Trump gabaritou a prova de como se tornar um ditador fingindo respeitar a normalidade democrática. Apesar de processos e condenações na Justiça, o republicano bateu Kamala Harris não só no Colégio Eleitoral como no voto popular, assegurou o comando do Senado e da Câmara e poderá ampliar a influência conservadora na Suprema Corte (que já havia interferido na eleição ao conceder imunidade a ex-presidentes).
Com a surra nas urnas, Trump não precisou aprofundar as teorias de conspiração sobre fraudes usadas durante a campanha nem organizar mais uma invasão ao Capitólio, ato sem punição com que tentou reverter a derrota para Joe Biden, em 2020. Depois da votação que não deixou pedra sobre pedra, o sistema, como num passe de mágica, voltou a ser limpo e perfeito.
Tão perfeito que o vitorioso terá carta branca para exercer o poder. O "mandato sem precedentes" deverá incluir a antiga promessa da construção do muro na fronteira sul do país e uma nova, a deportação em massa de imigrantes, além da perseguição e eliminação de adversários políticos. Vingança pouca é bobagem.
Será a América para os americanos escolhidos. Elon Musk terá um lugar especial dentro do governo. Fazendo o quê, não se sabe. Com o emprego do X, o "homem mais rico do mundo" investiu pesado na campanha trumpista. Musk promoveu assembleias em estados-chave como a Pensilvânia e doou US$ 1 milhão por dia a eleitores que assinaram uma petição a favor da liberdade de expressão —a Justiça concordou com a compra de votos disfarçada.
No plano internacional, Trump irá trocar figurinhas com seus satélites autoritários e populistas instalados em outros países. Sobretudo com Putin. A Ucrânia poderá ser forçada a assinar uma trégua desvantajosa com a Rússia.
No Brasil —garantem os adivinhos da extrema direita— os ventos do norte vão pressionar o STF e fazer com que Bolsonaro se torne elegível para disputar as eleições presidenciais de 2026. Não levam em consideração que Musk, o comparsa de Trump, comprou briga com o Supremo brasileiro e perdeu.
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