quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Mauricio Stycer - Correção de rumos, FSP

 A Globo anunciou nesta semana uma reformulação significativa nos planos de assinatura da sua plataforma de streaming. Os planos mudaram de nomes, estão sendo oferecidos com preços promocionais e, mais importante, introduziram uma nova categoria, com publicidade.

Com algum atraso, o Globoplay segue iniciativas dos gigantes americanos NetflixDisneyAmazon e Max, que já oferecem planos de assinatura desse tipo desde o final de 2022. Num mercado muito competitivo e pouco lucrativo, esse modelo tem ampliado as possibilidades de novas receitas.

Logo e display do Globoplay, serviço de streaming da rede Globo
Logo e display do Globoplay, serviço de streaming da rede Globo - Divulgação

O assinante paga menos pelo plano, mas é obrigado a consumir anúncios antes e, às vezes, durante a exibição dos programas. É streaming, mas parece a velha e boa televisão.

Os planos de assinaturas com publicidade são um sinal de correção de rota das plataformas. Após um período de muita empolgação, investimentos sem limites e pouco retorno, vieram os cortes de pessoal, revisão de planos e enxugamento de orçamentos.

No recém-lançado livro "A Globo - Hegemonia: 1965-1984", primeiro volume de uma trilogia sobre os 60 anos da emissora, o jornalista Ernesto Rodrigues relata os resultados de uma consultoria da Accenture contratada pela família Marinho em 2018.

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"A principal recomendação era a de, aos poucos, desembarcar da TV aberta, considerada pelos consultores um ‘dying business’, negócio destinado à bancarrota", escreve. Em agosto de 2022, "passados quatro anos e uma sucessão de ‘business plans’ do Globoplay incapazes de produzir o desejado ‘break even point’, indicador de equilíbrio entre despesa e receita", o CEO do grupo, Jorge Nóbrega, já havia sido afastado e substituído por Paulo Marinho, neto do fundador da Globo. "As recomendações da Accenture, a essa altura, já tinham sido esquecidas", escreve Rodrigues.

"O Globoplay, embora crescendo, não conquistava assinantes em número suficiente para começar a dar lucro antes de 2025. A Globosat e seus 26 canais de assinatura, vítimas tecnológicas impotentes da entrada no mercado da Netflix, Amazon e outros gigantes do streaming, também perdiam assinantes sem parar", registra. Contrariando muitas expectativas e anúncios fúnebres precipitados, o único negócio audiovisual lucrativo da empresa era a TV Globo, aberta, "ainda que os números fossem incomparavelmente menores que os dos tempos hegemônicos da emissora".

Rodrigues relata que Paulo Marinho, ao assumir a presidência do grupo, comunicou a Amauri Soares, diretor-geral da Globo, que os acionistas tinham decidido fazer uma correção de rumos: "Vamos recolocar a TV Globo no centro, acabar com essa história de ‘dying business’, parar com essa divisão entre futuro e passado".

Não tem sido fácil a tarefa. Um exemplo banal da confusão que ainda ocorre é visível hoje. No final de outubro, a Globo começou a exibir na TV aberta uma série de ficção sobre a história da dupla Chitãozinho & Xororó, "As Aventuras de José e Durval", de Hugo Prata, em oito episódios, oferecida originalmente, desde agosto de 2023, pelo Globoplay.

Praticamente ao mesmo tempo, a plataforma de streaming do grupo estreou uma série documental inédita, "Chitãozinho & Xororó, Uma História de Sucesso", em cinco episódios, dirigida por Emília Silveira. Em tese, a empresa busca agradar a públicos diferentes, mas a impressão que passa é de falta de coordenação e saturação de conteúdo.

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