terça-feira, 5 de novembro de 2024

Poucos votos terão grandes repercussões nos EUA, editorial FSP

 

Kamala Harris durante um comício de campanha em 31 de outubro e Donald Trump em comício em 1º de novembro de 2024 - David Becker e Kamil Krzaczynski/AFP

Mais de 240 milhões de pessoas estão aptas a eleger quem presidirá os Estados Unidos pelos próximos quatro anos. Mais de 160 milhões de escrutínios serão apurados a partir desta terça-feira (5) caso o comparecimento, facultativo, se assemelhe ao de 2020.

Apesar das somas demográficas multimilionárias, uma fração de algumas dezenas de milhares de votos deverá decidir, uma vez mais, o comando da mais longeva democracia do planeta e da maior potência econômica e militar.

confronto apertadíssimo entre democratas e republicanos, fato recorrente nas últimas décadas, e o modelo de escolha estadual transformam alguns condados de estados como Pensilvânia, Michigan e Wisconsin em potenciais fiéis da balança entre Kamala Harris e Donald Trump.

Não se trata de diferença trivial entre desfechos. A depender de para onde caminhe o pêndulo da eleição dos EUA, as consequências para a política doméstica e sobretudo as repercussões internacionais serão diversas.

Na economia, a restrição ao comércio global, em especial mediante a imposição de barreiras contra interesses chineses, perpassa as duas candidaturas.

PUBLICIDADE

A intolerância à imigração, embora se mantenha como marca do trumpismo, deixou de encontrar nos democratas um opositor frontal. Harris promete dificultar a entrada de estrangeiros.

Ambos os postulantes também se importam pouco com déficits e endividamento do governo federal. Esse problema deve se agravar seja com o republicano, pelo corte de impostos, ou com a sua adversária, pela expansão de gastos. Fechar a economia, inibir a imigração e incentivar a demanda com a política fiscal é uma combinação que atiça a inflação.

Uma vitória de Kamala Harris manteria o curso básico da administração de Joe Biden na aliança transatlântica com as democracias europeias e no apoio financeiro e bélico à Ucrânia e a Israel.

Nesse tema repousa o mais significativo contraste com Donald Trump. O republicano é na teoria um isolacionista, que deseja recolher as garras de Washington para aquém das fronteiras.

Na prática o ex-presidente, reinstalado na Casa Branca, faria aumentar sobremaneira a confusão e a incerteza geopolítica num mundo já conflagrado. A agenda da transição energética pela descarbonização negociada multilateralmente seria prejudicada.

Além disso, um hipotético segundo mandato de Trump, o derradeiro permitido pela Constituição, teria também a inconveniência de devolver ao palco político mais destacado do planeta um líder que desrespeita, sabota e ataca a institucionalidade, além de mentir compulsivamente.

Não que o desafio tenha a capacidade de ameaçar a subsistência da democracia em seu berço moderno.

A federação e os outros sistemas de freios e contrapesos dos EUA são enraizados o suficiente para resistir mais quatro anos a um governante hostil, se esse for o veredito das urnas.

editoriais@grupofolha.com.br

Nenhum comentário: