Paulo Augusto Miranda
A busca pelo bem-estar e pela cura de doenças é constante na história da humanidade. Desde os primórdios, a medicina e o cuidado com a saúde estiveram entrelaçados com crenças e práticas místicas.
Em tempos ancestrais, sacerdotes e curandeiros detinham o conhecimento sobre ervas e rituais de cura, mesclando saber empírico com misticismo.
Figuras, como "médicos" do antigo Egito, que invocavam deuses para afastar doenças, e alquimistas medievais, que buscavam a pedra filosofal e o elixir da longa vida, ilustram a fase em que a medicina se confundia com magia e religião.
O cenário propiciava a disseminação do charlatanismo, prática de se apresentar como detentor de conhecimentos para obter vantagens, geralmente financeiras.
Um marco fundamental na história foi o movimento de separação entre a prática médica legítima e o charlatanismo.
Hipócrates, o pai da medicina, desempenhou papel crucial nesse processo, estabelecendo princípios éticos e científicos que norteiam a profissão até hoje. A partir de então, a medicina se distancia do misticismo e busca embasar as práticas em observações cuidadosas e no estudo do corpo humano.
Ao longo dos séculos, a medicina, impulsionada pela tecnologia, lança as bases para o desenvolvimento do método científico, que se tornaria a pedra angular da pesquisa médica.
A medicina baseada em evidências se consolidou nas últimas décadas a partir da sistematização da pesquisa e da análise crítica de dados, garantindo que os tratamentos oferecidos aos pacientes sejam eficazes e seguros.
O desenvolvimento da imprensa e, posteriormente, da internet democratizou o acesso à informação, abrindo possibilidades para a disseminação do conhecimento. No século 20, rádio e televisão ampliaram esse alcance, levando notícias de saúde a um público maior. Mas essa mesma acessibilidade criou um terreno fértil para a proliferação de informações falsas.
As redes sociais, com capacidade de viralizar conteúdos em segundos, amplificaram o fenômeno, permitindo que narrativas de saúde sem embasamento científico ganhassem proporções alarmantes. A ausência de filtros editoriais e a facilidade com que qualquer pessoa cria e compartilha conteúdo contribuem para a disseminação de informações falsas e pseudo-científicas.
O charlatanismo digital se aproveita da ânsia por soluções rápidas e milagrosas, explorando a vaidade e a insegurança das pessoas em relação à saúde e à aparência.
Práticas como a utilização de implantes hormonais manipulados com substâncias sem respaldo científico, o uso de esteroides anabolizantes para fins estéticos e de desempenho esportivo, a promoção de soroterapias milagrosas e até a defesa de desparasitações indiscriminadas ilustram o quão longe a imaginação de maus profissionais pode ir, impulsionando um mercado bilionário de produtos e serviços e, o que é mais grave, colocando em risco a saúde da população.
É fundamental que a sociedade esteja atenta aos perigos do charlatanismo digital e busque informações em fontes confiáveis, como sociedades médicas, órgãos governamentais e instituições de pesquisa reconhecidas.
A medicina baseada em evidências deve ser o farol que guia a busca por uma vida mais saudável e feliz. Somente assim poderemos construir um futuro em que ciência e ética prevaleçam sobre o charlatanismo e a desinformação.
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