terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Cigarros banidos, Hélio Schwartsman, FSP

 Drogas viciam porque propiciam prazer aos usuários. O tabaco tem uma estranha peculiaridade. As primeiras tragadas tendem a ser repulsivas. Isso significa que, para alguém tornar-se dependente, precisa insistir várias vezes, submetendo-se voluntariamente a pequenas sessões de tortura. Num mundo que levasse o hedonismo mais a sério, ninguém seria tabagista. Não obstante, essa é uma das dependências mais prevalentes no planeta —e também uma das mais letais.

Governos agem bem ao tomar medidas para reduzir o fumo. Fazê-lo traz benefícios para a saúde e as finanças públicas —objetivos legítimos para a ação estatal. Acredito, porém, que a Nova Zelândia tenha exagerado ao anunciar que proibirá para sempre a venda de cigarros para todos os nascidos a partir de 2008.

Ilustração de um cigarro sendo apagado num cinzeiro
Ilustração de um cigarro para a coluna Casos do Acaso da Ilustríssima com a Conspiração Filmes - Lucas Vidigal

Será preciso esperar o próximo ano para ver a forma exata que a lei terá, mas a simples ideia de banimento me parece excessivamente autoritária e em contradição com o princípio que inspira a política de drogas da Nova Zelândia, que é o da redução de danos.

O país está longe de ser permissivo em relação ao uso recreativo de drogas. Seus cidadãos rejeitaram no ano passado, em plebiscito, a legalização da maconha. No papel, usuários de substâncias ilícitas estão sujeitos a multa e detenções breves. Mas essas leis não são universalmente aplicadas. Ao contrário, os neozelandeses acabam de tornar permanente um programa que permite a usuários de todas as drogas testar suas doses para saber o que estão tomando e o grau de pureza. A medida evita overdoses e coloca dependentes em contato com um serviço que poderá encaminhá-los para tratamento, se assim desejarem.

A redução de danos nada mais é do que o reconhecimento de que, com drogas, a proibição não funciona bem, sendo preferível estimular os consumidores contumazes a tentar fazer um uso menos nocivo. É difícil ver como o banimento se inscreve nessa filosofia.

Exclusivo: Para baixar conta de luz, Raia Drogasil quer avançar em eficiência energética e GD, Agência Estado

 

Fonte: Agência Estado (Broadcast) - 07.12.2021
São Paulo – Ao perceber que as contas de luz estavam cada vez mais caras, a rede de farmácias Raia Drogasil decidiu avançar em três frentes para reduzir o impacto das tarifas de energia em suas receitas: um programa de eficiência energética, compra de energia no mercado livre e adoção da geração distribuída (GD) para as unidades que têm consumo inferior a 500 quilowatts (kW).

Somente no último ano, as tarifas de energia do mercado regulado, no qual os consumidores são atendidos pelas distribuidoras, aumentou 22,45%% em média, segundo dados da TR Soluções, o que tem incentivado empresas a buscarem medidas para reduzir o impacto tarifário em suas planilhas de custos.

"Conseguimos ter melhor previsibilidade dos custos de energia com a adoção de geração distribuída, o que não acontecia no mercado regulado porque tem bandeira tarifária, custos extras, entre outras coisas", disse o diretor de Engenharia da empresa, Milton Alvim.

Uma das principais apostas do grupo para reduzir a conta de luz é a GD, na qual a produção da energia ocorre próxima ao local de consumo, por meio de usinas de pequeno porte, com potência instalada igual a 75 quilowatts (kW), ou de até 5 megawatts (MW), respectivamente.

A meta da companhia é chegar a 90% das unidades consumindo energia renovável, e 100% delas utilizando equipamentos energeticamente eficientes.

Para isto, a empresa contratou 54 usinas nas fontes solar fotovoltaica, Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e a biogás, totalizando uma potência instalada de 44 MW. Destas, 12 já produzem energia para atender a 767 lojas da rede em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás.

Para o ano que vem, a empresa pretende ampliar a quantidade de lojas atendidas com energia renovável, e a expectativa é que até fevereiro seja possível conectar ao menos 1.000 farmácias, e aumentar para 2.100 unidades abastecidas por GD até dezembro de 2022.

Outra frente que a RD adotou para diminuir a conta de luz é um programa de eficiência energética, que consiste na substituição de equipamentos nos sistemas de ar-condicionado das lojas e a substituição de lâmpadas convencionais por iluminações de LED, mais eficientes, entre outras medidas que ajudam a reduzir o consumo das unidades em 17%.

Segundo Alvim, atualmente 64,1% das unidades já operam com tecnologia para inverter no sistema de ar-condicionado, ampliando a adoção de equipamentos mais eficientes. "Temos agenda de automação para gerenciar máquinas e sistemas de eletricidade", comentou.

Além disso, a empresa está com uma estratégia de migrar os centros de distribuição para o mercado livre de energia, com compra antecipada e custos menores.

2022, a economia e as eleições, Celso Ming, OESP

 Celso Ming*, O Estado de S.Paulo

11 de dezembro de 2021 | 08h00

Este 2022 vai se desenhando como ano eleitoral carregado de expectativas ruins para a economia, que muito dificilmente poderão ser revertidas. 

O ano que vai acabando já não deixa bom legado. Apesar das reiteradas e pouco persuasivas declarações em contrário do ministro da Economia, Paulo Guedes, não há razões para se apostar na recuperação em “V” da atividade econômica nos próximos 12 meses.

Os juros básicos (Selic) deverão se manter em dois dígitos ao longo do período, fator que conterá o crédito e o consumo. O próprio Banco Central não esconde que sua política monetária freará o crescimento. A produção industrial se manterá estagnada. A inflação pode fechar o ano pela metade de como começou, mas ao longo de todo o ano seguirá corroendo o poder aquisitivo do trabalhador – principalmente o de baixa renda –, que terá menos recursos para se proteger. O desempregohoje nos 12,6% da força de trabalho, se manterá acima dos 10%. 

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Porto de Santos
A balança comercial deve ser um dos poucos setores da economia brasileira a apresentar bons desempenhos em 2022. Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 30/11/2017

Os grandes bancos centrais preparam para 2022 o início do megaenxugamento dos recursos despejados no mercado ao longo da pandemia. Ainda será preciso saber quanto a valorização das moedas fortes (especialmente dólar e euro) afugentará os capitais para as economias em desenvolvimento e conterá o ritmo da recuperação externa. O dólar caro contribuirá para puxar para cima os preços dos produtos importados, especialmente os dos combustíveis. A desorganização das contas públicas pode derrubar ainda mais a confiança na política econômica. Diante destas e de outras incertezas, o investimento continuará sendo insuficiente. 

Apenas dois setores da economia prometem excelente desempenho: o agronegócio, que deverá produzir safra recorde e contará com bons preços externos; e a balança comercial, que é consequência. Mas, como já vem acontecendo, essas duas áreas não conseguirão contrabalançar os resultados fracos do resto da economia. Veja, na tabela, as projeções do mercado  para 2022 aferidas pela Pesquisa Focus, do Banco Central.

  

Decididamente, esta não é uma ficha exuberante que o governo poderá exibir ao longo do debate eleitoral. Isso aponta para novas tensões. O presidente Jair Bolsonaro e os políticos que o apoiam poderão achar insuficiente o Auxílio Brasil como amortecedor do descontentamento do eleitor de baixa renda e, por isso, serão tentados a inventar novas despesas públicas.

A tão prometida agenda de reformas, que já esbarrou em obstáculos políticos neste ano, tende a continuar estancada num ano de eleições, quando as corporações deverão aumentar suas pressões para bloquear as perdas que serão inevitáveis.

Enfim, 2022 não nos dá boas-vindas na área econômica. 

*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA