Celso Ming*, O Estado de S.Paulo
11 de dezembro de 2021 | 08h00
Este 2022 vai se desenhando como ano eleitoral carregado de expectativas ruins para a economia, que muito dificilmente poderão ser revertidas.
O ano que vai acabando já não deixa bom legado. Apesar das reiteradas e pouco persuasivas declarações em contrário do ministro da Economia, Paulo Guedes, não há razões para se apostar na recuperação em “V” da atividade econômica nos próximos 12 meses.
Os juros básicos (Selic) deverão se manter em dois dígitos ao longo do período, fator que conterá o crédito e o consumo. O próprio Banco Central não esconde que sua política monetária freará o crescimento. A produção industrial se manterá estagnada. A inflação pode fechar o ano pela metade de como começou, mas ao longo de todo o ano seguirá corroendo o poder aquisitivo do trabalhador – principalmente o de baixa renda –, que terá menos recursos para se proteger. O desemprego, hoje nos 12,6% da força de trabalho, se manterá acima dos 10%.
Os grandes bancos centrais preparam para 2022 o início do megaenxugamento dos recursos despejados no mercado ao longo da pandemia. Ainda será preciso saber quanto a valorização das moedas fortes (especialmente dólar e euro) afugentará os capitais para as economias em desenvolvimento e conterá o ritmo da recuperação externa. O dólar caro contribuirá para puxar para cima os preços dos produtos importados, especialmente os dos combustíveis. A desorganização das contas públicas pode derrubar ainda mais a confiança na política econômica. Diante destas e de outras incertezas, o investimento continuará sendo insuficiente.
Apenas dois setores da economia prometem excelente desempenho: o agronegócio, que deverá produzir safra recorde e contará com bons preços externos; e a balança comercial, que é consequência. Mas, como já vem acontecendo, essas duas áreas não conseguirão contrabalançar os resultados fracos do resto da economia. Veja, na tabela, as projeções do mercado para 2022 aferidas pela Pesquisa Focus, do Banco Central.
Decididamente, esta não é uma ficha exuberante que o governo poderá exibir ao longo do debate eleitoral. Isso aponta para novas tensões. O presidente Jair Bolsonaro e os políticos que o apoiam poderão achar insuficiente o Auxílio Brasil como amortecedor do descontentamento do eleitor de baixa renda e, por isso, serão tentados a inventar novas despesas públicas.
A tão prometida agenda de reformas, que já esbarrou em obstáculos políticos neste ano, tende a continuar estancada num ano de eleições, quando as corporações deverão aumentar suas pressões para bloquear as perdas que serão inevitáveis.
Enfim, 2022 não nos dá boas-vindas na área econômica.
*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA
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