Cedo ou tarde, os partidos de esquerda vão ter que formar uma federação partidária. Como disse na última coluna, a direita está construindo máquinas partidárias poderosíssimas. Para lhes fazer frente, a esquerda vai ter que se unir.
Não vai ser fácil.
Alguns partidos já estão federados: o PT tem uma federação com PC do B e PV. PSOL e Rede estão federados. Nos dois casos, a federação não chega a ser um projeto com uma grande visão compartilhada: servem para que os partidos menores sobrevivam à cláusula de barreira, que, pela reforma política de 2017, está se tornando mais alta a cada eleição.
É pouco. Não é assim que se vai fazer frente aos imensos Leviatãs da direita e da extrema direita em formação. E, se a esquerda não tiver veículos institucionais adequados, a hegemonia da direita pode sobreviver mesmo quando a maré ideológica virar. Sempre vira.
A grande questão é saber se as duas grandes legendas de esquerda, PT e PSB, topam fechar um acordo de longo prazo. Não será simples.
Em 2018, conversei com um dirigente histórico do PSB que me disse o seguinte: fechar com o PT faria sentido —o PSB se saiu mal naquela eleição por falta de alianças. Mas, se a distribuição de poder dentro da federação fosse proporcional ao tamanho de cada partido (o que faz sentido), bastaria que PT e PC do B concordassem para o PSB nunca ganhar nenhuma disputa com os petistas.
Um outro dirigente socialista me disse que o ideal seria uma federação que incluísse o PSB e o PDT. Somadas, as legendas fundadas por Arraes e Brizola seriam um contrapeso que colocaria limites à hegemonia petista dentro da federação, não só pelo tamanho de sua soma, mas pelas tradições políticas respeitáveis que representam.
Houve um esforço sério para construir a federação trabalhista/socialista já para a eleição de 2024, mas a coisa não prosperou, porque PSB e PDT tinham candidatos fortes nas mesmas cidades.
Esse problema seria superável no médio prazo, mas há um problema maior: o PDT está em situação de crise ideológica profunda. Em vez de se aproximar do PSB, a legenda parece disposta a fechar uma federação com PSDB e Solidariedade.
Em 1990, quando Brizola propôs fundir PDT e PSDB, fazia sentido: ambos eram próximos da social-democracia europeia. Hoje em dia só estão próximos da cláusula de barreira.
E a eleição deste ano não deve ajudar a aproximação do PDT com o resto da esquerda.
Em Fortaleza, onde o segundo turno será disputado entre um petista e um bolsonarista, os pedetistas foram para Paris e declararam neutralidade. Deixo aqui meus parabéns à Juventude Socialista do Ceará, movimento de jovens do PDT, que lançou nota de repúdio contra os vários pedetistas que já declararam apoio ao bolsonarismo.
Sem o PDT para ajudar o PSB a equilibrar as negociações com o PT, a federação de esquerda vai ficando mais difícil. Semana passada, conversei com um dirigente histórico do PT que lamentou que não houvesse ninguém trabalhando por isso para valer.
Mas ainda acho que a federação é inevitável, a menos que haja alguma grande mudança de cenário ou que a reforma política de 2017 seja revertida. Como me disse um líder socialista, não sabemos em quantos passos vai se dar a federação, que combinações entre as legendas acontecerão até que elas todas se juntem, mas a direção é essa.
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