quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Entenda protocolo sanitário para eleitores e mesários na votação em meio à pandemia, FSP

 Carolina Moraes

SÃO PAULO

As eleições municipais de 2020 de novembro terão um protocolo sanitário para evitar a disseminação de coronavírus entre eleitores e mesários. Entre as regras estão a obrigatoriedade do uso de máscaras pelos eleitores e mesários.

"Se estiver sem máscara, não pode entrar [no local de votação]", afirmou o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso.

O Plano de Segurança Sanitária foi elaborado por especialistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Hospital Israelita Albert Einstein e do Hospital Sírio-Libanês.

Os cerca de 95 mil locais de votação serão adaptados para manter distanciamento mínimo de 1 metro entre os eleitores e terão álcool em gel disponíveis antes e depois da votação. O horário foi ampliado em uma hora para evitar aglomerações.

Segundo o TSE, empresas doaram 9,7 milhões de máscaras descartáveis, 1 milhão de litros de álcool em gel para eleitores e 2,1 milhões de frascos individuais para os mesários.

A Justiça Eleitoral também excluiu a identificação biométrica e alterou o protocolo de entrega dos documentos, que agora devem ser apenas exibidos aos mesários.

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Leia abaixo perguntas e respostas sobre o esquema da Justiça Eleitoral para a eleição durante a pandemia.​

Presidente do Senado Federal, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), cumprimenta o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso
Presidente do Senado Federal, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), cumprimenta o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso - Roque de Sá/Agência Senado

Como os locais de votação serão adaptados para receber os eleitores? Todos os espaços, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), terão álcool em gel disponível para higienização das mãos antes e depois da votação.

Para evitar proximidade entre as pessoas, fitas adesivas no chão marcarão o distanciamento mínimo de 1 metro tanto entre os eleitores na fila para votação quanto entre eleitores e mesários.

O uso de máscara será obrigatório. Injerir alimentos, beber ou qualquer outra atividade que exija a retirada da máscara estão proibidas nos locais de votação.

Quais são as principais medidas adotadas pelo TSE para evitar aglomeração nos espaços? O horário de votação foi ampliado em uma hora, e acontecerá das 7h às 17h.

Além disso, o eleitor poderá justificar ausência no aplicativo e-Título, disponível para celulares e tablets com sistemas operacionais iOS ou Android, sem sair de casa. A medida foi tomada para reduzir o fluxo de pessoas nos locais de votação.

O Código Eleitoral prevê multa de três a dez por cento sobre o salário mínimo da região para os que deixarem de votar e não se justificarem.

Haverá alguma medida especial para quem é considerado grupo de risco para o coronavírus? O TSE orienta que o horário das 7h às 10h seja preferencial para pessoas acima de 60 anos, um dos grupos considerados de risco para o coronavírus.

Eleitores que não fazem parte do grupo de risco poderão votar neste horário, mas a ideia da recomendação é que idosos sejam majoritariamente atendidos neste período do dia.

Algum protocolo que exige contato com superfícies será abandonado? O TSE excluiu a identificação biométrica no dia da votação —segundo dados apresentados em entrevista coletiva nesta terça pelo presidente do TSE, o ministro Luís Roberto Barroso, uma média de 400 pessoas colocariam as mãos em um mesmo aparelho.

A consultoria sanitária recomendou essa mudança para, além de diminuir o risco de contágio em superfíceis, evitar a formação de filas e aglomerações, já que o protocolo é um dos mais demorados nas etapas de votação.

Sem a biometria, a confirmação da identidade do eleitor será feita mediante assinatura do caderno de votação. A Justiça Eleitoral recomenda que cada um tenha sua própria caneta. Caso o eleitor não leve, haverá uma para uso coletivo. Os mesários serão orientados a higienizar essas canetas com álcool 70% antes e depois do uso.

O recebimento do comprovante de votação passará a ser facultativo e entregue só mediante solicitação do eleitor. Além disso, em vez de entregar o documento de identificação ao mesário e retirá-lo após a votação, o eleitor deve apenas exibir o documento oficial ou o e-Título pelo aplicativo mantendo a distância de 1 metro.

O protocolo sanitário também prevê a higienização constante de outras superfícies do espaço, como as mesas e cadeiras usadas pelos mesários.

Como o transporte das urnas será feito? A recomendação da consultoria sanitária aos Tribunais Regionais Eleitorais, responsáveis pelo transporte, é de que os funcionários envolvidos usem máscaras, mantenham distância de 1 metro e higienizem as mãos com álcool em gel ao chegar e sair do local de votação com os aparelhos.

Urnas serão higienizados durante a votação? Não. Segundo o TSE, as urnas não podem ser higienizadas por eleitores ou mesários já que um protocolo inadequado pode prejudicar o equipamento. Para evitar o contágio nessa superfície, os eleitores serão orientados a usar álcool em gel antes e depois de utilizar a urna. O uso de luvas não é recomendado.

Há algum remanejamento de locais de votação previstos para que os eleitores votem em locais mais próximos de suas residências? Não, mas eleitores idosos, com deficiência ou com mobilidade reduzida podem solicitar transferência para seção especial.

Quais são os principais itens de segurança para proteger os mesários? Eles receberão máscaras para trocar a cada quatro horas, um face shield (protetor facial), álcool em gel individual e álcool 70% para limpeza de superfícies.

A Justiça Eleitoral não garantirá transporte individual para os mesários, e orienta que eles evitem veículos cheios e mantenham a distância mínima de 1 metro de outras pessoas se possível.

Quem tiver febre, ainda sem receber diagnóstico de Covid-19, deve deixar de ir à votação? Sim. Todos os eleitores e mesários que tiverem febre nos 14 dias anteriores não devem comparecer e poderão justificar a ausência. Os mesários também devem avisar sua zona eleitoral.

Colaborou Matheus Teixeira, de Brasília

Ruy Castro Ele é o golpe, FSP

 A receita para o desmonte da democracia por Jair Bolsonaro, de infiltrar-se nos poderes para miná-los e dominá-los, está-lhe saindo melhor do que ele esperava.

O Executivo nunca foi problema. Como presidente, ele já lhe pertencia, bastando-lhe desmontar o aparelhamento anterior e instalar o seu —o que tem sido feito à custa até dos quadros mais neutros e técnicos, substituídos por jagunços estranhos às funções. É um desastre para o país, mas, para Bolsonaro, e daí? O Legislativo, por sua vez, pode ser comprado —como ele bem sabe por ter feito parte dele durante 30 anos— e efetivamente já o foi, com a distribuição de cargos e verbas. Cargos e verbas, aliás, com que, aproveitando o carrinho entre as gôndolas, Bolsonaro tirou também o Exército da prateleira e o jogou no meio das margarinas.

Por fim, o poder mais resistente, o Judiciário, logo estará igualmente sob seu controle, com as nomeações de mais alguns togados decisivos e a adesão de outros. Nesse caso, o interesse de Bolsonaro não é mais blindar-se contra as investigações sobre as promíscuas negociatas de seus filhos, mulheres, ex-mulheres, noras e mães uns dos outros. O que lhe importa agora é garantir-se nas várias instâncias da lei em suas investidas contra a Constituição.

Para isto, Bolsonaro conta com o acoelhamento definitivo do Supremo —o mesmo que, num vídeo, ele comparou às hienas, invadiu seu recinto com uma galera, omitiu-se quando um de seus filhos ameaçou mandar um soldado e um cabo para fechá-lo, protegeu os terroristas que dispararam contra o seu prédio e apoiou um esbirro que chamou os ministros de “vagabundos”. O que falta ainda? Só mesmo Bolsonaro, em pessoa, sair à noite, munido de spray, e pichar-lhe a fachada.

Ou não mais. A historiadora Lilia Schwarcz disse esta semana no programa de TV “Roda Viva” que Bolsonaro já não precisa dar o golpe —“Ele é o golpe”.

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O presidente Jair Bolsonaro, acompanhado de seus ministros, faz pronunciamento à imprensa para falar sobre as acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro ao pedir demissão
O presidente Jair Bolsonaro, acompanhado de seus ministros, durante pronunciamento à imprensa para falar sobre as acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro ao pedir demissão - Pedro Ladeira - 24.abr.2020/Folhapress
Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigu

Hélio Schwartsman Heroína na farmácia, FSP

A Covid-19 tirou das manchetes a epidemia de mortes por overdose nos EUA, mas ela continua lá, apenas um pouco menos visível. Os números assustam. São 70 mil óbitos por ano, 70% dos quais relacionados a opioides, legais e ilegais. Não há sinais claros de arrefecimento.

E 70 mil mortes é morte para presidente nenhum botar defeito. É um pouco menos do que a soma dos assassinatos com as vítimas do trânsito no Brasil e quase a metade dos óbitos por Covid-19 dos próprios EUA. A diferença é que não se espera que em 2021 o Sars-Cov-2 volte a causar tantas baixas, mas as overdoses podem em tese repetir sua mortífera performance por anos a fio.

E, se a Covid-19 é uma doença que controlaremos com o auxílio da ciência, a crise dos opioides é uma epidemia que foi em alguma medida provocada pela má ciência. Tudo começou nos anos 90, quando médicos e dentistas americanos, com base em poucos e enviesados estudos, além de uma boa ajuda dos departamentos de marketing dos laboratórios, passaram a prescrever opioides até para dores agudas e de baixa intensidade. Passaram por cima de tudo o que a ciência já sabia sobre dependência com essa classe de medicamentos.

Daí não decorre que a boa ciência não tenha como ajudar a reduzir os danos. No Canadá, o segundo país mais afetado pela epidemia, já surgiu um movimento, que conta com a simpatia de autoridades da Colúmbia Britânica, que pede que o governo federal garanta o acesso de todos os dependentes a heroína com padrão de qualidade constante.

É verdade que essa demanda desafia nossas noções de legal e ilegal e o próprio papel do Estado, mas a explicação faz sentido. Overdoses são quase sempre um acidente, que ocorre porque o usuário desconhece o grau de pureza da droga que vai utilizar. Uma dose “normal” pode revelar-se fatal se a partida é mais pura. Caso a droga em circulação fosse padronizada, menos gente morreria.

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Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".