Deirdre Nansen McCloskey
Eu gosto da imigração. Do ponto de vista ético, para um brasileiro ou um norte-americano, é como oferecer a escada depois que nossos ancestrais ou nós já a usamos. Todos temos ancestrais que vieram recentemente de outros lugares que não São Paulo ou Washington. E até falavam línguas diferentes e tinham outros costumes.
O Brasil e os EUA são o resultado de africanos, japoneses, alemães, italianos e de descendentes dos que chegaram 12 mil anos atrás, como os guaranis e os navajos. Na verdade, todo ser humano, com exceção dos khoi-san, tem ancestrais que vieram de outro lugar, desde que o Homo sapiens começou a vagar para além da África austral, há cerca de 70 mil anos.
A imigração é economicamente boa para os humanos. Obviamente é boa para a emigrante, ou ela não emigraria. Meu país tem a segunda fronteira mais longa do mundo entre um lugar de renda muito alta e um lugar de renda muito baixa —a mais longa é o Mediterrâneo. Obviamente, uma hondurenha ou uma chadiana pobre que chega aos EUA ou à França tem perspectivas muito melhores que sua prima que ficou —literalmente, cerca de dez vezes melhores para ela e especialmente para seus filhos.
Converso frequentemente com motoristas de táxi em Washington D.C., que são muitas vezes imigrantes da Etiópia. Com frequência são pais orgulhosos de dois ou três filhos que conseguiram mandar para a universidade.
Mas também é economicamente boa para nós, descendentes de imigrantes. Um argumento econômico simples é que é sempre melhor ter mais pessoas com quem negociar. Esse também é o argumento do livre comércio internacional.
E há outro argumento econômico: o de que em uma economia moderna, como a do Brasil ou a dos EUA, com sua divisão do trabalho incrivelmente detalhada, quase nenhum imigrante pode substituir você. Eles não fazem seu salário baixar. Eles aumentam sua produtividade, ajudando-o, e portanto aumentam seu salário. Eles são, como dizem os economistas, "complementares" a você. O imigrante que dirige um táxi é bom para você, não ruim —a menos que você seja um motorista de táxi. Mas a grande maioria dos brasileiros e americanos, até mesmo os pobres, não estão competindo com motoristas de táxi imigrantes.
A proposta de restrições à imigração para proteger uma pequena parte da mão de obra local, porém, é semelhante à principal objeção à imigração: a de que ela "dilui" a cultura existente. (O argumento da diluição é uma versão simpática de uma muito repulsiva, que é simplesmente "eu odeio estrangeiros".)
Meu país deveria ter um nível de imigração muito mais alto. Afinal, isso deu certo de 1776 até as odiosas restrições racistas de 1924. Os EUA sem judeus, por exemplo, teriam muito menos comediantes engraçados, e sem italianos muito menos comida interessante, para não falar em Albert Einstein e Enrico Fermi. E os netos falam português ou inglês, torcendo para a seleção nacional de futebol.
Mas há um argumento mais profundo. As culturas mudam, mesmo sem imigração. Proteger a cultura contra imigrantes é a mesma coisa que protegê-la de mudanças ao longo do tempo. Parece boa ideia?
Apenas para os mais rígidos conservadores.
