A linguística tem dois ramos de estudo, que foram nomeados pelo grande linguista suíço Ferdinand de Saussure em um clássico póstumo de 1916: "sincrônico" e "diacrônico". Sincrônico em grego significa "ao mesmo tempo". Você pode estudar de que modo uma língua como o português funciona em dado momento, como seu proeminente e adorável falar pelo nariz, ou o uso frequente de diminutivos como "cachorrinho" (holandeses, escoceses e italianos fazem coisas semelhantes).
Diacrônico, em grego, é "através do tempo", como na linguística histórica —por exemplo, a história de como o português se afastou do latim, ou como adquiriu cerca de 800 palavras árabes. Saussure contribuiu de maneira notável para a linguística sincrônica e a diacrônica. Ele ressaltou sincronicamente que, a qualquer momento, uma língua determina contrastes com outras possibilidades —o tempo presente versus futuro em português, ou um cachorro pequeno versus um grande.
Muitas outras das 7.000 línguas do mundo não marcam essas distinções particulares, usando outras. E, na linguística histórica, Saussure, no início de sua carreira, previu a existência de um som gutural H no "proto-indo-europeu". Os outros linguistas zombaram. Mas a descoberta, muitas décadas depois, de antigos textos escritos em hitita deu a ele, postumamente, a última risada.
Inspirada por Saussure, muitas vezes pensei que há um paralelo entre a linguística e meu campo principal, a economia. Agora, reinspirada por uma série brilhante de vídeos do linguista John McWhorter, sei que estou certa.
Assim como a linguística, a economia tem ramos sincrônicos e diacrônicos. O que é chamado na Universidade de Chicago de "teoria dos preços", por exemplo, é sincrônico. Ótimo. Escrevi livros inteiros usando isso, e você pode encontrar um texto a respeito na minha página da web, grátis, grátis, grátis. Mas o ponto aqui é que entender a economia, assim como entender a linguagem, também requer um ramo diacrônico —isto é, história econômica.
Tudo bem. Por que estou lhe contando esse fato bastante óbvio?
Porque os economistas em geral são totalmente ignorantes da história econômica. Portanto eles dependem de contos de fadas aprendidos na escola ou, pior, de compromissos ideológicos como o marxismo, que dependem de diacronia ultrapassada (ou, neste caso, também sincronia ultrapassada). Assim como Noam Chomsky, um grande linguista e um homem terrível, eles acham que a sincronia é suficiente.
Não, não é. Em economia, você pode muito bem entender, digamos, o papel do sistema de preços na alocação de bens. Que bom. Isso o coloca muito à frente de Thomas Piketty ou Mariana Mazzucato. Mas, se você não entende que o sistema de preços tem feito essa alocação desde as cavernas, sua cabeça estará cheia de contos de fadas sobre a "ascensão do capitalismo" ou "os pré-requisitos para o crescimento econômico" ou "a armadilha da renda média".
Se isso resultasse apenas em má economia acadêmica, eu choraria, mas você não precisa. O resultado da ignorância histórica, porém, é uma péssima política econômica.
Um grande exemplo, entre centenas, é acreditar que o acúmulo de capital fez o mundo moderno. Não. As políticas então empobrecem as pessoas.
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