Por Roseann Kennedy e Iander Porcella (Broadcast)
O professor da FGV Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, critica o modelo de força-tarefa anunciado pelo secretário estadual de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, para investigar a execução de um delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Aeroporto de Guarulhos. Especialista na área, Alcadipani avalia que a união de esforços contra o crime organizado deveria envolver não só as polícias estaduais, mas também o Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal (PF), a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e, até mesmo, as Forças Armadas, se fosse necessário.
”Chama atenção esse modelo de força-tarefa, porque em uma força-tarefa geralmente você pressupõe que você vai haver pessoas de fora do governo do Estado. Claro que o Derrite manda apenas nas polícias do Estado, mas aí é que vemos a falta de capacidade de articulação entr Estado e governo federal”, avalia o professor à Coluna do Estadão/Broadcast. “Essa é nossa grande dificuldade. Governo federal e governo estadual não conseguem estabelecer um diálogo mínimo para a gente poder tentar resolver esse problema”, complementa.
Para Alcadipani, uma força-tarefa teria que se concentrar em ações do PCC em diversos Estados. “O objeto tem que ser maior, não uma investigação de um caso específico”. Ele considera que Derrite quis dar uma resposta rápida ao clamor da opinião pública em relação ao assassinato de Antonio Vinicius Lopes Gritzbach. O crime ocorreu na última sexta-feira, 8. No entanto, investigações como essa demoram, alerta o especialista.
O chefe do grupo será o número dois da Secretaria de Segurança Pública, o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, secretário-executivo da pasta. A Polícia Federal também abriu inquérito para investigar o caso.
Para você
Politicamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), estão em campos opostos, com divergências inclusive na agenda da segurança pública. O episódio do aeroporto é tratado como muito sensível no Palácio do Planalto e no Palácio dos Bandeirantes.
A ideia de federalizar o crime foi muito mal vista por autoridades paulistas. A proposta, revelada pela Coluna do Estadão, foi classificada como um “desserviço” e uma ofensa ao sistema de Justiça estadual porque “o Estado de São Paulo tem plena condição e estrutura para enfrentar o caso”.
Guilherme Derrite cancelou uma viagem que faria a Nova York neste domingo, 10, para participar de um evento, como revelou a Coluna do Estadão, após repercussão negativa de uma possível ausência sua no momento em que o Estado lida com os desdobramentos do caso de assassinato do delator.
Confira a composição da Força Tarefa anunciada pelo governo de São Paulo
A composição da força-tarefa será a seguinte:
I. Osvaldo Nico Gonçalves – Secretário Executivo da Segurança Pública
II. Caetano Paulo Filho – Delegado de Polícia, Diretor do DIPOL
III. Ivalda Oliveira Aleixo – Delegada de Polícia, Diretora do DHPP
IV. Pedro Luís de Souza Lopes – Coronel PM, Chefe do Centro de Inteligência da Polícia Militar,
V. Fábio Sérgio do Amaral – Coronel PM, Corregedor da Polícia Militar
VI. Karin Kawakami de Vicente – Perita Criminal de Classe Especial
O crime
Antonio Vinicius Lopes Gritzbach estava no centro de uma das maiores investigações já feitas sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo, como mostrou o Estadão. Ele era delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro da facção.
Uma dupla, com dois fuzis, realizou pelo menos 27 disparos, conforme a perícia. Gritzbach foi atingido por dez balas em várias partes do corpo, como cabeça, tórax e braços.
Gritzbach já havia sido alvo de um atentado na véspera do Natal de 2023, quando um tiro de fuzil foi disparado contra a janela do apartamento onde mora, no Tatuapé, na zona leste paulistana, mas o autor errou o alvo. Segundo o delator, entre os bandidos circulava a informação de que sua cabeça valia R$ 3 milhões.
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