Em Pittsburgh, Memphis e Los Angeles surgiram outdoors que dizem: "os pássaros não são reais". No Instagram e no TikTok, contas do Pássaros Não São Reais (Birds Aren’t Real) conquistaram seguidores, e vídeos no YouTube viralizaram.
No mês passado, adeptos do Pássaros Não São Reais até protestaram diante da sede do Twitter em San Francisco para pedir que a empresa mude seu logotipo, o passarinho.
Todos esses fatos estão ligados por uma teoria conspiratória alimentada pela geração Z, segundo a qual os pássaros não existem e são réplicas instaladas em drones pelo governo dos EUA para espionar a população. Milhares de jovens aderiram ao movimento.
Pode parecer coisa da QAnon, a teoria da conspiração de que o mundo é controlado por uma elite de democratas que traficam crianças. Exceto que o criador do Pássaros Não São Reais e seus seguidores vivem uma brincadeira: eles sabem que os pássaros são reais e que sua teoria foi inventada.
O que o Pássaros Não São Reais é de fato, dizem, é uma paródia de movimento social com um objetivo. Em um mundo pós-verdade dominado por teorias conspiratórias online, os jovens se uniram em torno da iniciativa para desacatar, combater e ridicularizar a desinformação.
"É uma forma de combater a maluquice com maluquice", disse Claire Chronis, 22, organizadora do Pássaros Não São Reais em Pittsburgh, na Pensilvânia.
No centro do movimento está Peter McIndoe, 23, que criou o Pássaros Não São Reais de brincadeira em Memphis, em 2017. Durante anos, ele viveu o personagem de principal crente da teoria conspiratória, ordenando que os acólitos se revoltassem contra os que contestassem seu dogma. Mas agora, diz McIndoe, está pronto para revelar a paródia.
"Lidando com o mundo da desinformação nos últimos anos, estamos cientes da linha tênue em que caminhamos", disse. "A ideia pretendia ser absurda, mas nós garantimos que nada do que dizemos é realista demais."
A maioria dos membros do Pássaros Não São Reais, muitos dos quais fazem parte de uma rede de ativistas chamada Brigada dos Pássaros, cresceu no mundo repleto de desinformação. Alguns têm parentes que foram vítimas de teorias da conspiração. Por isso, para os membros da geração Z, o movimento é a maneira de abordar coletivamente essas experiências. Imitando teóricos da conspiração, eles encontraram comunidade e parentesco, disse McIndoe.
"O Pássaros Não São Reais não é sátira rasa de conspirações vistas pelo lado de fora. É do interior profundo", afirma. "Muita gente da nossa geração sente a maluquice disso tudo, e o Pássaros Não São Reais tem sido uma maneira de as pessoas a processarem."
Quando McIndoe foi para a Universidade do Arkansas, em 2016, viu que não era o único a conviver com diversas realidades. Então, em janeiro de 2017, ele viajou para Memphis para visitar amigos. Donald Trump acabara de ser empossado presidente, e houve marcha de mulheres na cidade. Manifestantes a favor de Trump estavam lá. Quando McIndoe os viu, arrancou um cartaz de um muro, virou-o do avesso e escreveu ao acaso: "Birds aren’t real" (pássaros não são reais).
"Foi uma piada espontânea, mas era reflexo do absurdo que todo mundo sentia", disse.
Então McIndoe improvisou a lenda da conspiração dos Pássaros Não São Reais e explicou que a trama começou em 1970. Sem saber, foi filmado e o vídeo postado no Facebook viralizou, em especial entre adolescentes do sul dos EUA. "Comecei a assumir o personagem e a construir o mundo a que ele pertencia", disse McIndoe.
Ele e Connor Gaydos, um amigo, escreveram uma falsa história do movimento, inventaram teorias e produziram documentos falsos e evidências para sustentar suas alegações. "Virou um experimento de desinformação", disse McIndoe. "E, se alguém acredita que os pássaros não são reais, somos a última de suas preocupações, porque não há conspiração em que eles não acreditem", diz Gaydos.
Os membros do Pássaros se tornaram força política. Muitos se unem a contramanifestantes e verdadeiros teóricos da conspiração para reduzir as tensões e deslegitimar pessoas.
E McIndoe faz planos. Despir o personagem ajudará o Pássaros Não São Reais a denunciar verdadeiros teóricos da conspiração, disse ele, que espera colaborar com criadores de conteúdo e mídia independente como Channel 5 News, para ajudar as pessoas a compreender os EUA e a internet.
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