quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Inflação maior e incerteza fiscal podem acelerar alta da Selic no futuro, dizem economistas, fsP

 Gustavo Soares

São Paulo

aumento de 0,5 ponto na taxa Selic aplicado pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central nesta quarta-feira (6) é reflexo de incertezas em relação à inflação, à política fiscal e ao cenário externo que podem levar a um ciclo de alta mais forte no futuro, segundo economistas consultados pela Folha.

A decisão unânime de elevar a taxa de juros básica de 10,75% para 11,25% ao ano veio em linha com as expectativas do mercado. O boletim Focus divulgado na segunda-feira (4) pela autarquia mostrou que uma alta dessa magnitude era esperada.

Analistas consideraram o comunicado similar ao anterior, de tom duro, destacando incertezas externas nos Estados Unidos, o aumento da projeção da inflação e a necessidade de o governo apresentar uma política fiscal crível.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto - Brendan McDermid/Reuters

Para Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head de pesquisa da XP, uma previsão de inflação mais elevada e a falta de indicação sobre a manutenção do ritmo de alta pelo comunicado podem levar ao mercado uma leitura de uma aceleração no aumento dos juros em dezembro.

"O mercado já precifica mais de 30% de chance de um aumento de 0,75 p.p. na próxima reunião e o comunicado em aberto pode dar mais força para essa leitura de uma possível e eventual aceleração", disse.

Após um novo ciclo de alta iniciado na reunião anterior, de setembro, a expectativa hoje é que a taxa básica de juros termine o ano em 11,75%, ou seja, mais uma alta de 0,5 ponto —a última reunião de 2024 ocorre em 11 de dezembro.

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"Podemos interpretar que o ciclo está mais na mão do Ministério da Fazenda com o corte de gastos públicos do que propriamente do BC, e, também olhando para um âmbito mais internacional, do ciclo de corte de juros do Fed [banco central dos EUA]", disse Matheus Spiess, analista da Empiricus.

O economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, diz que o cenário depende da trajetória da alta dos preços, mas há um sinal de continuidade dos ajustes no ritmo de 0,5 ponto nas próximas reuniões.

"As decisões seguem atreladas ao comportamento da inflação, em particular as respostas de política fiscal. Dado o cenário global e as incertezas fiscais locais, é possível que o BC continue subindo juros em um ritmo de 0,5 p.p. nas reuniões de dezembro e janeiro, encerrando o ciclo com uma alta de 0,25 p.p. em março de 2025", afirma.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse pelo X (ex-Twitter) que o Copom mantém a sabotagem à economia brasileira. "Irresponsabilidade total com um país que precisa e quer continuar crescendo".

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quarta que a rodada de reuniões com ministros sobre medidas de cortes de gastos foi concluída e que todos "estão muito conscientes da tarefa". O próximo passo, segundo Haddad, será uma interlocução com os presidentes da Câmara e do Senado.

A expectativa sobre o pacote fez o dólar fechar em forte queda de 1,23% a despeito da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. A moeda fechou cotada a R$ 5,675 após ter disparado durante o dia e alcançado R$ 5,86.

No Focus desta semana, os economistas também aumentaram a previsão para a inflação de 2024 pela quinta semana consecutiva, de 4,55% para 4,59%. A taxa supera o limite do teto da meta de 3% estabelecida pelo BC, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

No comunicado, o destaque ficou para o aumento da projeção da inflação para 2026, de 3,5% para 3,6%, acima da meta de 3%. Diante do novo cenário, a XP revisou a projeção da taxa Selic nesse ciclo de alta de 12% para 13,25%, com quatro aumentos seguidos de 0,5 ponto até 2025.

"O comunicado trouxe um Copom preocupado com a desancoragem das expectativas, mas ainda mais preocupado com a questão fiscal. A autoridade monetária foi bastante clara ao passar o recado de que, sem um programa de corte de gastos crível e de caráter estrutural, a política monetária deverá se manter dura", disse Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.

A decisão foi unânime entre os membros do colegiado, com Gabriel Galípolo –o próximo presidente do BC, indicado ao cargo por Lula– alinhado ao atual chefe da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.

"O BC vai continuar subindo juros, principalmente porque será importante, por parte do Galipolo, que assume o BC no ano que vem, não mostrar que ele é leniente com a inflação, mas que vai manter o arcabouço técnico de combate à inflação", disse Spiess, da Empiricus.

O aumento de juros em setembro foi o primeiro em mais de dois anos —em agosto de 2022, a taxa subiu de 13,25% para 13,75% ao ano. A Selic ficou um ano parada naquele patamar até o início do processo de flexibilização do aperto monetário em agosto do ano passado.

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