Logo antes da eleição presidencial nos Estados Unidos, a revista The Economist questionou: será que os "bros" (homens jovens) de Donald Trump comparecerão para votar? Poucos dias depois, descobrimos que sim, eles votaram.
Esta foi uma eleição surpreendente por pelo menos dois motivos: primeiro, nenhum instituto de pesquisa se arriscava a prever o vencedor; mas a contagem de votos revelou um apoio desproporcional ao candidato republicano.
Os motivos para esse resultado estão sendo analisados agora. Eleitores —não apenas brancos— optaram por Trump ao sentirem a perda de poder de compra. Mas há um aspecto subestimado: o da masculinidade. Ou, como descreveu a Economist, os "bros".
Durante a campanha, o nome mais mencionado pela imprensa, além do próprio candidato republicano, foi o do bilionário Elon Musk. No entanto ele não estava presente no palco durante os discursos de vitória de Trump e seu vice. A única pessoa fora do círculo familiar dos eleitos era Dana White, presidente do UFC.
Não apenas isso: Trump interrompeu seu discurso para convidar White ao microfone. E o que ele disse? Agradeceu aos "bros".
Existem muitos fatores que explicam a vitória expressiva de Trump, mas surpreende a falta de análise no Brasil sobre a influência de Dana White no resultado das urnas. Isso reflete um fenômeno maior: a perda de influência da mídia tradicional na condução dos debates sociais.
Mas vamos por partes. Quem é Dana White? Ele é o principal responsável por popularizar o MMA (artes marciais mistas). Cidades ao redor do mundo competem (e pagam) para sediar eventos do UFC, a organização presidida por White. E quem é o público desse esporte? Exatamente, os "bros" —homens de 18 a 45 anos.
Esse esporte surgiu sob perseguição. No início dos anos 2000, quase nenhum estado dos EUA permitia eventos do UFC. O então senador republicano John McCain, derrotado por Obama na campanha presidencial de 2008, descreveu o UFC como uma "rinha de galo humana", o que forçou a organização a buscar meios alternativos de comunicação com seu público, fora da mídia tradicional.
Essa foi a contribuição de White nesta eleição: conectar Trump a uma rede de produtores independentes de conteúdo com milhões de seguidores nas redes sociais. Foram esses influenciadores que White agradeceu durante a cerimônia da vitória de Trump.
Vale destacar Joe Rogan. Além de comandar o podcast mais popular do mundo, ele é comentarista do UFC e historicamente um apoiador de candidatos democratas.
Trump gravou quase três horas de conversa com Rogan. Na ocasião, perguntou a Rogan sobre sua relação com White. "Ele é provavelmente o motivo de você (Trump) estar aqui", o apresentador respondeu. A campanha democrata decidiu que Kamala Harris não deveria participar do programa de Rogan. Na véspera da eleição, Rogan declarou apoio a Trump.
Há dez anos, o cristianismo evangélico era considerado pelo jornalismo tradicional como um assunto menor. O mesmo acontece hoje com os esportes de combate. E há mais ali do que violência e brutalidade.
Em uma geração, a identidade masculina passou da de "provedor" para a de "opressor", de trabalhador CLT a motorista de Uber. Não é um tema trivial, mas precisamos falar sobre os "bros".
LINK PRESENTE: Gostou deste
Nenhum comentário:
Postar um comentário