Pela primeira vez em décadas, americanos de baixa renda deram preferência a um republicano nas eleições presidenciais. Pesquisas mostraram que, no quarto mais pobre do eleitorado, 50% votaram em Donald Trump, e 47% escolheram Kamala Harris. Há 16 anos, 64% dessa fatia havia votado em Barack Obama.
A mudança começou em 2016. Naquele ano, Hillary Clinton inscreveu na história a caricatura hostil de meio eleitorado de Trump como um "cesto de deploráveis" ("racistas, sexistas, homofóbicos, xenofóbicos", segundo ela, "irrecuperáveis"). Depois, fez um complemento, raramente lembrado, que explica muito sobre os apuros dos democratas.
Havia uma "outro cesto" de apoiadores de Trump, disse Hillary. "Pessoas que sentem que o governo as decepcionou, que a economia as decepcionou, que ninguém se importa com elas", descreveu. "E elas estão desesperadas por mudança. Na verdade, nem importa de onde venha."
Os democratas não quiseram perceber que os apelos de Trump seduziam os dois cestos de maneira parecida. Alienaram os "irrecuperáveis" e acabaram perdendo americanos frustrados que ouviam o magnata dizer que políticos progressistas se esforçavam para proteger minorias, mas não tinham um plano para eles.
O governo Joe Biden buscou suas correções de rota. Pôs em campo um plano de redução da inflação e deu um empurrão no mercado de trabalho. Os resultados foram considerados insuficientes por aqueles que se sentiam penalizados pelo passado recente.
A versão americana do "pobre de direita" existe, mesmo que muitos democratas tenham chegado até aqui sem entendê-la. Esse eleitor pode comprar o pacote completo de Trump, incluindo suas promessas divisionistas, ou só a ideia de dar poder a alguém que manifesta um espírito caótico compatível com sua raiva.
A política dos EUA passa por um momento muito mais complexo do que o retrato simplificado de que os democratas se tornaram representantes da elite. O partido tem uma votação consistente entre americanos miseráveis e de classe média, além do apoio de mais de 80% dos eleitores negros —"deixados para trás" há um punhado de séculos.
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