Minas do Leão, na região Centro-Sul, tornou-se exemplo no Estado e no País na destinação e beneficiamento, com a garantia de economia circular, de resíduos das cidades gaúchas. Em relação às emissões de gases do efeito estufa, o município ocupa posição oposta à de Candiota.
Conforme o levantamento do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, o município responsável pelo depósito e tratamento – com geração de energia e futura geração de combustível – dos resíduos de 80 municípios gaúchos registrou em 2022 emissões negativas, ou seja, capturou mais do que lançou gases do efeito estufa à atmosfera. Foram -460,9 mil toneladas de gases do efeito estufa no balanço entre gases lançados e removidos da atmosfera. O município ocupa a 5536ª posição entre todos no País. Ou o 32º menos poluente do Brasil.
"O aterro de Minas do Leão é o maior do Rio Grande do Sul e o segundo maior do Brasil. Nós encaramos este tipo de empreendimento como um grande biodigestor, no qual, 50% é matéria orgânica. É nela que temos que aplicar tecnologia para evitarmos o lançamento de gases na atmosfera. Gerar gás e energia elétrica a partir dos resíduos é a forma que encontramos para valorizarmos este produto que é essencial e precisa de soluções", explica o diretor-presidente da Companhia Rio Grandense de Valorização de Resíduos (CRVR), Leomyr Girondi.
Foi um processo iniciado há quase uma década. Em 2015, a CRVR passou a gerar energia com a sua biotérmica instalada junto ao aterro, tornando-se a segunda operação deste tipo no País. Algo que, entre 2022 e 2023, a empresa multiplicou em todos os seus outros aterros no Estado. Atualmente, há capacidade instalada para a geração de 8,5 MWh, dos quais, 1 MWh é usado na própria operação do aterro, tornando o empreendimento autossustentável, e outros 7,5 MWh são lançados para a rede de energia.
"O biogás é capturado a partir da fração orgânica dos resíduos, tem a temperatura regulada para movimentar os motores a combustão da usina, e isso gera a energia. Hoje, com a volatilidade deste mercado, em que há mais oferta do que demanda de energia, o valor obtido é em torno de R$ 110 para cada MWh gerado, o suficiente para cobrir os custos. Mas temos plena consciência da importância ambiental deste processo, que terá cada vez maior valor econômico”, explica o dirigente.
Empresa investe para produzir gás combustível
A geração de energia térmica a partir de biomassa no Rio Grande do Sul ainda não ultrapassou 2% do total da carga gaúcha. A CRVR, por outro lado, mesmo com excesso de chuvas em maio, avança. Investe neste ano R$ 123 milhões, e pretende iniciar a operação em abril de 2025, para a produção de metano a partir da biomassa dos resíduos.
O cronograma inicial previa o início das operações em Minas do Leão já no final deste ano, mas foram dois meses com o canteiro de obras parado. Agora, todos os equipamentos para a nova planta industrial para a produção do gás já estão no local para o início da montagem da unidade.
"Existe uma capacidade de mercado muito grande para absorção deste produto. É o mesmo gás que as famílias consomem em casa, que move os veículos e também que é usado em processos industriais. E é obtido a partir de economia circular, do que era resíduo", comenta Girondi.
A planta de produção de gás metano terá capacidade de 66 mil metros cúbicos por dia. E a empresa já está de olho na oportunidade de tornar a sua operação ainda mais limpa, e lucrativa, em relação aos créditos de carbono.
Conforme os dados do SEEG, um dos itens em que a economia de Minas do Leão ainda gera gases de efeito estufa significativos ao ambiente – hoje neutralizados pelas ações no aterro – é com o transporte intenso naquela região. O plano, explica Girondi, é que a frota de caminhões que transportará o gás comprimido pelo Estado seja movida por este gás, em mais uma experiência de economia circular.
E há potencial para mais negócios e maior desenvolvimento de tecnologia a partir do lixo. Segundo Leomyr Girondi, além dos 50% de carga orgânica, que geram gás produtivo, outros 39% dos rejeitos são inutilizáveis e encaminhados a tratamentos específicos, desde o aterro até o tratamento de efluentes líquidos. Mas há outros 11% que poderiam ser reaproveitados em ações de reciclagem e hoje são descartados.
Em Minas do Leão, a CRVR investe em estudos de um processo mecanizado para essa separação mais adequada. Ação que tem os olhos não apenas no reaproveitamento de materiais pelos setores produtivos, mas no mercado de crédito de carbono. Neste ano, a empresa faz o seu primeiro inventário completo de emissões e capturas, que inclui não só a operação em si em Minas do Leão e em outros aterros, mas também toda a cadeia dos resíduos.
"Empreendimentos que recebem menos resíduos, com reciclagem mais eficiente, têm vida útil maior e geram maior riqueza. Um aterro gera em torno de 240 mil créditos por ano. Estamos cada vez mais atentos a este mercado futuro", aponta o representante da CRVR.
Resíduos sólidos e geração de energia no RS
* Menos de 2% a geração de energia do Estado vem da biomassa.
* A geração de energia e combustível a partir de resíduos sólidos e de cascas de arroz são as mais promissoras em biomassa na região.
* Há projetos em execução em Minas do Leão, Uruguaiana e Itaqui.
* Com 16,4% do potencial rastreado, a Fronteira Oeste é a região com maior potencial para produção de energia a partir de biomassa no Estado.
* As cheias geraram pelo menos 800 mil toneladas de resíduos que agora começarão a ser tratados e destinados.
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