.
Além disso, o modelo de cuidado com os idosos também precisará ser revisitado.
Tradicionalmente, o cuidado era fornecido majoritariamente pelas famílias,
especialmente em sociedades mais conservadoras. No entanto, com a crescente
urbanização, mudanças nas dinâmicas familiares e a inserção mais plena da mulher no
mercado de trabalho, esse papel precisa ser redistribuído. A demanda por lares de
idosos, profissionais qualificados em geriatria e sistemas de suporte ao envelhecimento
ativo e saudável tende a crescer exponencialmente.
O aumento da população idosa também terá implicações profundas para a economia.
Uma sociedade com menos jovens e mais idosos pode enfrentar dificuldades para
manter altos níveis de produtividade. Com uma força de trabalho em declínio, a inovação
e o crescimento econômico podem ser afetados, e a pressão sobre os governos para
financiar as crescentes necessidades sociais e de saúde dos idosos pode restringir
investimentos em áreas estratégicas.
No entanto, há também oportunidades econômicas a serem exploradas. O chamado
“mercado prateado”, que abrange produtos e serviços voltados para a terceira idade,
como turismo, lazer, tecnologia assistiva e habitação especializada, está em expansão.
Além disso, políticas que incentivem o envelhecimento ativo e a permanência de pessoas
mais velhas no mercado de trabalho podem contribuir para mitigar parte do impacto
econômico. A criação de ambientes laborais mais flexíveis, que permitem que os idosos
contribuam de forma significativa, mas adaptada às suas capacidades e limitações, será
crucial nesse cenário.
Por fim, o envelhecimento populacional também traz desafios sociais e culturais. Em
uma sociedade que valoriza a juventude e a inovação, como lidar com uma maioria
idosa? Há o risco que os idosos sejam marginalizados ou considerados um “fardo” para
a sociedade, o que pode gerar tensões intergeracionais e aprofundar desigualdades.
Por outro lado, o aumento da longevidade também pode oferecer novas formas de
pensar a sociedade. Com mais tempo para viver, as pessoas podem buscar novas formas
de educação, participação social e contribuição cultural ao longo de toda a vida. O
conceito de “terceira idade” pode ser redefinido, não como um período de declínio, mas
como uma fase de renovação e oportunidades.
Esse cenário exige uma mudança de mentalidade: o envelhecimento deve ser visto como
um processo natural e positivo, desde que acompanhados de políticas que assegurem a
dignidade, a autonomia e a participação ativa dos mais velhos.
O futuro demográfico que se avizinha, com uma população majoritariamente idosa e
uma proporção reduzida de jovens, apresenta desafios imensos para as políticas
públicas, a economia e a cultura. A projeção de que, em 2070, no Brasil, os jovens serão
12% e os idosos 37,8% é um alerta para a necessidade de preparar nossas sociedades
para um novo paradigma de convivência e organização social. Essa transformação pode
ser uma oportunidade para criar uma sociedade mais justa, inclusiva e solidária, mas,
para isso, será necessário agir desde já, repensando o papel dos idosos, as formas de
cuidado e a organização do trabalho e da previdência.
Assim, ao invés de temer o envelhecimento, devemos abraçá-lo como uma nova
fronteira de possibilidades, tanto para os indivíduos quanto para as sociedades. O futuro
será, sem dúvida, mais velho – e a maneira como lidaremos com essa realidade definirá o curso de nossa civilização.
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