terça-feira, 14 de dezembro de 2021

THE NEW YORK TIMES Campanha nos EUA inventa que aves são drones para parodiar teses conspiratórias . FSP

 


Taylor Lorenz
THE NEW YORK TIMES

Em Pittsburgh, Memphis e Los Angeles surgiram outdoors que dizem: "os pássaros não são reais". No Instagram e no TikTok, contas do Pássaros Não São Reais (Birds Aren’t Real) conquistaram seguidores, e vídeos no YouTube viralizaram.

No mês passado, adeptos do Pássaros Não São Reais até protestaram diante da sede do Twitter em San Francisco para pedir que a empresa mude seu logotipo, o passarinho.

Todos esses fatos estão ligados por uma teoria conspiratória alimentada pela geração Z, segundo a qual os pássaros não existem e são réplicas instaladas em drones pelo governo dos EUA para espionar a população. Milhares de jovens aderiram ao movimento.

Pode parecer coisa da QAnon, a teoria da conspiração de que o mundo é controlado por uma elite de democratas que traficam crianças. Exceto que o criador do Pássaros Não São Reais e seus seguidores vivem uma brincadeira: eles sabem que os pássaros são reais e que sua teoria foi inventada.

Peter McIndoe, líder de Pássaros Não São Reais, durante protesto
Peter McIndoe, líder do Pássaros Não São Reais, durante protesto - Madeline Houston/The New York Times

O que o Pássaros Não São Reais é de fato, dizem, é uma paródia de movimento social com um objetivo. Em um mundo pós-verdade dominado por teorias conspiratórias online, os jovens se uniram em torno da iniciativa para desacatar, combater e ridicularizar a desinformação.

"É uma forma de combater a maluquice com maluquice", disse Claire Chronis, 22, organizadora do Pássaros Não São Reais em Pittsburgh, na Pensilvânia.

No centro do movimento está Peter McIndoe, 23, que criou o Pássaros Não São Reais de brincadeira em Memphis, em 2017. Durante anos, ele viveu o personagem de principal crente da teoria conspiratória, ordenando que os acólitos se revoltassem contra os que contestassem seu dogma. Mas agora, diz McIndoe, está pronto para revelar a paródia.

"Lidando com o mundo da desinformação nos últimos anos, estamos cientes da linha tênue em que caminhamos", disse. "A ideia pretendia ser absurda, mas nós garantimos que nada do que dizemos é realista demais."

A maioria dos membros do Pássaros Não São Reais, muitos dos quais fazem parte de uma rede de ativistas chamada Brigada dos Pássaros, cresceu no mundo repleto de desinformação. Alguns têm parentes que foram vítimas de teorias da conspiração. Por isso, para os membros da geração Z, o movimento é a maneira de abordar coletivamente essas experiências. Imitando teóricos da conspiração, eles encontraram comunidade e parentesco, disse McIndoe.

"O Pássaros Não São Reais não é sátira rasa de conspirações vistas pelo lado de fora. É do interior profundo", afirma. "Muita gente da nossa geração sente a maluquice disso tudo, e o Pássaros Não São Reais tem sido uma maneira de as pessoas a processarem."

Quando McIndoe foi para a Universidade do Arkansas, em 2016, viu que não era o único a conviver com diversas realidades. Então, em janeiro de 2017, ele viajou para Memphis para visitar amigos. Donald Trump acabara de ser empossado presidente, e houve marcha de mulheres na cidade. Manifestantes a favor de Trump estavam lá. Quando McIndoe os viu, arrancou um cartaz de um muro, virou-o do avesso e escreveu ao acaso: "Birds aren’t real" (pássaros não são reais).

"Foi uma piada espontânea, mas era reflexo do absurdo que todo mundo sentia", disse.

Então McIndoe improvisou a lenda da conspiração dos Pássaros Não São Reais e explicou que a trama começou em 1970. Sem saber, foi filmado e o vídeo postado no Facebook viralizou, em especial entre adolescentes do sul dos EUA. "Comecei a assumir o personagem e a construir o mundo a que ele pertencia", disse McIndoe.

Ele e Connor Gaydos, um amigo, escreveram uma falsa história do movimento, inventaram teorias e produziram documentos falsos e evidências para sustentar suas alegações. "Virou um experimento de desinformação", disse McIndoe. "E, se alguém acredita que os pássaros não são reais, somos a última de suas preocupações, porque não há conspiração em que eles não acreditem", diz Gaydos.

Os membros do Pássaros se tornaram força política. Muitos se unem a contramanifestantes e verdadeiros teóricos da conspiração para reduzir as tensões e deslegitimar pessoas.

E McIndoe faz planos. Despir o personagem ajudará o Pássaros Não São Reais a denunciar verdadeiros teóricos da conspiração, disse ele, que espera colaborar com criadores de conteúdo e mídia independente como Channel 5 News, para ajudar as pessoas a compreender os EUA e a internet.

PL das fake news virou arma econômica da mídia tradicional, Joel Pinheiro da Fonseca - FSP

 Quantas pessoas morreram na pandemia por causa de fake news sobre distanciamento social, máscara e vacinas? Infelizmente, muito mais do que zero.

E essas informações falsas só puderam fazer seu estrago graças ao meio propício que encontraram: as redes sociais. Faz sentido, portanto, pensar em alguma regulamentação para mitigar esses riscos. Novos problemas exigem novas respostas.

Ocorre que o PL das fake news, em tramitação no Congresso, não tem essas respostas e, em seu zelo de regulamentar, pode até matar as novas tecnologias.

Ele já começa enganoso no nome: as fake news são quase um detalhe no texto, cujo foco é a regulamentação econômica das empresas de redes sociais, coisas muito diferentes. Parece ter sido feito sob encomenda pelas empresas da mídia tradicional para dificultar a vida de suas novas competidoras.

Há motivos para ver com ressalvas o triunfo das redes sobre a mídia tradicional. Apesar de conquistar cada vez mais usuários, elas não desempenham uma das principais funções da imprensa: o jornalismo, isto é, ir atrás, apurar e redigir informações relevantes para o público. Usam o conteúdo do jornalismo para alimentar seu engajamento, mas não pagam por ele.

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Algumas tentativas de corrigir isso, contudo, são um verdadeiro tiro no pé. Uma delas, presente no PL, é cobrar as redes por cada thumbnail gerada com links de notícias —aquele quadrinho com manchete e foto que se abre quando alguém publica um link para algum jornal, que serve como uma amostra do conteúdo.

De duas, uma: ou as redes vão apenas parar de gerar thumbnails, e menos gente clicará em links jornalísticos (o link nu e cru não é nada convidativo), reduzindo ainda mais a penetração da imprensa no debate público. Ou seja, piorando o problema das fake news.

Ou, na melhor das hipóteses, as redes fecharão contrato com alguns grandes grupos de mídia, cujos links continuarão produzindo thumbnails, e jogará no ostracismo jornais menores, reduzindo a concorrência e cartelizando ainda mais o setor.

Em outros momentos, o PL parece apenas um projeto para ferir de morte o modelo de negócios das redes sociais: elas entregam seus serviços gratuitamente aos usuários e faturam vendendo as informações de uso deles para empresas fazerem publicidade direcionada. Pelo projeto em discussão, isso será proibido.

A publicidade sempre foi direcionada, mesmo na televisão e na mídia impressa.

A publicidade nas páginas do jornal Extra não é a mesma da The Economist. As propagandas no intervalo do futebol não são as mesmas da novela das seis.

As redes levam isso à perfeição: entregam ao indivíduo aquilo que ele quer (às vezes antes mesmo de ele saber que quer). O crime delas é fazer melhor aquilo que TVs e jornais sempre tentaram?

Novas tecnologias surgem e causam disrupções, tirando espaços ocupados por poderosos de outrora que se veem ameaçados.

Não há anjos nem demônios nessa história, mas uma lição é clara: o sentido do avanço tecnológico é um só e, salvo catástrofes civilizacionais, não tem volta.

O melhor que podemos fazer é tentar mitigar alguns de seus piores aspectos sem comprometer seus ganhos e oportunidades. O PL das fake news, da forma que está, apenas trava o progresso tecnológico e, se aprovado, nos condenará ao atraso em mais essa área.

Carla Zambelli coloca em pauta em comissão projeto que autoriza caça esportiva no Brasil, FSP

 A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) incluiu na pauta da sessão desta terça (14) da comissão de Meio Ambiente um projeto de lei que autoriza a caça esportiva no Brasil. Embora tenha como uma das justificativas o controle de javalis, o texto abre possibilidade, na visão de defensores do animais, para a liberação o abate de outras espécies.

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Deputados da oposição ao governo tentam tirar o projeto da pauta e, caso seja levado a votação, a previsão é que haja um pedido de vista.

Mulher de blazer preto, camiseta branca e cabelos esvoaçantes
deputada Carla Zambelli (PSl-SP) - Carla Zambelli/Folhapress