quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Ruy Castro - Não é um país sério, FSP

 

Rio de Janeiro

Não é um país sério. Num planeta em que duas gerações já não sabem para o que serve uma caneta, seu sistema eleitoral ainda é do tempo em que, para votar, o cidadão usa o lápis com a ponta lambida e, talvez, borracha. As urnas, mesmo as eletrônicas, são devassadas —pessoas podem votar em grupo, trocando impressões sobre os candidatos. Além disso, não ficam voltadas contra a parede, possibilitando a um circunstante xeretar sobre o ombro do votante e dissuadi-lo da escolha.

Não é obrigatório ir à urna para votar. Como ninguém precisa ter seu título de eleitor conferido por mesários, passado de fiscal em fiscal e registrado numa lista de votação, pode mandar o office-boy votar por ele. Pode fazer isto também pelo correio —preenche o papel, coloca-o num envelope, passa-lhe a língua na cola e o joga na caixa da esquina. Pela informalidade do recurso, imagino que seja possível votar também por telefone, email ou WhatsApp.

Se for por correspondência, pode-se votar antecipadamente. Se, semanas depois, o fulano se arrepender, pode mandar novo voto anulando o anterior. A contagem dos votos antecipados começa a ser feita assim que eles param de chegar e é divulgada antes mesmo da votação nas urnas. Aliás, a divulgação dos resultados parciais não espera a votação terminar. O que é ótimo, porque permite ao eleitor, até então indeciso quanto ao vencedor, votar em quem estiver à frente para não desperdiçar seu voto.

É também um país com eleitores fascinantes. Imigrantes votam num xenófobo; mulheres, num misógino; pretos, num racista; libertários, num autoritário; moralistas, num imoral; e sinceros legalistas, num camarada que já anunciou que, se eleito, não vai largar o poder. E, se tudo isso deixar o eleitor ligeiramente nauseado, há uma solução simples e legal: ficar em casa, fritando bacon, e não ir votar.

Só vejo uma saída contra esse sistema precário, antidemocrático e sujeito a fraudes: virar a mesa. No próximo dia 6 de janeiro, quando o Congresso certificar os votos dos delegados, Joe Biden deveria fazer um discurso e instigar seus seguidores a ir quebrar o Capitólio.

A imagem mostra três pessoas em uma sala de votação, cada uma usando uma cabine de votação. À esquerda, um homem com um casaco azul e calças claras está votando. No centro, uma mulher com um moletom cinza e calças escuras também está na cabine. À direita, um homem com um casaco vermelho e calças claras completa a cena. As janelas ao fundo permitem a entrada de luz natural.
Eleitores votam na eleição presidencial em seção na Prefeitura de Hayward, no condado de Sawyer, no estado de Wisconsin (EUA) - Erica Dischino/REUTERS

Nenhum comentário: