Foi notável como, assim que soube da vitória de Donald Trump, na semana passada, Jair Bolsonaro se transformou. Deixou de ser o homem que os serviçais flagravam chorando pelos cantos, a cada passo das investigações que o deixam mais perto de ser preso, e voltou a ser o velho bazófio e arrogante de seu palanque presidencial. Seu primeiro ato foi convidar-se para a posse de Trump e se julgar no direito de ter de volta o passaporte para viajar. "O STF", leia-se Alexandre de Moraes, "não terá a ousadia de negar. Quem vai contrariar o homem mais poderoso do mundo?", disse.
É a ideia que Bolsonaro faz do Brasil: um país tão babão diante de uma potência quanto ele, que se acapacha aos pés de alguém que considera seu superior —como se representasse alguma coisa para esse alguém. Lembra uma sequência do clássico "Casablanca", filme de 1943, em que Peter Lorre, fazendo um personagem viscoso e insignificante, pergunta a um inatingível Humphrey Bogart: "Você me despreza, não é?". E Bogart, sem sequer olhar para ele: "Se eu pensasse em você, provavelmente desprezaria". Há alguns anos, Bolsonaro viveu esse diálogo com Trump na Flórida. Ao gemer para Trump "eu te amo!", ouviu de volta: "Prazer em te ver".
Tal subserviência de Bolsonaro é uma ameaça até à soberania nacional, como se provou na sua reunião em 2022 com os embaixadores estrangeiros, que convocou para denunciar supostas fraudes do nosso sistema eleitoral. O que queria com aquilo? Desmoralizar a democracia brasileira aos olhos de quem, para ele, poderia interferir nela.
Bolsonaro é um covarde. Correr para trás das calças de Trump não o tornará reelegível nem o livrará da Polícia Federal, nos processos às vésperas de conclusão por desvio de joias da Presidência e tentativa de golpe de Estado. As grades o esperam.
Em 2017, outro ex-presidente brasileiro foi processado. Compareceu a todos os interrogatórios, foi condenado e teve a prisão decretada. No dia em que foram buscá-lo, não resistiu à prisão nem tentou fugir. Ficou à espera dos agentes. Não precisou ser conduzido à força. Portou-se como um homem.
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