Quando Deus criou a humanidade, dividiu as pessoas em otimistas e pessimistas e condenou-as a nunca se entenderem. Hannah Ritchie, autora de "Not the End of the World", definitivamente pertence à primeira tribo.
O livro pretende ser um tranquilizante para aqueles que estão tão preocupados com a mudança climática que já cogitam não ter filhos por causa do aquecimento global e outras mazelas ambientais.
O notável na obra de Ritchie é que ela discorre sobre sua ambiciosa pauta (fantasiosa, diriam os pessimistas) sem recair em negacionismo climático. A mensagem do livro não é "está tudo bem", mas sim "já obtivemos avanços importantes", de modo que, em vez de cair em depressão e abulia, precisamos intensificar nossos esforços em aplicar aquilo que já sabemos que funciona e em buscar novos caminhos.
Outra característica relevante de "Not the End..." é que ele está calcado em sólida base empírica. Ritchie é cientista de dados. É uma das responsáveis pelo excelente site Our World in Data, da Universidade Oxford.
Ela consegue fazer uma interpretação otimista do mundo seguindo a receita de Hans Rosling, do qual se declara discípula, e de Steven Pinker. Em vez de realçar o último desastre climático, observe os efeitos de mudanças tenológicas sobre tendências de longo prazo. Os resultados positivos poderão surpreender.
E é exatamente isso o que ela faz para vários itens da pauta ambiental. O mundo já foi muito mais poluído do que é hoje; o pico das emissões per capita de CO2 provavelmente ficou para trás; já é possível alimentar o planeta inteiro sem derrubar florestas, que, aliás, estão ganhando terreno em algumas áreas do globo (infelizmente não as tropicais, de maior biodiversidade).
Penso que Ritchie, como outros superotimistas, por vezes subestima o risco de as coisas darem errado. Mas, mesmo que você aplique um bom desconto nas afirmações mais contundentes da autora, resta um livro profundamente informativo e gostoso de ler. O efeito tranquilizante, que varia de pessoa para pessoa, é um bônus extra.
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