Drogas viciam porque propiciam prazer aos usuários. O tabaco tem uma estranha peculiaridade. As primeiras tragadas tendem a ser repulsivas. Isso significa que, para alguém tornar-se dependente, precisa insistir várias vezes, submetendo-se voluntariamente a pequenas sessões de tortura. Num mundo que levasse o hedonismo mais a sério, ninguém seria tabagista. Não obstante, essa é uma das dependências mais prevalentes no planeta —e também uma das mais letais.
Governos agem bem ao tomar medidas para reduzir o fumo. Fazê-lo traz benefícios para a saúde e as finanças públicas —objetivos legítimos para a ação estatal. Acredito, porém, que a Nova Zelândia tenha exagerado ao anunciar que proibirá para sempre a venda de cigarros para todos os nascidos a partir de 2008.
Será preciso esperar o próximo ano para ver a forma exata que a lei terá, mas a simples ideia de banimento me parece excessivamente autoritária e em contradição com o princípio que inspira a política de drogas da Nova Zelândia, que é o da redução de danos.
O país está longe de ser permissivo em relação ao uso recreativo de drogas. Seus cidadãos rejeitaram no ano passado, em plebiscito, a legalização da maconha. No papel, usuários de substâncias ilícitas estão sujeitos a multa e detenções breves. Mas essas leis não são universalmente aplicadas. Ao contrário, os neozelandeses acabam de tornar permanente um programa que permite a usuários de todas as drogas testar suas doses para saber o que estão tomando e o grau de pureza. A medida evita overdoses e coloca dependentes em contato com um serviço que poderá encaminhá-los para tratamento, se assim desejarem.
A redução de danos nada mais é do que o reconhecimento de que, com drogas, a proibição não funciona bem, sendo preferível estimular os consumidores contumazes a tentar fazer um uso menos nocivo. É difícil ver como o banimento se inscreve nessa filosofia.