A imagem da menina palestina carregando a irmã nas costas capturou minha semana. É especialmente doloroso enxergar o genocídio de um povo nessa imagem. A ela se somaram o esfacelamento de um prédio em Beirute, no Líbano, e o céu de Teerã, no Irã, tomado por mísseis. Israel precisa parar.
A assertividade da frase não desconsidera a complexidade dos conflitos na região, nem diminui a solidariedade a reféns israelenses que ainda não voltaram para casa. A frase se ancora nos crimes de guerra praticados por Israel e na violência desproporcional do projeto de expansão colonial que começou na década de 1970.
Duas experiências foram determinantes para a minha compreensão: uma conversa com líderes do Fatah, Movimento de Libertação Nacional da Palestina, na cidade de Ramallah; e a visita ao Kibutz Zikim, de onde se podia avistar construções de Gaza a cerca de 13 km de distância.
Na sede do Fatah, vi mapas de 1946, quando só existia a Palestina; de 1947, com a proposta da ONU de divisão de terras praticamente meio a meio entre Palestina e Israel; de 1967, com a imensa expansão territorial de Israel depois da Guerra dos Seis Dias; e de 2018, quando, além de Gaza, eram poucas as porções de terra da Cisjordânia. No Kibutz, conversamos na frente de uma construção que, antes de 1948, era a casa de uma família árabe, expulsa como milhares de outras.
Ambas experiências foram vivenciadas em agosto de 2022, em uma viagem feita a convite do IBI (Instituto Brasil Israel). Visitamos o Museu Yitzhak Rabin e também o Museu Yasser Arafat; o Muro Ocidental e a Esplanada das Mesquitas; Jerusalém Oriental e Ocidental. Oportunidade de conhecer diferentes perspectivas. Foi com uma instituição judaica, portanto, que conheci a Palestina e me indignei diante do muro que restringe mobilidade e cidadania.
Recentemente, a feminista e internacionalista Manoela Salem Miklos assumiu a direção executiva do IBI. Ela me explicou que a missão da instituição é qualificar o debate público sobre Israel. "Qualificar significa não fugir da complexidade, mas navegar as ambivalências, as nuances, as contradições, os paradoxos". Repetiu com veemência que judias e judeus no Brasil não são o Netanyahu. "Atribuir ao judeu brasileiro a responsabilidade pela guerra que o governo atual está liderando é antissemitismo."
Conheci o trabalho de Manoela em 2015, quando foi uma das criadoras do #AgoraÉQueSãoElas. Perguntei sobre a dimensão de gênero das guerras. "O que está acontecendo em Israel e no Líbano, como o que acontece aqui nas periferias, são mães perdendo seus filhos para uma violência injustificável. Elas vão lutar até o fim para ter seus filhos de volta, seja para enterrá-los ou abraçá-los, e para que o filho de mais ninguém morra."
Ela me contou do livro Da Guerra, de Carl von Clausewitz. "Se a guerra é a continuação da política por outros meios, como afirma o livro, e a política é feita por homens, a guerra também será feita por homens. A paz vai ser negociada por homens, novos homens vão liderar os territórios em tempos de paz." Manoela afirma que a guerra é um espaço do masculino, assim como é a política. " Se a gente não fizer nada sobre isso, o looping vai ser esse sempre".
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