segunda-feira, 8 de maio de 2023

Os 36 que votaram contra a igualdade salarial entre homens e mulheres, Angela Alonso, FSP

 Não é novidade que o partido Novo é velho. A votação da igualdade salarial entre homens e mulheres no exercício de mesma função apenas o confirmou. Três deputados Novos ficaram contra. Poucos, mas recobrem a circunferência da bancada. Gilson Marques a vocalizou com argumento figurinha carimbada contra medidas corretivas da desigualdade. É o que começa sem bater de frente: "É óbvio que nós todos aqui queremos a igualdade de direito". Depois, acusa os reformistas de ingenuidade: "Esse projeto bota nas costas do empreendedor uma série de responsabilizações e multas que vão inibir a contratação das mulheres". Em nome da economia, manda os direitos para a cucuia.

Parlamentares mulheres posam para foto na Mesa da Câmara dos Deputados, em Brasília - Pedro Ladeira - 1º.fev.2023/Folhapress

O projeto, até Carluxo notou no Twitter, é uma redundância. A Constituição, artigo 5, dita: "homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações". Quando uma lei precisa do calço de outra é porque não rege a prática.

Muitos a aplaudiram, não todos. Os 36 parlamentares contrários (afora 3 abstenções) contam com endosso dos confortáveis com o desbalanço de poder e de dinheiro. As mulheres ocupam 37,4% das chefias e auferem 77,7% do que homens em mesmíssima função. Isso diz o site da Câmara, casa de 513 cadeiras, nas quais se sentam apenas 91 deputadas. Esta realidade empurrou Simone Tebet a erguer o tema nas eleições e na montagem do governo.

A hierarquia de gênero está aí não é de hoje, mas ex-presidente e tropa a reavivaram em prosa, verso e voto. O Partido Liberal deu 26 cédulas contrárias ao projeto, do príncipe sem coroa ao 03, passando pelo ex-ministro da motosserra. Liberais como Stuart Mill, paladino do voto feminino, se espantariam com tal liberalismo. Incoerência longe de avulsa. Também o Democratas desonrou o nome no voto de Kim Kataguiri. De Deltan Dellagnol, lava-jatista sommelier de laptops, não se esperaria lógica mesmo.

Esses homens contrários podem produzir raiva, não surpresa. Mais espécie causou a dezena de deputadas afoitas em garfar direito alheio —afinal, seus proventos seguem idênticos aos de colegas homens. Não foi por ignorância. Todas cursaram faculdade, em maioria a de direito, como a filha de Eduardo Cunha, Danielle.

Nem foi expressão de uma geração antiquada. No pacote, há quatro senhoras, mas predominam as moças. As catarinenses Caroline de Toni e Julia Zanatta estão na casa dos trinta, da qual a gaúcha Any Ortiz anda perto. A caçula da turma é Chris Tonietto, carioca no esplendor dos 31 anos, ativa no movimento pró-vida, isto é, antiaborto.

Votos que soaram contrassenso para feministas, não para todas as eleitoras. Desde a legislatura passada, Carla Zambelli, Bia Kicis e Adriana Ventura representam as que se definem como ajudantes, seguidoras ou subordinadas a pais, irmãos e maridos. Rosângela Moro (a do "eu moro com ele") veio integrar o time. Nem tentou voz própria, repetiu Gilson Marques: "Na forma como o projeto se encontra, poderá desestimular a contratação de mulheres, causando um efeito contrário à iniciativa da proposta". Nem educação superior, nem juventude carregaram essas mulheres para a modernidade.

As tradicionalistas são muitas, mas não são poucas as mulheres que querem paridade. Talvez por isso a líder das senhoras de bem na campanha eleitoral se retratou depois de declaração anticotas para mulheres. A ex-primeira dama, que de boba não tem nada, sabe o tamanho desse eleitorado.

domingo, 7 de maio de 2023

Fios desencapados, FSP

 


BRASÍLIA

O setor elétrico sempre foi um reduto comandado por aliados do governo em exercício. Sob Lula 3, é o PT que tenta tomar as rédeas.

O presidente Lula (PT) fala na sessão inaugural do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, no Itamaraty - Gabriela Biló - 4.mai.23/Folhapress

A manobra do presidente junto ao Supremo Tribunal Federal para obter mais poder na Eletrobras é somente a primeira medida de um plano maior.

Por óbvio, não há como reverter a privatização. A União vendeu a maioria de suas ações ao mercado, que injetou quase R$ 40 bilhões na companhia, diluindo a participação do estado.

Na petição, Lula argumenta que estão ocorrendo abusos da nova gestão e que isso precisa ser modificado. Tem 35% das ações, mas só pode votar em decisões relevantes com até 10%.

Por trás desse movimento reside a intenção de associar a Eletrobras com a Petrobras em uma grande companhia de energia —projeto visto com descrença pelo mercado.

PUBLICIDADE

Passa longe quem aposta que ele vai parar por aí. Há uma preocupação no Planalto em relação ao setor elétrico. Houve um mapeamento de potenciais focos de escândalos e existe uma tropa de choque em campo para blindar o governo.

Vasculham-se todas as gavetas dos projetos de lei aprovados pelo Congresso na gestão Jair Bolsonaro, começando pelo Novo Mercado de Gás, que abriu o transporte e a distribuição, até a geração distribuída, que permite ao consumidor gerar sua própria energia e inseri-la no sistema para conseguir abatimentos na conta de luz.

Também causa arrepios no Planalto a negociação mediada pelo Tribunal de Contas da União entre governo e termelétricas pela repactuação de contratos de quase R$ 11 bilhões em energia.

Teme-se que, fora do raio de visão do tribunal, ocorram negociações espúrias.

O Planalto queria que esses contratos fossem cancelados por descumprimento de regras (as usinas construídas na pandemia não ficaram prontas na data pactuada), mas a discussão foi judicializada.

Deborah Bizarria - Visão sobre evangélicos é profecia que se autorrealizou, FSP

 Durante a discussão do PL das Fake News, a bancada evangélica e as principais lideranças do meio se manifestaram contra a aprovação do projeto. Chamou a atenção, contudo, que alguns veículos deram destaque ao apoio ao projeto de um grupo minoritário de evangélicos, liderado pelo deputado Henrique Vieira (PSOL-RJ). Nas redes, muitos crentes disseram não se sentir representados pelo deputado, não só pelo posicionamento político mas também por seus valores e visão de cristianismo.

O fenômeno não é novo, já que parte da mídia brasileira muitas vezes apresentou uma imagem estereotipada dos evangélicos mais conservadores e desproporcional dos progressistas, oferecendo sua visão como um contraponto para aquela visão estereotipada. Essa desproporção na representação dos evangélicos tem gerado um desconforto por parte do evangélico médio, que se sente desvalorizado e incompreendido em seus valores e crenças.

A maior parte das representações na mídia e na esquerda tem reforçado essa representação estereotipada, associando evangélicos a fanatismo, intolerância e obscurantismo. Ocorreu, por exemplo, com Marina Silva. Apesar de ter apresentado o programa de governo mais inclusivo da disputa presidencial de 2014, a candidata foi pintada como uma fundamentalista religiosa.

Esse estereótipo negativo levou evangélicos a se sentirem discriminados em meios mais intelectualizados, como nas universidades, na imprensa e no debate público. Por reação, o evangélico médio se aproximou gradativamente dos que prometeram defender seus interesses e valores contra as mudanças sociais: as lideranças de discurso reacionário.

Em um ciclo vicioso, como mecanismo de defesa, o evangélico médio acabou se tornando mais fechado e menos aberto ao diálogo e à diversidade, se aproximando do comportamento preceituado pela visão estereotipada. Uma profecia que se autorrealizou. Como romperemos esse ciclo?