9.nov.2024 às 16h00
O que esperar da economia americana sob Donald Trump? Daron Acemoglu, um dos premiados com o Nobel de Economia deste ano, deu sua opinião em uma espécie de autoentrevista no X/Twitter, neste sábado (9).
Não haverá boas notícias para os trabalhadores. As ideias trumpistas sobre inteligência artificial vão prejudicar cidadãos, consumidores (que serão manipulados, como nas redes sociais) e setores da economia, por falta de regulamentação adequada.
A desregulamentação, na linha do que pensam grandes investidores e capitalistas de risco mais imprudentes do Vale do Silício, vai incentivar a automação. "Não vai se concretizar o potencial [da IA] como tecnologia de informação que pode ajudar os trabalhadores" (Acemoglu costuma defender intervenção governamental que induza o uso de tecnologia "pró-trabalho").
Trump deve colocar gente incapaz para regulamentar assuntos como educação, saúde, negócios online, tecnologia e serviços para o consumidor. Vai assim prejudicar uma economia que depende de regulação de alto nível, não de curas milagrosas ("snake oil"), a fim de manter seu padrão de inovação.
Trump terá a sorte de ver os bons efeitos da política econômica de Joe Biden, sem o ônus que pesou sobre o democrata (contribuiu para a inflação). Quais políticas? Incentivos e dinheiros do governo para pesquisa e produção de chips, transição energética e infraestrutura (obras que vão impulsionar a indústria). Tais iniciativas também vão melhorar salários na base da pirâmide.
Impostos de importação ("tarifas") maiores sobre produtos chineses não vão trazer empregos de volta. É improvável que Trump tribute bens de países aliados (o que de resto prejudicaria o crescimento, pois afeta cadeias de fornecimento para empresas americanas).
Em boa parte graças ao Fed, a inflação diminuiu. Os benefícios da política de Biden e da ação do banco central americano serão faturados por Trump. Mas tarifas elevam preços a curto prazo; a intervenção prometida por Trump no Fed pode realimentar a inflação.
Cortes de impostos vão ajudar grandes companhias e a Bolsa. Mesmo que isso eleve investimentos, grande parte deles irá para o setor de tecnologia e automação, os quais, desregulados, serão daninhos. Trump pode favorecer suas empresas prediletas, como as de energia e petróleo.
Trump é ameaça às instituições. Não quer dizer que a democracia vá acabar em quatro anos (embora tal cenário não possa ser descartado). Quer dizer que vai enfraquecer normas democráticas, aumentar a incerteza e a arbitrariedade das políticas públicas, aprofundar a polarização e solapar ainda mais a confiança em instituições, incluindo o Departamento de Justiça, que Trump quer transformar em meio de perseguição política.
Nada disso vai causar colapso econômico imediato. Mas, a médio prazo (uns dez anos), instituições fracas, incerteza elevada e baixa confiança em tribunais, contratos e partes vão cobrar seu preço em termos de investimento e eficiência, ainda mais em uma economia baseada em tecnologia complexa e avançada.
Sem mais inovação e produtividade, salários não aumentam. Se não se investe em mais tecnologia pró-trabalhador, renda e empregos estarão ameaçados. Se instituições importam, o programa de Trump terá um custo para a economia americana. O problema é que tais efeitos vão demorar para aparecer.
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